Casarões históricos escondem violência contra homossexuais

Modelo subjetivo de seleção em repúblicas federais e cultura machista acentuam o problema

Por: Luciene Câmara

Ouro Preto, na região Central de Minas, é uma cidade que valoriza a tradição de seus casarões históricos e das repúblicas estudantis, criadas para acolher alunos das antigas faculdades de engenharia. Hoje, mesmo com uma diversidade de público e de cursos, muito do passado se mantém, como o modelo de gestão das residências federais, onde critérios subjetivos se sobrepõem ao socioeconômico na escolha de quem vai ocupar uma vaga, que é gratuita. Esse cenário favorece uma cultura homofóbica e exclusivista, fazendo multiplicarem os casos de humilhação e violência.

A reportagem foi até a cidade e ouviu depoimentos de quatro ex-alunos que dizem ter convivido com a homofobia. A Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) admite que esse tipo de situação deve ocorrer, assim como em outras universidades. Porém, professores e estudantes argumentam que a cultura machista e de exaltação daqueles no comando das repúblicas é muito forte no município, o que, aliado ao sistema de seleção das repúblicas federais, produz uma exclusão social mais intensa.

Marcelo Rocco, que é professor da Universidade Federal de São João del Rei e ex-aluno da Ufop, afirma que a cultura da homofobia e dos estupros em repúblicas – mostrados por O TEMPO na última semana – está arraigada na cidade. Rocco cursou artes cênicas entre 2002 e 2006 e conta que, já no dia de matrícula, os moradores das repúblicas passaram de fila em fila selecionando quem iria “batalhar” por uma vaga nas casas. “Eles só aceitavam quem era da engenharia. Quando ouviam que o estudante era de teatro, diziam apenas ‘obrigado’ e ‘saiam”, relatou.

Em 2005, Rocco passou por outra situação humilhante, dessa vez em um restaurante universitário. Ao pedir para trocar a carne de seu prato porque havia muita gordura, ele disse que o estudante, que ganhava bolsa para trabalhar no local, respondeu: “Sai fora, seu veado”. “Fiquei tão nervoso que parti para cima dele. Depois, tive medo de ser perseguido”.

O professor de arquitetura e urbanismo da Ufop Maurício Leonard relata que já ouviu vários desabafos de alunos. “Temos jovens vindos do interior, muito carentes, que sofrem discriminação por sua condição social e também por se assumirem homossexuais. Eles vão se abrigar nas repúblicas e são discriminados. Claro que não tem homofobia só aqui, mas Ouro Preto tem traços muito tradicionais. E é pior dentro da universidade e das repúblicas federais por serem espaços de promoção da democracia e dos direitos humanos”.

Fonte: O Tempo

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