Carta aberta ao Deputado Jean Wyllys

Prezado Deputado Federal  Jean Wyllys,

 

Esta carta é motivada pelo seu posicionamento em relação ao seriado Sexo & As Negas, da Rede Globo.

 

No,  Pretas Candangas 

 

Antes de mais nada, gostaríamos de externar nossa extrema decepção com seu posicionamento de pouca solidariedade ao se referir a “setores do movimento negro” , que interpretamos aqui como especialmente mulheres negras com a expressão “sem discernimento”.

Não entendemos em que momento se revoltar com essa repetição desonesta, baixa e desumana de padrões excludentes e que quer nos colocar no lugar de sempre: mulata boazuda disponível para o sexo, revela falta de discernimento.

Será que essa associação quase “natural” que se faz das mulheres, especialmente as negras, à falta de raciocínio e elaboração atingiu até um dos poucos parlamentares em que sentíamos alguma confiança? Essa postura em relação às mulheres negras nos desapontou e incomodou profundamente”

Será, Jean, que garantir emprego de atrizes e atores negrxs em papéis que em nada mudam o padrão e a representação de corpos negros na televisão é motivo de agradecimento sem crítica?

É certo que as pessoas negras que sobrevivem da arte em nosso país precisam de emprego, de oportunidades e ter o que comer. Mas é mais certo ainda, que sabemos que existem mil outras formas de se garantir esse acesso. Aqui contamos com espaços de reconhecimento e pertença como o Bando de Teatro Olodum, que nos revela ano após ano, artistas de enorme capacidade técnica, aliada a um forte discurso de empoderamento do povo negro. Isso sim, é motivo de louvor.

É lastimável que tenhamos, mais uma vez, que ouvir ecoar os ensinamentos de Bantu Steve Biko, de que “estamos por nossa própria conta”. Se é verdade que não encontraremos espaços de solidariedade entre as mulheres brancas, nem entre os homens negros, o que nos resta?

O que te leva a se posicionar de forma tão contundente, agressiva e sem a menor generosidade em plena semana da Consciência Negra?

Para ter alguma chance de continuarmos acreditando que podemos ter como pessoas aliadas homens como você, que mesmo dentro de toda ciranda da exclusão , ainda se valem do privilégio de ser homens, gostaríamos de pedir uma retratação urgente e mais do que necessária. Para que aprendamos com as diferenças, mas para que elas não nos violentem.

O poder de determinar o que agride mulheres negras, é, deve ser e sempre será de mulheres negras.

Sem mais para o momento,

Pretas Candangas.

 

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