Jornalista Flávia Oliveira fala sobre racismo e oportunidades

Conferência mostrou que compartilhar oportunidades é arma contra o racismo

Do Correio Nagô 

Foto: Marta Azevedo

“Estiquem sempre a mão à frente para absorver conhecimentos de quem está adiante, mas não esqueçam de esticar a outra para trás para trazer outras pessoas para a rede de relacionamentos e oportunidades”. Esse foi o conselho dado pela jornalista Flávia Oliveira (O Globo e Globo News) aos cerca de cem participantes do Summit 2015, encontro de ex-integrantes de programas de intercâmbio promovidos pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Chamados de Alumni, os ex-intercambistas de 22 estados e mais o Distrito Federal estiveram reunidos entre 12 e 15 de agosto, em um hotel em Brasília-DF para troca de experiências e atualizações em relação aos programas da Embaixada. A conferência de Flávia Oliveira, que também participou de um programa de intercâmbio profissional nos Estados Unidos, em 2002, aconteceu na manhã do dia 13, via Skype, e tratou sobre assuntos como as relações raciais no Brasil e nos Estados Unidos e as oportunidades como caminhos para aqueles que, como ela, nasceram em uma família pobre.

“Sempre me interessei por temas econômicos e sociais, não somente pela histórica desigualdade brasileira, mas também pela minha própria história de vida”, disse. Flávia Oliveira nasceu em Irajá, subúrbio carioca, em uma família cujos pais tiveram pouca escolaridade. Concluiu o curso técnico na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) e a graduação em Jornalismo na Universidade Federal Fluminense, em 1993. Ela contou que, mesmo sendo uma das poucas negras naquele curso, se sentiu acolhida, algo raro na sua trajetória pessoal já que, mesmo no ambiente pobre do subúrbio, as ofensas raciais eram presentes. “Mesmo entre os pobres, quando se quer ofender, se utiliza apelidos agressivos e racistas, relacionados aos seus traços físicos, como o nariz e o cabelo. A beleza jamais tinha feito parte do meu cardápio de atributos. Sempre fui considerada uma pessoa legal, amiga, inteligente, bacana. Mas nunca uma mulher bonita. Na universidade, fui considerada, pela primeira vez, uma mulher bonita”, relatou.

Além de abordar sua experiência nos Estados Unidos, em 2002 (apenas um ano após o atentado às Torres Gêmeas), quando aprendeu mais sobre os conflitos étnicos existentes e o avanço na luta pelos direitos civis (no Brasil, as ações afirmativas só seriam implementadas um ano depois da sua viagem), a jornalista dividiu com os ‘alumini’ alguns casos de discriminação que sofreu ao longo da trajetória profissional. “Gostaria de ter tido uma família mais consciente, que me preparasse. Minha consciência racial foi construída ao longo do tempo, à medida que ia sentido na pele”. Fatos que não a desanimou, ao contrário, fortaleceu sua disposição a realizar seu trabalho com competência, garantindo hoje um lugar de destaque no jornalismo brasileiro.

Flávia Oliveira integra a equipe do Jornal O Globo desde 1994, atualmente assinando uma coluna na editoria de Sociedade, além de ser comentarista de Economia do Estúdio i, telejornal da Globo News, desde 2007. A jornalista também é membro do Conselho da Cidade do Rio de Janeiro, que debate o plano estratégico do municipal. “O racismo se combate com discursos, atitudes e, acima de tudo, se colocando como pessoa negra, que merece respeito”.  Leia coluna de Flávia Oliveira aqui

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Reprodução/CORREIO NAGÔ

 

A jornalista mostrou um poster com o lendário discurso de Martin Luther King “I have a dream”: inspiração e referência.

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Reprodução/ CORREIO NAGÔ

Alumni Day – o Summit 2015, com o tema Mentes em Movimento, possibilitou o fortalecimento das redes de intercambistas para atividades voluntárias. Estimulados pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, os diversos grupos de alummni realizam atividades sociais (como oficinas literárias, aulas de inglês, performance artísticas, doações, arrecadações etc) como forma de socializar e dividir com suas comunidades os conhecimentos adquiridos nas viagens. O próximo Alumni Day acontece no dia 29 de agosto em 24 cidades brasileiras. “É preciso pensar global e agir local”, lembrou aos jovens o Ministro Conselheiro da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Andrew Bowen, durante abertura do encontro.

 

O jornalista André Santana participou do Summit 2015 a convite da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil

 

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