Jornalista negra relata caso de racismo em supermercado de BH

Ela afirma ter sido humilhada por segurança em entrada de loja.
PM não considerou caso injúria racial em ocorrência.

no G1

Após se sentir ofendida e humilhada com a atitude de um segurança na entrada de um supermercado em Belo Horizonte, a jornalista mineira Etiene Martins relatou o ocorrido na internet, e o caso ganhou repercussão nesta terça-feira (5). (Veja no fim da reportagem o relato completo de Etiene).

Ao chegar ao “Dia Supermercado”, localizado na Rua da Bahia, no Centro da capital mineira, Etiene, que é negra, afirmou que perguntou ao segurança onde era a entrada do estabelecimento. Ela diz que recebeu uma resposta em tom agressivo que deveria colocar a bolsa no guarda-volumes. Mas a jornalista contou que viu outras pessoas com bolsas dentro do supermercado. Etiene afirma que, já iniciado o clima tenso, ouviu do homem: “é esse tipo de gente que rouba aqui todos os dias”.

A jornalista considerou o episódio como um ato de racismo e de discriminação praticado pelo homem. Ela acionou a Polícia Militar, que não registrou a ocorrência como injúria racial.  Para a corporação foi um caso de “outras infrações contra a pessoa”. O G1 questionou à PM qual foi o critério adotado para o registro da ocorrência e aguarda retorno.

“Dá vontade de chorar. Como é que a gente pode viver em uma sociedade que a maior parte da população é negra e ainda passamos numa situação desta”, desabafou Etiene. Ela, que é militante do movimento negro, disse ao G1 que foi vítima de um ato de racismo direto.  A jornalista afirmou que pretende levar o caso ao Ministério Público.

A Polícia Civil informou que o caso esta sob responsabilidade da delegada Cláudia da Proença Marra e que ela vai ouvir os envolvidos. Ainda de acordo com a polícia, se julgar necessário, Cláudia pode classificar o inquérito como injúria racial.

G1 não localizou o segurança envolvido. No boletim de ocorrência, ele alegou que orientou a jornalista a não entrar no supermercado com a mochila e disse também não ter gritado com ela.

O supermercado “Dia” informou, por meio de nota, que o segurança foi “desligado de suas funções”. O supermercado ainda lamentou o ocorrido e afirmou “que não compactua com qualquer tipo de destrato aos clientes”.

“É uma humilhação muito grande a pessoa suspeitar de você por causa da sua cor”, concluiu Etiene.

Relato na íntegra publicado por Etiene no Facebook

“Hoje descobri que sou o tipo de gente que rouba o DIA Supermercado!

Ao passar na rua da Bahia avistei um supermercado novo e resolvi entrar para comprar duas lâmpadas. Quando cheguei na porta fiquei em dúvida e perguntei ao segurança onde era a entrada já que de um lado havia uma roleta e do outro os caixas. O segurança que se chama Nivaldo olhou pra mim com seus olhos azuis de cima abaixo e gritou agressivamente que era para eu colocar a minha bolsa no guarda volume, o supermercado parou, funcionários e clientes voltaram a atenção para nós (sempre pensei que tiraria de letra uma situação dessas, mas queria que o chão se abrisse pra eu pular dentro). Eu respondi que não foi essa a pergunta que o fiz, e o perguntei porque que eu deveria guardar minha bolsa já que todas as mulheres que os meus olhos alcançavam no interior da loja estavam com suas respectivas bolsas. Ele me perguntou em alto e em bom som se eu não sabia ler apontando para um painel que estava na parede com mais de 50 frases e uma delas dizia: Proibida a entrada com bolsas, sacolas e mochilas. Nisso um outro cliente passou a roleta com bolsa e entrou na loja sem que o segurança o abordasse. Rodei a roleta e o segurança tirou o cassetete da cintura para me intimidar, mesmo com medo perguntei a ele se ele achava que eu iria roubar a loja. Ele olhou pra mim e falou bem alto “é esse tipo de gente que rouba aqui todos os dias”.

Pensei em virar as minhas costas e ir embora, mas fui até a encarregada da loja que se chama Luciane e relatei o ocorrido a ela e disse que ele me constrangeu e me ameaçou com o cassetete. Ela me disse que isso já havia ocorrido outras vezes e que ela só estava esperando outra pessoa reclamar para pedir a substituição do mesmo. Aí não aguentei. Solução da história fomos parar na delegacia eu e ela para fazer um B.O. de constrangimento, calúnia e ameaça, tudo isso levou três horas e meia.

Descobri hoje que jornalista e publicitária é o tipo de gente que rouba o DIA Supermercado. ‪#‎nenhumDIAéDIAderacismo‬.”

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