As mulheres cuidam dos filhos, trabalham mais e ganham menos

Estudo denuncia uma crise oculta de assistência da qual crianças e mulheres são vítimas

35,5 milhões de menores de 5 anos sofrem carência de cuidados

Por ALEJANDRA AGUD, do El Pais

As mulheres do mundo passam mais tempo do que os homens em atividades domésticas não remuneradas, principalmente no cuidado com os filhos. Até dez anos mais de sua vida, como revela a pesquisa Trabalho de Mulher: Mães, Crianças e a Crise na Assistência à Infância, realizada pela think-tank britânica Overseas Development Institute (ODI). Mas as mães também atuam no mercado de trabalho formal para sustentar suas famílias, o que se traduz em uma falta de tempo que afeta sua qualidade de vida e bem-estar, e também suas crianças. Pelo menos 35,5 milhões de menores de cinco anos passam mais de uma hora por dia sozinhos ou sob a supervisão de outra criança com menos de 10 anos, segundo o estudo. “Isso não reflete uma falta de amor pela parte de seus pais, mas sim uma crise mundial de assistência à infância que atinge em cheio os mais pobres”, ressaltam os autores.

A história de Elizabeth López resume todas essas (e mais) desigualdades: de gênero, econômica, de tempo e de oportunidades. Ela cuidava de seus cinco filhos na Bolívia quando, em 2004, decidiu emigrar em busca de um trabalho melhor remunerado que o de costureira, que tinha em seu país, e assim poder sustentar a família. “Opai deles era muito machista. Ficava bêbado e nos expulsava de casa”, conta essa mulher de 43 anos. Em julho chegou a Madri, depois de uma primeira tentativa na França, na qual acabou em um centro de detenção e depois deportada. “Vim para poder mandar dinheiro para eles. Vivíamos em uma rua de terra, junto de um barranco, e quando chovia, tudo ficava alagado”, recorda. Na época, sua filha mais nova tinha seis anos.

“Eles ficaram em La Paz”. A decisão foi tão difícil que ainda magoa Elisabeth. Várias vezes, ela interrompe seu relato para chorar. “Desculpe, senhorita”, recompõe-se. “Eu ligava para eles todos os dias e cantava para eles. Eu os acordava e dizia para irem para a escola. Mas aconteceram muitas coisas ruins e eu não estava lá. Tenho 43 anos, não tenho amigas e não consigo sorrir. Sinto-me culpada”, consegue contar. Mas com a parte do salário obtido em diferentes trabalhos como empregada doméstica que Elisabeth envia aos filhos, eles conseguiram mudar de casa e pagar os estudos universitários. “O mais velho estudou Farmácia e o menor está fazendo Medicina”, diz.

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