Americanos recorrem a DNA para provar raízes africanas

Os negros ricos americanos redescobriram a África. Com um exame de DNA debaixo dos braços, muitos estão buscando suas raízes históricas, conseguindo dupla cidadania, fundando escolas, ONGs, financiando projetos sociais e até sendo nomeados chefes tribais.

O ator Isaiah Washington, do seriado de TV Grey”s Anatomy, é um dos mais entusiasmados. Um teste de DNA feito em 2005 revelou que ele é descendente da tribo mende, gene que lhe rendeu a cidadania de Serra Leoa. Desde então, ele foi nomeado chefe de um vilarejo, criou uma fundação que já investiu US$ 1 milhão na construção de escolas, hospitais e na restauração de prédios históricos. “Se utilizarmos nossa capacidade financeira para ajudar esses países, daremos algum sentido às nossas raízes”, diz o ator. “Minha verdadeira família está em Serra Leoa.”

O historiador Henry Gates, ativista e professor de estudos afro-americanos da Universidade Harvard, foi um dos idealizadores de uma série de documentários da rede de TV pública PBS, em 2006. A produção reuniu um time de celebridades negras dos EUA que se submeteram a um teste de DNA para conhecer suas origens.

A atriz Whoopi Goldberg, os atores Morgan Freeman e Don Cheadle, a cantora Tina Turner e a apresentadora Oprah Winfrey foram alguns dos personagens. Oprah, por exemplo, descobriu que tem um pé na tribo kpelle, da Libéria. No ano seguinte, ela foi ao continente e construiu uma escola para meninas na África do Sul. O ator Chris Tucker, que descobriu ser descendente dos mbundus, de Angola, também viajou para a África em 2007 e teve uma recepção de rei em um vilarejo perdido no território angolano.

A moda atingiu também o mundo acadêmico. O geneticista Rick Kittles, da Universidade de Chicago, que coordena a fundação African Ancestry, afirma que já testou o DNA de 15 mil negros americanos. Os resultados são comparados com um banco de dados que tem 25 mil códigos genéticos de tribos e povos africanos.

Bruce Jackson, que dirige um projeto semelhante na Universidade de Massachusetts, afirma que a base de dados ainda é pequena e muitos exames não permitem cravar uma origem exata. Mesmo assim, a procura por testes de DNA é tanta que seu programa só aceita análises para daqui a dois anos.

TERCEIRA ONDA

O primeiro descobrimento da África por parte dos EUA foi no início do século 19, quando ex-escravos americanos foram encorajados a fazer o caminho de volta para o continente e fundaram a Libéria, em 1847. O segundo retorno às raízes foi o movimento negro dos anos 60, a luta pela igualdade civil e a difusão do black power. Segundo especialistas, a terceira onda africanista é resultado da conjunção de dois fatores: a presidência de Barack Obama, descendente de quenianos, e a estabilidade de muitos países africanos.

Anthony Archer, cientista político da Universidade do Estado da Califórnia, lançou no ano passado uma cruzada para convencer governos africanos a relaxar os requisitos para obtenção de cidadania.

A dupla cidadania facilitaria a vida dos negros americanos, que teriam direitos garantidos nos dois lados do Atlântico, podendo adquirir imóveis e constituir empresas nos EUA e em países da África. “Os negros americanos são os africanos mais ricos do mundo. A África poderia aproveitar esses recursos”, diz Archer, que em 2008 peregrinou por Serra Leoa, Gana, Libéria e Tanzânia para defender a causa.

ONDAS AFRICANISTAS

Fundação da Libéria – Primeira onda do descobrimento da África pelos EUA. Negros libertados da escravidão retornam ao continente no começo do século 19 e fundam a Libéria, em 1847

Luta por direitos civis – Nos anos 60, impulsionados pelo movimento black power e discurso de líderes como Martin Luther King, negros se revoltam contra o racismo da sociedade americana e derrubam leis segregacionistas – conquistando o direito de igualdade na sociedade americana

Herança genética – O descendente de quenianos Barack Obama chega à presidência dos EUA e celebridades buscam provas genéticas para conseguir obter cidadania em países africanos

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