Obama irrita a China ao receber o dalai-lama

Por: Maurício Moraes

 

Recepção ao líder tibetano dalai-lama é mais um capítulo da tensa relação entre as duas potências

 

O presidente Barack Obama recebe nesta quinta-feira (18) o líder tibetano dalai-lama na Casa Branca. A recepção ao monge budista é vista como uma provocação pela China, que considera o Tibete parte de seu território. A visita é meramente simbólica, mas, no século em que a China deve ultrapassar os Estados Unidos como a maior economia do mundo, o ato mostra a disputa de poder que envolve questões econômicas e políticas entre os dois gigantes, e que deve se arrastar pelas próximas décadas.

 

Segundo o professor Giorgio Romano, membro do Gacint, Grupo de Análise da Conjuntura Internacional, da USP, “a recepção ao dalai-lama é quase uma tradição nos EUA”:

– O dalai-Lama é uma espécie de símbolo da liberdade, já que ele luta pela libertação de um território que está sob controle da China. Por isso a visita é uma espécie de representação dos valores tradicionais americanos, como a liberdade.

A região que fica ao oeste chinês, próxima à fronteira com a Índia, está sob controle de Pequim desde 1959. Com a ocupação, o dalai-lama, líder religioso e político do país, vive no exílio e roda o mundo pedindo a libertação do Tibete, onde a população é budista e tem cultura e etnia diferente da maior parte da China.

 

Para os chineses, no entanto, o Tibete é parte do seu território e a recepção ao líder por governantes estrangeiros é vista como uma interferência em seus assuntos internos.

 

O dalai-lama chega aos EUA para encontro com Obama; o Tibete é apenas uma das questões da tensa relação entre americanos e chineses

Relação EUA e China tende a ser mais conflituosa

A questão do Tibete é talvez o mais conhecido ponto de discórdia entre chineses e americanos. Mas à medida que a economia da China cresce a passos largos e os EUA se afundam na crise, outros problemas aparecem.

 

Em artigo na revista Foreign Policy, o cientista político australiano John Lee diz que o Tibete é uma “discordância fundamental” entre EUA e China. “O apoio [americano] aos tibetanos e aos uigures [etnia de cultura muçulmana] sob o lema dos “Direitos Humanos” é visto como outra estratégia ocidental de dividir e governar”, segundo o professor.

 

Mas se a gritaria já acontecia a cada recepção ao dalai-lama por outros presidentes americanos, desta vez o protesto chinês ganhou contornos especiais. A China recuperou-se rapidamente da crise financeira e se torna cada vez mais importante nos grandes temas do mundo de hoje, como o aquecimento global.

 

Além disso, os EUA são dependentes dos chineses, os maiores compradores dos títulos americanos (lembrando que os EUA têm a maior dívida externa do mundo). Por isso, a recepção ao dalai-lama, a partir de agora, terá de ser feita com mais cuidado do que antes.

 

Taiwan, economia, Google e aquecimento global

Se os chineses reclamam da recepção ao dalai-lama, o grande problema dos americanos está na questão econômica. Os EUA, assim como boa parte do mundo, reclamam da política monetária de Pequim, que mantém sua moeda, o yuan, subvalorizada. Isso faz com que os chineses, de maneira artificial, mantenham sua competitividade, prejudicando a economia americana, onde o dólar tem câmbio livre (ou seja, não é controlado pelo governo, e sim pelo mercado).

 

A recente venda de armas dos americanos para Taiwan, que os chineses consideram uma Província rebelde, também afetou a relação entre os dois países. A China anunciou que iria impor sanções a empresas americanas no país. Segundo os especialistas, a venda de armas para a ilha, regulada por um tratado com a China nos anos 70, é uma forma de os EUA manterem sua influência na Ásia.

O recente ataque de hackers ao Google da China aumentou a tensão, já que desconfia-se que o atentado virtual poder ter sido organizado pelo governo comunista chinês, que impõe forte censura à internet. A pouca vontade política dos chineses na Conferência do Clima em Copenhague, no ano passado, também foi vista como uma das razões do fiasco do encontro.

 

Diálogo será cada vez mais importante

Querendo ou não, EUA e China terão de caminhar lado a lado ao longo deste século 21. Segundo Robert Barnett, especialista em China da Universidade de Columbia, “a confiança e a importância da China” refletem “o crescimento de sua economia e de sua relevância política”.

 

Em entrevista ao Council of Foreign Relations, o professor disse que “à medida que a China se torna maior e mais rica, sua energia e política precisam ir para além de suas fronteiras, no que vai se chocar cada vez mais com o papel dos EUA de polícia do mundo, assim como seus poderosos vizinhos Japão, Coreia do Sul e Índia. Será importante para os dois lados [China e EUA] desenvolver canais de diálogo eficientes e claros, já que vivemos uma nova fase nas relações internacionais”.

 

 

Fonte: R7

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