São Paulo de Kassab: Cidade em crise

Índices de desaprovação de Kassab evidenciam o esgotamento de medidas cosméticas para superar o caos urbano em SP

 

A QUEDA nos índices de aprovação da prefeitura paulistana, registrada na última pesquisa do Datafolha, só constituirá surpresa para quem não tenha tido notícia da situação de virtual colapso experimentada pela cidade durante os últimos meses.

Se as mortes, acidentes e prejuízos causados pelas chuvas acima da média deste verão trouxeram, de forma acentuada, a sensação de que a vida em São Paulo vai-se tornando próxima do inviável, não cabe atribuir apenas a fatores meteorológicos o desprestígio de Gilberto Kassab.

Do ponto de vista político, a questão é saber até que ponto as ações da prefeitura foram capazes de refletir a percepção, sem dúvida generalizada, de que a crise das condições de vida na cidade mudou de patamar.

Kassab não apenas demorou para verificar, in loco, o quadro de absurdos que se desenrolava no Jardim Pantanal.

Ficou exposta, no noticiário daqueles dias, a omissão da prefeitura em tarefas básicas como a conservação dos piscinões e a coleta de lixo -resultado, em parte, dos cortes orçamentários que se houve por bem fazer face às incertezas da crise econômica de 2009. Cortes que, vale lembrar, não atingiram a verba publicitária de Kassab: esta teve um aumento de 134% naquele ano, com relação ao ano anterior.

 

Ficou exposta, ademais, a dificuldade do prefeito de apresentar uma resposta política, no melhor sentido do termo, ao acúmulo de problemas de longo prazo que afetam a cidade, além dos alagamentos costumeiros.

O aquecimento global e o aquecimento da economia impõem, a uma metrópole saturada, a necessidade de redefinir suas formas de organização -uma tarefa que não é, por certo, para uma única administração, mas que precisa ser iniciada.

Nada mais sintomático do que o fato de uma das grandes fontes de popularidade do prefeito -o programa “Cidade Limpa”- ter incidido com sucesso numa área em que, agora, ressaltam as deficiências de sua administração.

Do fechamento de albergues para mendigos às imagens de bairros submersos na sujeira, a paisagem paulistana conheceu deterioração marcante, evidenciando o esgotamento da cosmética urbana que dera a Kassab parte importante dos 61% de aprovação registrados em outubro de 2008. Caíram a 34% na última pesquisa -proporção idêntica à dos que consideram ruim e péssima sua gestão.

Oscilações bruscas na popularidade dos prefeitos paulistanos são comuns. Marta Suplicy chegou a ter 45% de “ruim” e “péssimo”, em março de 2003, passando a apenas 17% de avaliação negativa em outubro de 2004. Aumentos de impostos (e a taxa do lixo, no caso de Marta) e de tarifas de ônibus contribuem, tanto quanto os índices pluviométricos, para tais variações.

A queda de Kassab, todavia, segue um padrão praticamente constante nos últimos dois anos -e é a vida na cidade que parece condenada, em muitos aspectos, a permanecer ruim e péssima, na ausência de quem se disponha a encarar, com a profundidade necessária, o desafio de liderar seu processo de mudança.

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

 

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