PV veta candidatura de João Jorge

O diretor do Olodum e mestre em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), João Jorge Rodrigues (foto), não obteve a legenda do Partido Verde (PV) e não será candidato ao Senado pela Bahia. Para não legitimar o veto e a discriminação indireta sofrida pela direção partidária, ele decidiu afastar-se da disputa e se licenciar do Partido.

A decisão do Partido – que terá como candidata à presidente a senadora Marina Silva – será referendada pela direção da legenda neste sábado (19/06) na convenção. Mesmo tendo duas vagas ao Senado, os dirigentes verdes baianos, preferem ter apenas um candidato, o que, na prática, representa um veto à candidatura do dirigente do Olodum.

A manobra foi articulada pelo presidente do PV, Edson Duarte e pelo candidato a governador Luiz Basuma. Duarte será candidato único ao Senado, mesmo o Partido tendo direito à duas vagas.

Licença

Antes de ser anunciada na Convenção que acontece no Hotel Sol Bahia Atlântico, em Patamares, João Jorge decidiu se retirar da disputa – denunciando o seu caráter de cartas marcadas – e se licenciar do Partido. Na Nota em que anuncia a decisão, afirma. “Quero que o meu povo saiba que, ao filiar-me no PV da Bahia, me subordinei ao seu estatuto, à direção estadual deste partido que no momento tem outras prioridades que não a igualdade racial e a diversidade humana e cabe a nós a compreensão de que se o PV não me deu a oportunidade de representá-lo temos de respeitar”.

Ele acrescentou ter dito à direção do Partido que “não há mais espaço para discriminações indiretas”. “Os Negros no Brasil já enfrentaram grandes desafios e continuam a enfrentá-los de cabeça erguida como bem disse alguns membros do PV não há espaço mais para discriminações indiretas”.

Leia o manifesto lançado por João Jorge

Quando resolvi filiar-me ao Partido Verde fiz uma vasta pesquisa no site oficial do partido (WWW.pv.org.br) a respeito do estatuto e dos princípios norteadores deste partido sobre os quais transcrevo brevemente: “O PV é um instrumento da ecologia política.

Sua existência não é um fim em si mesmo e só faz sentido na medida em que sirva para fazer avançar suas idéias e programa na sociedade, transformando concretamente a realidade.

O PV se propõe a desenvolver uma estratégia conjunta e uma ação coordenada em favor do desarmamento, da desnuclearização, do ecodesenvolvimento, da solução negociada dos conflitos e do respeito às liberdades democráticas, justiça social e direitos humanos em todos os países do mundo”.

Sou um homem que luta pelos direitos humanos desde a década de 70 quando entrei para o movimento negro, dediquei minha vida a luta contra o racismo e a promoção da igualdade e da diversidade, meus princípios são os mesmos que li no site oficial do PV e em seu estatuto.

Fiquei deslumbrado, embevecido. Sentir-me em uma família que acolhe a diversidade, as minorias, a igualdade, a fraternidade. Ousei em querer candidatar-me ao Senado a fim de representar a população baiana da qual a maioria tem as mesmas raízes que a minha.

Não poderei candidatar-me ao Senado, no momento, visto que o partido assim decidiu; resolvi como homem público, explicar ao meu povo que terei de adiar o sonho de representá-los no Senado Federal, dizer que no momento não será possível, mas nós podemos sim votar e ser votado este é um direito que dispomos e devemos faze-lo para quem é solidário a nossa luta, a nossa causa.

Vivemos em um país democrático mais às vezes temos de adiar nossos objetivos, compreender que o momento é de esperar, sonhar e agir .

Os Negros no Brasil já enfrentaram grandes desafios e continuam a enfrentá-los de cabeça erguida como bem disse alguns membros do PV não há espaço mais para discriminações indiretas.

Quero que o meu povo saiba que, ao filiar-me no PV da Bahia, me sudordinei ao seu estatuto, à direção estadual deste partido que no momento tem outras prioridades que não a igualdade racial e a diversidade humana e cabe a nós a compreensão de que se o PV não me deu a oportunidade de representá-lo temos de respeitar.

Sou um homem do Direito, respeito às leis, os estatutos e respeitarei a vontade do PV e peço-lhes que compreendam este momento como uma oportunidade de aprendizado, uma oportunidade que nos deu a certeza de que Nós podemos!

Nós queremos e nós seremos o que quisermos, pois temos a força das nossas raízes e com ela aprendemos a lutar e nunca desistir. Nossa luta é uma questão de justiça, de oportunidades, de igualdade e que teve seu ponto forte em 1798, com a Revolta dos Búzios, vai continuar para além desta eleição de 2010.

Hoje me licencio do partido para continuar minhas atividades publicas em favor da minha gente e da luta por igualdade, sou um homem do povo da Bahia e junto com eles continuarei a lutar, vou representá-los como e onde for possível.

A luta continua.
” Há de chegar o tempo em que todos seremos iguais, todos seremos irmãos, ” 1798.

João Jorge Santos Rodrigues.
Presidente do Olodum, militante do movimento social negro, advogado, mestre em Direito Público, Fellow da Ashoka, membro do Advocacy for social Justice.

Fonte: Afropress

+ sobre o tema

Mulheres em cargos de liderança ganham 78% do salário dos homens na mesma função

As mulheres ainda são minoria nos cargos de liderança...

‘O 25 de abril começou em África’

No cinquentenário da Revolução dos Cravos, é importante destacar as...

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

para lembrar

Prisão em 2ª instância atinge “população pobre, preta e periférica”, diz Dra. Silvia Souza em sustentação

A advogada Sílvia Souza, representando o Conectas Direitos Humanos,...

Os rolezinhos e o Brasil de Lula – por Antônio David

À medida que a ascensão social por meio...

Obama terá “ciberczar” para “guerras virtuais”

- Fonte: Folha de São Paulo - Novo cibercomando conduzirá...

E então Cunha falou o que a classe média queria ouvir. Por Mauro Donato

"Muitos programas sociais vão ter que acabar, não tem...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na terça-feira que Portugal foi responsável por crimes cometidos durante a escravidão transatlântica e a era...

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na história do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a advogada Vera Lúcia Santana Araújo, 64 anos, é...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz um levantamento da cobertura vegetal na maior metrópole do Brasil e revela os contrastes entre...
-+=