“Não sou santo”, afirma Nelson Mandela em novo livro

Enviado por / FonteDo Terra

Uma nova compilação de documentos e registros pessoais de Nelson Mandela revela a dor que sentia na prisão por estar longe da família, durante as quase três décadas em que foi mantido prisioneiro pelo regime do apartheid, assim como seu desconforto com a idealização de sua imagem.

Trechos de Conversas comigo mesmo, que será lançado na próxima terça-feira, foram publicados em jornais sul-africanos e britânicos neste domingo. No livro, Mandela aborda todo tipo de assunto, dos perigos da corrupção no poder à profunda tristeza que sentiu pela morte do filho.

São décadas de cartas, diários e gravações pessoais, reunidas e organizadas por sua fundação em um projeto cuja principal meta é mostrar o homem por trás do ícone global.

Aos 92 anos, o homem que recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços contra o regime segragacionista sul-africano diz que não quer ser lembrado como um santo acima do bem e do mal.

“Uma coisa que me preocupava profudamente na prisão era a imagem falsa que eu inadvertidamente projetei para o mundo; era ser considerado um santo”, revela um trecho do livro, publicado no Sunday Timessul-africano.

“Nunca fui um santo, mesmo se baseado na definição terrena de um santo como um pecador que continua tentando”.

Mandela foi mantido preso durante 27 anos. Libertado em 1990, liderou as negociações com o governo que culminaram em sua eleição como o primeiro presidente negro da história do país, em 1994.

Ele deixou o poder em 1999, depois de um mandato na presidência. Retirado da vida pública desde 2004, aparece pouco e aparenta fragilidade física.

Mandela ainda é reverenciado na África do Sul e no mundo, e apesar de esta não ser a primeira vez em que fala sobre seus defeitos e erros, críticas são praticamente inexistentes.

O livro parece convidar o leitor a uma reflexão mais ampla sobre sua vida, ao mesmo tempo em que foca no enorme sacrifício pessoal cobrado por sua devoção à luta pelo fim do apartheid.

“Quando jovem, eu reunia todas as fraquezas, erros e indiscrições de um garoto do interior, cuja visão e experiência eram influenciados principalmente por eventos na região onde cresci e os colégios onde estudei”, escreve Mandela.

“Eu era arrogante para esconder minhas fraquezas”. Em cartas escritas na prisão para a família, Mandela dizia sentir-se impotente por não poder ajudar a mulher, Winnie, e os filhos.

Quando Winnie também foi presa, em 1969, ele escreveu para as filhas Zeni e Zindi, na época com 9 e 10 anos: “agora, mamãe e papai estão na prisão”.

“Pode ser que passem meses ou mesmo anos até que vocês a vejam de novo. Talvez vocês vivam como órfãs, sem a casa e os pais, sem o amor natural, o carinho e a proteção que mamãe dava a vocês”, diz a carta.

As cartas também revelam sua conturbada relação com Winnie, de quem ele se separou poucos anos depois de ser libertado.

Escrevendo para um amigo em 1987, Mandela conta que escreveu a Winnie para dizer que as filhas haviam crescido bem: “minha amada mulher ficou furiosa (…). Ela me lembrou: ”eu, e não você, criei estas crianças, que você agora prefere a mim”. Eu fiquei chocado”.

Em outra carta, ele conta a um amigo como reagiu à morte de Thembi, filho mais velho de sua relação com a primeira mulher, que faleceu em um acidente de carro aos 24 anos em 1969 – a cujo funeral ele não recebeu autorização para ir.

“Quando fui informado da morte de meu filho, tremi da cabeça aos pés”, descreve, afirmando ter sentido o mesmo quando uma filha morrera aos nove meses de idade, anos antes.

O próprio Nelson Mandela não deve comentar a respeito do livro. Sua última aparição pública foi em julho, durante a final da Copa do Mundo da África do Sul, em Johanesburgo.

 

+ sobre o tema

Amada é uma obra necessária para pensar o racismo de ontem e hoje

Vida escrava; vida libertada – cada dia era um...

Fundação Cultural Palmares expressa pesar pela morte de Solimar Carneiro, fundadora do Geledés

A Fundação Cultural Palmares expressa profundo pesar pela morte...

Santos terá programação especial em comemoração ao Dia da Consciência Negra

Celebrações começam nesta sexta, com a posse do Conselho...

para lembrar

Sarau Negro no Quilombo XXIII: negritude, consciência e racismo! 20 de Novembro

Salve Salve Negritude !!! Tudo certinho, mama? Bom, como todos...

Pílula de cultura encerra semana da consciência negra

Festa PÉ NA AFRICA fecha a Semana da Consciência...

Poeta Mel Duarte lança livro de poemas traduzido para o espanhol em Madrid

Obra “Negra Nua Crua” será lançada na capital da...

Spotify abre inscrições para projetos musicais de mulheres

Edital faz parte da Casa da Música Escuta as...
spot_imgspot_img

Mulheres sambistas lançam livro-disco infantil com protagonista negra

Uma menina de 4 anos, chamada de Flor de Maria, que vive aventuras mágicas embaixo da mesa da roda de samba, e descobre um...

Podcast brasileiro apresenta rap da capital da Guiné Equatorial, local que enfrenta 45 anos de ditadura

Imagina fazer rap de crítica social em uma ditadura, em que o mesmo presidente governa há 45 anos? Esse mesmo presidente censura e repreende...

Juçara Marçal e Rei Lacoste lançam o Amapiano “Sem contrato”

A dupla Juçara Marçal (Rio de Janeiro) e Rei Lacoste (Bahia) lançam nesta sexta-feira (26) o single “Sem Contrato” nas principais plataformas digitais e...
-+=