Aos 49 anos, mãe Hildelice assume terreiro de Mãe Hilda

Somente em 2011 o histórico terreiro do Ilê Axé Jitolu, na Ladeira do Curuzu, terá uma festa regida por Hildelice Benta dos Santos, mãe Hildelice, que domingo se tornou a nova responsável pelo terreiro que foi comandado por mãe Hilda até setembro do ano passado, quando morreu aos 86 anos.

Um dos terreiros mais importantes para a comunidade do candomblé Jeje na Bahia, o Ilê Axé Jitolu passará por uma reforma após a conclusão do Axexê – ritual realizado após a morte para indicação de sucessor.

No Axexê realizado no terreiro que foi captaneado por mãe Hilda, sua filha biológica, Hildelice, que é filha de Oxalá, foi escolhida pelos Orixás para ser a responsável pela casa que esteve praticamente fechada desde a morte da ialorixá mãe Hilda.

Apesar dos laços sanguíneos com a antiga matriarca, foi através dos búzios que mãe Hildelice, de 49 anos, foi escolhida como sucessora na tradicional casa.

Iniciada no candomblé como iaô (praticante recém-iniciado), aos 20 anos, ela conta que sempre acompanhava a mãe, por quem nutria profunda admiração pela forma como conduzia as relações entre terreiro e comunidade. Caberá a mãe Hildelice a representação como guia espiritual de toda uma comunidade pioneira na afirmação da beleza negra, que fincou suas raízes no mais africano dos bairros de Salvador, a Liberdade.

Entrevista: Sucessora de mãe Hilda promete continuidade

Como aconteceu a cerimônia de escolha como sucessora?
Não estava esperando, foi surpresa para todos os presentes. Foi uma cerimônia aberta, todos os iniciados foram convidados para ficar no barracão (chão sagrado onde são realizados as festas do terreiro). Quem jogou os búzios foi pai Flaviano, uma pessoa bem antiga no candomblé. Ele é do terreiro de Ilê Axé Obanã, em Areia Branca. No primeiro jogo ele apenas leu e não se manifestou. Foi no terceiro jogo que ele perguntou: Quem é de Oxalá aqui? Eu respondi: a filha de Oxalá sou eu. Me levantei e sentei próximo a ele. As coisas foram feitas de uma maneira bem clara, para quem estava lá ouvir e entender. Teve muito choro, muita emoção. Foi um momento de alegria.

Ser filha biológica de mãe Hilda interferiu na decisão ?
Pelo que eu percebo, tinha que ser uma pessoa da família. Mas foi surpresa para todos os presentes. Foram jogados os búzios e a gente só ficou sabendo na hora.

O que representa para a senhora ser a sucessora de uma pessoa importante para todo o movimento negro e para a religião?
Minha mãe sempre teve esse lado de combater e conversar muito sobre nossas origens. Eu vou dar continuidade a todo esse trabalho que foi feito. Eu estou assumindo um cargo que foi dela. Tenho que representar. Estou alegre e satisfeita porque a herança que ela deixou foi isso. Dar continuidade a tudo de bonito que ela fez.

Qual a energia que deseja passar para o bloco Ilê Aiyê, que foi tão difundido por sua mãe, nos próximos anos?
Acima de tudo, a energia positiva. A saída do Ilê será do mesmo jeito. Manteremos a tradição que é o nosso orgulho.

Fonte: Correio

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