15ª Parada do Orgulho Gay de São Paulo reúne 4 milhões de pessoas

São Paulo — A tarde cinzenta, fria e com pancadas de chuvas não foi suficiente para tirar o brilho da 15ª Parada do Orgulho Gay, que invadiu ontem a Avenida Paulista. Segundo a Polícia Militar, cerca de 4 milhões de drag queens, gays e héteros dançaram ao som de 15 trios elétricos. O evento foi marcado por uma valsa na abertura e pela grande quantidade de famílias que vão assistir com filhos pequenos àquela que já é considerada a maior festa da diversidade do mundo. O funcionário público Eduardo Pimentel Thé, 28 anos, estava fantasiado de Mulher Maravilha. Ele conta que viajou de Fortaleza em um ônibus semileito, passou quatro dias na estrada e se hospedou na casa de uma amiga, na Zona Leste da capital. “Cheguei na quinta-feira e fui direto para a 25 de Março comprar essa fantasia, que custou R$ 70”, diz.

Por: Ullisses Campbell

A parada foi aberta oficialmente pelo prefeito, Gilberto Kassab, e pela madrinha do evento, a senadora Marta Suplicy. Ao som de Danúbio azul, no estilo tradicional e em ritmo techno, os participantes dançaram valsa em frente ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). A ideia é quebrar um recorde e entrar no Guinness Book, o livro dos exageros. Um representante da publicação estava lá para conferir e disse que o recorde atual é de 1.500 casais dançando valsa na rua. “Acho que não vai ser dessa vez porque gay não sabe dançar valsa. Tem gente que está pulando por causa da mistura dos ritmos”, comentou Renato Foqui, da comissão organizadora da parada. Uma das maiores atrações foi a primeira-diva dos gays, Preta Gil.

Emocionada, ela pediu respeito à diversidade. Depois, a cantora pregou a criminalização da homofobia, tema desta edição da parada. “Eu sou uma travesti que já nasceu operada. Estou aqui muito honrada de ser primeira-diva da parada, por isso já vim vestida de drag debutante, com muita honra, humildade e emoção”, disse. Ela usava um vestido bordado em cristais. Por onde a parada gay passava, ativistas levantavam a bandeira da criminalização da homofobia. Um painel montado na entrada das estações do metrô lembrava as agressões que marcaram edições anteriores do evento e os ataques aos gays durante todo o primeiro semestre só na Região da Paulista, 16 no total.

Violência

A pedido dos organizadores, a Polícia Militar reforçou a segurança com 1,5 mil homens e pediu que as pessoas não ficassem sozinhas pela rua após o término da passeata, para evitar riscos de ataques. Ainda assim, foram registrados dois arrastões com pelo menos 15 adolescentes que corriam e atacavam os gays para roubar mochilas, bolsas, óculos escuros e celulares. O brasiliense Cauã Tavares, 26 anos, marcou presença na parada com o namorado, mas fez questão de deixar claro que não é muito simpatizante da aglomeração. “Eu sempre venho por causa das festas. Na hora da parada, geralmente fico no hotel. Só vim dessa vez porque me hospedei na Consolação”, conta. Ele gastou R$ 6 mil entre passagens aéreas, hospedagem, ingressos para festas e outras diversões. “Não me arrependo”, diz Cauã, que é vendedor autônomo.

Os gays ativistas também disseram ao microfone de um dos trios elétricos que querem a aprovação da união civil no Congresso Nacional. Segundo o presidente da Associação de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros, Toni Reis, se o projeto não passar em votação, ele vai lançar um movimento na sociedade para pressionar os parlamentares, inclusive apontando quem são os deputados que escondem a condição gay. “Isso não é ameaça. Mas, se nada for feito no Congresso, vamos trabalhar para criar ações com o intuito de que os projetos a favor dos homossexuais sejam prioridade.”

A senadora Marta Suplicy garantiu que está costurando um acordo no Congresso para mudar o nome do Projeto de Lei nº 122, que criminaliza a homofobia. Segundo ela, o nome do projeto já foi “demonizado” por setores da sociedade e uma mudança poderia fazer com que tivesse mais facilidade de ser aprovado. “Muitas pessoas já veem o diabo quando escutam o número 122. Por isso estou tentando um acordo para mudar. Já o conteúdo teria poucas alterações”, destacou.

“Sou uma travesti que já nasceu operada. Estou aqui muito honrada de ser primeira-diva da parada, por isso já vim vestida de drag debutante, com muita honra, humildade e emoção”

Preta Gil,

preta-gil

primeira-diva da Parada Gay

“Se nada for feito no Congresso, vamos trabalhar para criar ações com o intuito de que os projetos

a favor dos homossexuais sejam vistos com prioridade”

Toni Reis,

presidente da Associação de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros

 

Fonte: Correio Braziliense

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