Filosofando sobre ‘Mídia e saúde: quando o SUS vira notícia’

De 30.11 a 4.12, a 14ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, discutirá “a política nacional de saúde, segundo os princípios da integralidade, da universalidade e da equidade”, sob o tema “Todos usam o SUS! SUS na seguridade social – política pública, patrimônio do povo brasileiro”, cujo eixo é “Acesso e acolhimento com qualidade: um desafio para o SUS”.

Como parte da Conferência, dia 1º, ocorrerá a oficina “Diálogos saúde e mídia”, da qual serei expositora, com Reinaldo José Lopes, editor do caderno saúde, da “Folha de S.Paulo”, do tema “Mídia e saúde: quando o SUS vira notícia”. Confirmaram presença mais de cem jornalistas e assessores de imprensa.

Será um momento ímpar, no qual quem produz notícias poderá dizer “qual é a sua” na cobertura de saúde, que, via de regra, passa ao largo da defesa da luta pelo SUS, contrariando o que deveria ser o guia das diferentes mídias – a eticidade informativa -, numa demonstração do absolutismo inconteste da ditadura da mídia.

Gerar e publicar informações é um tipo de poder e um grande poder. Considerando a função social do jornalismo, as velhas e as novas mídias podem escolher: fortalecer ou detonar o SUS usando as mesmas pautas, em geral denuncistas e catastrofistas.

Sem esquecer que a grande imprensa, falada e televisada, tem lado e que o estado da arte do SUS é um processo de construção, não é um produto pronto e acabado, a pergunta é: por que detonar a política pública que mais confere cidadania ao povo brasileiro, extinguindo a figura do indigente na saúde, o seu maior mérito?

Em “O ‘conferencismo’ sequestra a democracia e insulta a inteligência”, registrei meu desencanto “diante do ‘conferencismo’ ordinário e vulgar aqui instalado para abordar temas sociais mais afetos aos direitos humanos (…). Não sou contra conferências, mas o uso do formato conferência para ‘conferencismos’ que não nos tiram do amassar ‘ad aeternum’ o mesmo barro”.

E disse mais: “Dá comichão ler um relatório final de tais conferências. A mesmice – velhas demandas diante do mesmo ‘muro de lamentações’! – impera a um ponto que parece xerox do anterior, como se da conferência resultasse um eterno monólogo inútil. E é! O que revela que o ‘conferencismo’ insulta a inteligência e sequestra a democracia participativa por ser um jogo de faz de conta…” (O TEMPO, 18.10.2011).

Foi com surpresa que recebi o convite para a oficina “Diálogos saúde e mídia”. Tive um ataque hamletiano completo, antes do sim: “Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre/ Em nosso espírito sofrer pedras e setas/ Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,/ Ou insurgir-nos contra um mar de provações/ E em luta pôr-lhes fim?” (“A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca”, de William Shakespeare. Ato III, Cena I. Escrita entre 1599 e 1601).

Hamlet é uma perseguição. Escrevi “Paralelos entre o SUS e a tragédia de William

Shakespeare” (O TEMPO, 23.8.2011), sobre os voos filosóficos de um leitor de uma cidade mineira onde só há Santa Casa que, “irado, indagou por que eu tinha ‘tara’ por coisas que não prestam, a exemplo do SUS, para ele um engodo quando depende de contratados”. Encerrou citando Hamlet: “‘Há algo de podre no reino da Dinamarca’, pois as Santas Casas não são mais de caridade; recebem por procedimentos feitos – aquilo que você já ficou rouca de dizer: o grande mérito do SUS foi acabar com o indigente da saúde. E é verdade: não há mais indigentes, há perambulantes”. Vou por aí…

Fonte: O Tempo

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