Após ser vítima de racismo, Roberto Carlos vira ‘a lenda’ em Makhachkala

Em região que sofre com preconceito na Rússia, carinho pelo brasuca cresce ainda mais após episódios de bananas atiradas em sua direção

O prestígio de Roberto Carlos percebe-se antes mesmo de chegar a Makhachkala. Na estrada que leva à capital do Daguestão, cartazes do jogador vão aparecendo aos poucos, sozinho ou em destaque junto aos companheiros de Anzhi, e ficando mais frequentes conforme se entra na cidade. O carinho pelo brasileiro, que já era grande, cresceu mais ainda após as manifestações racistas de que foi vítima no Campeonato Russo. Numa região acostumada a sofrer com o preconceito, os moradores sabem muito bem o que sentiu o jogador a quem chamam de “lenda”.

– Depois do problema no jogo contra o Krylya organizaram um grande evento em Makhachkala para os torcedores encontrarem o Roberto Carlos em sinal de apoio. Foi assim que consegui essa camisa – disse Shamil, a caminho do estádio do Dínamo para acompanhar uma partida do Anzhi, apontando para o próprio peito.

Na camisa dele, a foto do pentacampeão e a frase “eu apertei a mão da lenda”.

– Sim, eu apertei a mão dele – acrescentou o torcedor, cheio de orgulho, abrindo um enorme sorriso.

O incidente citado por Shamil aconteceu numa partida em junho, em Sovetov, na qual um torcedor atirou uma banana no gramado na direção do brasileiro. Em março, Roberto Carlos já havia passado por situação parecida em partida diante do Zenit, em São Petersburgo. O jogador atirou a banana para longe e deixou o gramado transtornado. Roberto Carlos lembra a manifestação de apoio em Makhachkala de forma especial.

– Foi incrível. Veio muita gente, parecia que era a cidade inteira. Uma demonstração de carinho muito grande, para mostrar que isso é coisa de uma minoria. Fiquei muito feliz. A forma como me tratam aqui é especial – afirma.

“Lenda” pede providências

Roberto Carlos bem que gostaria, mas sabe que não pode garantir que manifestações racistas como as daquelas duas partidas não voltarão se repetir.

– Aqueles torcedores, se é que podem ser chamados assim, foram punidos e nunca mais vão poder pisar num estádio de futebol. Mas, infelizmente, essas coisas ainda acontecem. Eles precisam fazer algo. A Rússia vai receber uma Copa do Mundo em 2018 e não há mais espaço para isso no futebol. Quase todas as equipes daqui têm jogadores negros.

Banana atirada em Roberto Carlos durante jogo entre Anzhi e Zenit (Foto: Divulgação)

Fora dos gramados, mas ainda dentro dos estádios russos, um outro problema é a associação de membros de torcidas organizadas com movimentos de extrema direita e neo-nazistas, que protestam contra imigrantes e o dinheiro gasto pelo governo em regiões mais pobres do país.

Em dezembro, na passeata dos nacionalistas em Moscou, mais de cinco mil pessoas, integrantes de organizadas entre elas, gritavam “Rússia para os russos” e carregavam um cartaz com os dizeres “parem de alimentar o Cáucaso”. Partidas do Anzhi contra times de Moscou e São Petersburgo são consideradas de altíssimo risco. Ainda restam oito delas até o fim do campeonato.

 

Fonte: Globo Esporte


+ sobre o tema

Médica sofre racismo por usar dreads

Sugerido por Fernando J. Ofensiva Negritude - Facebook, no GGN   Boa...

Ativista do racismo norte-americano se descobre negro em teste na TV

O norte-americano Craig Cobb, 62, polêmico defensor da supremecia...

Tokenismo e inclusão na Bolsa

Encerra-se na sexta-feira (16) uma consulta pública aberta pela...

Grupo suspeito de extermínio em RO queria fazer ‘limpeza social’, diz PF

Operação Mors investiga 100 homicídios ligados a grupo de...

para lembrar

Ajudante negro do Papai Noel gera debate sobre racismo na Holanda

Uma antiga tradição popular está gerando debates sobre...

Comunicado de Centro Panafricano en Relación Hechos Racistas Informados por Federación Panafricanista

Fonte: Wanafrika El Centro Panafricano y El Centro de Estudios...
spot_imgspot_img

Relatório da Anistia Internacional mostra violência policial no mundo

Violência policial, dificuldade da população em acessar direitos básicos, demora na demarcação de terras indígenas e na titulação de territórios quilombolas são alguns dos...

Aos 45 anos, ‘Cadernos Negros’ ainda é leitura obrigatória em meio à luta literária

Acabo de ler "Cadernos Negros: Poemas Afro-Brasileiros", volume 45, edição do coletivo Quilombhoje Literatura, publicação organizada com afinco pelos escritores Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. O número 45...

CCJ do Senado aprova projeto que amplia cotas raciais para concursos

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira (24), por 16 votos a 10, o projeto de lei (PL) que prorroga por dez...
-+=