O diabo não é tão feio

Por Fernanda Pompeu

 

Quer dizer, às vezes o diabo é medonho de feio. Vem disfarçado em doença grave, separação, luto, demissão, despejo, depressão. Faz estrago, bagunça o que havíamos arrumado, bota certezas de pernas para o ar, enterra imerecidas estacas no coração.

Mas o “dito cujo” também gosta de se disfarçar em temores e ansiedades. De repente está tudo bem, o cotidiano correndo nos trilhos, e aparece o diabinho se fazendo de diabão. E da maneira que ele mais gosta, transforma nosso modesto paraíso num ostentoso inferno.

No caso da visita do diabinho, o jeito é arranjar estratégias para se livrar dos temores e domesticar as ansiedades. Pois o temor impede nossa ação, e a ansiedade nos leva a precipitações. Estas, por natureza, nos induzem a erros.

Existem muitas estratégias para neutralizar o “coisa ruim”. Uma das mais inteligentes é desmistificar ou, usando uma palavra da moda, desconstruir a presença e o poder do demônio. Vê-lo mais bonitinho do que feio.

No livro Manchete, escrito por Arnaldo Niskier, há uma passagem impagável que tem como personagem o Mané Garrincha (1933-1983). Ajudando aos muito jovens: junte o Ronaldo e o Neymar num craque só e você terá o Garrincha. O sujeito tinha as pernas tortas e uma única vocação: balançar as redes.

Pois na Copa de 1962, no Chile, o Brasil bateu a Inglaterra – sempre uma potência futebolística – por 3 a 1. Sendo que o Mané fez os três gols. No final do jogo, o cronista Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, perguntou para o camisa 7 como tinha sido jogar contra os ingleses.

Garrincha respondeu: “Foi igual a jogar contra o São Cristóvão”. Repare na ousadia do craque em comparar a grande Inglaterra ao pequeno time carioca São Cristóvão. O que ele fez? Desmontou a figura do diabo. Deu o recado: faça o seu jogo sem se importar com o tamanho do adversário.

Então toda vez que uma circunstância negativa ou adversidade aparecer na sua frente, atravancando seus passos, entristecendo seu coração, lembre dessa história do Mané Garrincha. A melhor forma de enfrentar o diabão é torná-lo um anjinho.

 

 

 

Fonte: Yahoo

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