“Anatomicamente, a saia dá muito mais certo para o homem”

iGay acompanha visita ao centro de São Paulo de estudante que causou polêmica por usar saia na USP. Vitor Pereira foi alvo de olhares indiscretos e reprovadores, e também de comentários negativos

Nesta quinta-feira (16), nas diferentes unidades da Universidade de São Paulo (USP), estudantes prometem fugir dos padrões na forma de se vestir. A ideia é que homens vistam peças identificadas tradicionalmente com o gênero feminino, como saias e vestidos. As mulheres, por sua vez, usarão peças identificadas com o guarda-roupa masculino, como gravatas e ternos. “USP de Saia” é nome deste movimento dos universitários.

O gesto dos alunos da USP é um protesto contra as ofensas que o estudante do curso de Moda e Têxtil Vitor Pereira , 20 anos, sofreu numa rede social por ter ido a uma aula vestindo uma saia, no dia 24 de abril.

Por mais que pareça antiquado, o fato de um homem usar saia ainda provoca choque e comentários negativos em pleno século 21. A reportagem do iGay pode comprovar isso ao passar algumas horas com Vitor numa tarde no centro de São Paulo.

Como se pode ver na galeria acima, diferentes pessoas que passavam por Vitor e o viam de saia, lhe dirigiam olhares indiscretos e, muitas vezes, reprovadores. “Daqui a pouco vira moda e a gente vai ter que usar pra trabalhar” , reclamou Carlos, que não quis revelar o sobrenome e a profissão.

Uma vendedora, que também não quis se identificar, fez uma critica a escolha estética de Vitor naquele dia. “A primeira vez que vejo um homem de saia, não caiu bem, ele mistura uma camisa masculina com a saia de mulher, ficou feio”, analisou ela.

Não foi a primeira vez que Vitor ouviu comentários negativos. No dia em que saiu de saia pela primeira vez, o estudante desviou de um homem que disse ofensas para ele numa estação de trem. “Coloquei o fone de ouvido e segui meu caminho. Ele atravessou a rua e eu nem vi”, conta o estudante, lembrando como reagiu à situação.

“Gênero e sexualidade são coisas diferentes. Roupa não tem gênero, no processo de criação você não coloca a sexualidade. Existem roupas direcionadas, mas todo mundo pode usar o que quiser. Ou deveria”, analisa Vitor, que comprou sua primeira saia numa visita a um brechó.

“Fui ao brechó procurar uma camisa branca para usar em uma festa. Quando estava lá, vi a saia e já conversei com a vendedora, pensando em levar na costureira e mudar aqui e ali”, lembra o estudante.

Vitor acredita que a peça faz até mais sentido no guarda-roupa masculino do que feminino. “Anatomicamente, a saia dá muito mais certo para o homem”, opina o estudante.

Os pais Vitor não têm a mesma opinião e se incomodam com o fato dele usar saia. “Eu nunca gostei de omitir quem sou, sempre fui muito verdadeiro em relação a mim. Eu não compro briga à toa, só defendo aquilo que acho que realmente vale a pena”, explica o estudante, que é representante dos alunos da sua turma na USP.

Porém, a ocasião em abril não foi a única em que ele usou roupas tidas como femininas. Vitor revela que já usou salto alto e vestido, mas apenas de brincadeira e dentro de casa. O interesse dele por moda começou na infância, a ponto dele sempre dar opinião no modo de se vestir dos familiares.

“Eu me interessei pelo curso da USP porque a indústria têxtil é muito maior do que a gente imagina. É dividido. Tem a parte de moda, e tem a parte da indústria com muitas possibilidades”, observa Vitor, explicando como o interesse de pelo modo de vestir das pessoas acabou se tornando num ideal de profissão.

No mundo da moda, a grande inspiração do estudante é o lendário estilista Yves Saint-Laurent (1936-2002), que entre outras realizações, ficou famoso por subverter o modo de se vestir feminino nos anos 60, ao criar o ‘le smoking’, que trouxe o terno para o guarda-roupa das mulheres, numa época em que só os homens o usavam. “Gosto dele porque desde cedo ele foi crescendo, atingindo o público de maneira bem profissional e competente; acho inspirador”, aponta Vitor.

Trocando de papel

Estudante de nutrição, Camila Evangelista é uma das organizadoras do evento desta quinta na USP.

“A proposta da manifestação é convidar as pessoas a experimentar roupas que fogem dos padrões sociais, para se colocar no lugar do outro e sentir como é esse preconceito na realidade”, defende a universitária.

“Em uma universidade, a gente espera que as pessoas tenham uma cabeça diferente. Ficamos chocados com o preconceito de gênero, enraizado pela sociedade machista, partindo justamente de estudantes universitários”, conclui Camila.

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Fonte: iG 

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