Era pleno de leveza o riso da mulher quando mais uma jornalista invadia sua casa para perguntar sobre o gol-sensação do filho. Um menino de 19 anos, negro, filho da mãe, mais um dos que encontram nas quatro linhas o infinito negado pela vida.
O tiro alcançou a velocidade de 119 km. De fora da área o artilheiro iniciante acertou o ângulo do goleiro. Bateu com o lado de fora do pé e a bola foi dormir no ninho da coruja. Teve comentarista louvando a sorte do goleiro que pulou na direção certa, mas não alcançou o petardo. Podia ter queimado a ponta dos dedos ou mesmo quebrado um, se pegasse de mau jeito.
A jornalista insistia: “foi o primeiro gol do seu filho no profissional, uma marca que vai ficar para sempre, um gol fantástico! A senhora não está emocionada?” “Estou, querida, estou!” A mãe respondia e sorria, sorria, sorria.
Insatisfeita, a entrevistadora tentava extrair comentários sobre a provável trajetória de labuta e dificuldades das famílias negras daquele porte, uma mulher simples e seu filho. Um conteúdo de superação vestiria bem a matéria. Esporte é superação, ela aprendera na cadeira de jornalismo esportivo, principalmente quando praticado por pessoas humildes.
O problema é que a mãe do jogador era dura na queda. Ela tinha tanto viço guardado, rizoma espetacular de alegria que não haveria lágrima forçada por jornalista capaz de macular aquele sorriso.