Além de cadeia, não pagar pensão dá nome sujo e confisco

São medidas que a Justiça vem autorizando contra pais em dívida com pensões alimentícias

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo vem adotando desde 2010 novas formas de cobrar pais em dívida com pensão alimentícia. Além da prisão por até 60 dias, a Justiça tem deferido pedidos para inscrição no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) e na Serasa.

Outras modalidades utilizadas pelos defensores é a penhora, que pode atingir contas bancárias e participação nos lucros de empresas, e também o bloqueio de valores depositados em Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e no Programa de Integração Social (PIS).

”A prisão é uma punição, porém, isso não garante que a criança vá receber o dinheiro. Por isso, estamos buscando outras soluções para que o valor devido seja repassado mesmo a contragosto”, afirma o defensor público Paulo de Andrade Giostri, que atende em Ribeirão Preto.

De acordo com a lei brasileira, o cidadão que atrasar a pensão alimentícia pode ter a prisão decretada por conta da falta do pagamento dos últimos três meses. O período máximo de detenção é de 60 dias. Mas não há um mecanismo que obrigue o pai (ou a mãe) a pagar todo o montante atrasado.

Como a Defensoria Pública lida com a fatia da população mais humilde – oferece atendimento gratuito às pessoas que ganham até três salários mínimos (R$ 1.866,00) -, é comum o devedor não ter imóveis ou carro para penhora.

”A ordem que partiu de São Paulo é buscar novas formas de receber o montante atrasado. Estamos tendo vitórias na Justiça em casos de penhora online de resgate de FGTS e PIS e até inscrição do nome do devedor nos cadastros do SCPC e Serasa”, comemora Giostri.

Exemplos
Em 14 de abril de 2012, o juiz José Duarte Neto, responsável pela 3ª Vara da Família de Ribeirão Preto, deferiu um pedido do defensor público Paulo Giostri, de penhora online e inscrição do nome do devedor na Serasa e no SCPC. Segundo o histórico do processo, o homem não paga pensão desde outubro de 2005 e no último levantamento, com data de agosto de 2011, já devia mais de R$ 23 mil.

O juiz auxiliar Guilherme Infante, da 2ª Vara da Família de Ribeirão Preto, deferiu, em 23 de março de 2012, outro pedido semelhante do defensor. O homem tinha R$ 1,48 mil para resgate no PIS e R$ 34,65 de FGTS. Os valores foram bloqueados pela Justiça e repassados à mãe. Nesse caso, a dívida, acumulada entre junho de 2004 e julho de 2007, era de R$ 7 mil.

Em janeiro de 2012 a defensoria de Ribeirão Preto fez outra solicitação semelhante, tentando repassar à criança R$ 780 em pensão atrasada entre outubro e dezembro de 2011. Novamente o juiz José Duarte Neto deferiu os pedidos de bloqueio de PIS e FGTS e de inscrição do nome do devedor no Serasa e no SCPC.

Decisões geram nova jurisprudência
Para o defensor público Paulo Giostri, essas decisões da Justiça de Ribeirão Preto vão ”reconstruir a jurisprudência dos casos de pensão alimentícia em atraso”. ”Além do risco de ficar preso por 60 dias, o devedor não vai poder fazer um simples crediário para comprar uma geladeira”, lembra o advogado, que também ocupa uma cadeira no Instituto Brasileiro de Direito e Defesa da Família (IBDFAM).

Para a advogada Naira Gandini, especialista em direito da família civil, as medidas adotadas pela Defensoria Pública são pertinentes. ”Ainda não fiz nenhum pedido semelhante, mas reconheço que os devedores de pensão devem ser incluídos no rol de inadimplentes”, opina. ”O alimento é gênero de primeira importância e forçar o pagamento retirando o crédito do devedor é o objetivo”, acrescentou.

Fonte: Jornal da Cidade

+ sobre o tema

Por favor, sem medo de me ofender, me chame de negra. Eu amo.

Ilda Lando por Laine Alcântara (Foto: Divulgação/ Laine Alcântara) Angolana...

Mulher raspa cabeça da filha que fez bullying com colega com câncer

Uma mãe raspou o cabelo da própria filha após...

Lei que multa discriminação a gays em até R$ 60 mil entra em vigor no RJ

Projeto abrange estabelecimentos comerciais e agentes públicos. Regra, no entanto,...

para lembrar

Psicóloga comemora conquista após lutar por turbante em foto da CNH

A psicóloga Jacqueline de Campos Rojas, de 33 anos,...

Por que a demissão de pesquisadora negra do Google se transformou em escândalo global

A pesquisadora do Google Timnit Gebru recebeu um email...

Ministra Luiza Bairros afirma que São Paulo é referência para o país na questão racial

  Declaração foi feita sexta-feira (23/08), na capital paulista, durante...

As mulheres marroquinas por trás dos tecidos e cerâmicas da Dior

Entre no universo da Sumano, as mulheres do interior...
spot_imgspot_img

Luta das mulheres voltou a pautar as ruas em 2024 e acendeu alerta para o retrocesso

A luta pelos direitos das mulheres no ano de 2024, que começou de maneira relativamente positiva para a luta das mulheres, foi marcada por...

Apenas cinco mulheres se tornaram presidentes nas eleições deste ano no mundo BR

A presença feminina nos mais altos níveis de liderança política permaneceu extremamente baixa em 2024. Apenas cinco mulheres foram eleitas como chefes de Estado...

Cidadania para a população afro-brasileira

"Eu gostaria que resgatassem um projeto desse sujeito extraordinário que foi Kwame Nkrumah, panafricanista, de oferecer nacionalidade de países africanos para toda a diáspora",...
-+=