As cotas abrem portas

Sigamos atentos e vigilantes para que não haja retrocesso

Um rápido passar de olhos nas fotos da comemoração da aprovação do projeto que reformula a Lei de Cotas nas universidades federais pela Câmara, semana passada, é o suficiente para entender a relevância da diversidade nos espaços de poder e tomada de decisão.

Nas mãos, parlamentares majoritariamente negros, mulheres e indígenas seguram cartazes em apoio à ação afirmativa que se tornou política pública. Nos rostos, estampam sorrisos que expressam o contentamento de quem está a garantir uma conquista ancestral. Eles conhecem o impacto social do que decidiram.

A educação é um direito capaz de transformar vidas, porém historicamente negado —ou sonegado— a pretos e pardos no país. A Lei de Cotas vem mudando a realidade de milhares de brasileiros ao criar espaço nas universidades públicas para gente que não costumava estar lá para ocupar um dos bancos acadêmicos. São filhos de porteiros, de empregadas domésticas, de pedreiros, de motoristas, gente proveniente de famílias “menos favorecidas” (como definem alguns) que tem conquistado instrução superior.

A própria relatora do PL, a deputada Dandara (PT-MG), uma mulher negra, não esconde ter sido cotista na graduação e na pós-graduação. “Se não fosse a lei de cotas, eu não estaria aqui”, afirmou ela, após a aprovação da proposição.

Mudanças importantes ocorridas nesta revisão legislativa são o fato de que a lei se torna permanente, pondo fim à insegurança jurídica que pairava sobre a validade das cotas, e a inclusão expressa dos quilombolas entre os cotistas.

Além disso, o estabelecimento de prioridade para cotistas no recebimento de auxílio estudantil é outra alteração crucial, visto o elevado número desses estudantes que abandonam os estudos por falta de condições de se manter na universidade.

A proposta depende da aprovação do Senado e da sanção do presidente da República. Sigamos atentos e vigilantes para que não haja retrocesso. Afinal, as “cotas abrem portas”.

+ sobre o tema

para lembrar

Educação, relações étnico-raciais e a Lei 10.639/03

Por Nilma Lino Gomes Introdução A Lei nº 10.639/03 que estabelece...

Ministério Público pode adotar cotas para negros

Segundo o promotor da Bahia Fábio George Cruz da...

Nota de alunos que ingressam na UFMG pela cota já supera a dos não cotistas

Cotistas que garantiram uma vaga na UFMG neste ano...
spot_imgspot_img

O preço de pegar a contramão da história

O Brasil não é um país de iguais. Aqui tem pacto da branquitude, privilégio branco, colorismo, racismo, machismo e meritocracia aplicada de maneira assimétrica. Tudo...

Mais um ataque à democracia

Semana passada tirei da estante e reli trechos do livro "Como as Democracias Morrem", de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. Tentava entender melhor o...

Somente 7 estados e o DF têm cotas para negros em concursos públicos. Veja quais

Adotadas no Executivo federal, as cotas raciais nos concursos para entrada no serviço público avançam em ritmo bem lento nos outros níveis de governo,...
-+=