Ativistas alemães criam movimento em redes sociais contra o racismo

Inspirados pela controvérsia sobre o jogador de futebol alemão, de origem turca, Mesut Özil e pelo movimento #Metoo, que em 2017 incentivou mulheres francesas a denunciarem casos de agressão sexual, alemães lançaram o movimento #MeTwo.

Do Observatorio Racial Futebol

Mesut Özil (Reuters/Kai Pfaffenbach)

Centenas de imigrantes de primeira ou segunda geração testemunham nas redes sociais sobre os casos de racismo que enfrentam no cotidiano.

A palavra-chave #Metwo é uma referência aos dois corações, “um alemão e outro turco”, que o ex-jogador da Seleção da Alemanha afirmou ter no peito. A hashtag está liderando as tendências do Twitter no país, nessa sexta-feira (27).

Polêmica fora dos gramados

O craque do Arsenal, de 29 anos, anunciara que não defenderia mais as cores da Mannschaft após a Copa do Mundo da Rússia, alegando ser vítima de racismo na federação de futebol (DFB). A decisão do jogador abriu polêmica na Alemanha, enquanto ministros da Turquia elogiaram sua luta contra o “fascismo”.

“Como muita gente, minhas raízes vão além de um país. Cresci na Alemanha, mas minha história familiar tem suas raízes solidamente arraigadas na Turquia. Tenho dois corações, um alemão e outro turco”, resumiu à época, o jogador.

A discussão começou depois de o atleta se encontrar com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e tirar fotos ao lado do chefe de Estado, também acompanhado de outro jogador de origem turca, Ilkay Gundogan.

Özil, que nunca ocultou sua religião muçulmana, justifica que o encontro não teve qualquer intenção política. Mas a imagem valeu muitas críticas, sobretudo, após a eliminação da Seleção Alemã na primeira fase do Mundial da FIFA.

O #MeTwo se apresenta como uma hashtag “contra a discriminação em relação às minorias, propondo um debate construtivo sobre valores”, explicou à revista Der Spiegel, Ali Can, um ativista antirracismo de 25 anos que chegou à Alemanha em 1995 e que lançou a campanha na internet chamando os alemães a testemunharem em massa.

Em 24 horas, mais de três mil internautas de origem polonesa, turca, vietnamita e outras escreveram depoimentos, muitas vezes em inglês, à imagem da campanha #Metoo do ano passado contra a violência e a discriminação contra mulheres.

Entre as mensagens publicadas por jovens de minorias étnicas há frases como “Você está bem integrado para um turco”. Há também depoimentos de situações embaraçosas, como a vivida por rapaz que conta o que lhe aconteceu em uma fila: “Eu disse para o idoso atrás de mim passar à frente e ouvi que ele preferia ficar de olho em mim”.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas (SPD), também usou a hashtag para aconselhar aqueles “que pensam que o racismo na Alemanha não é mais um problema” para lerem esta onda de testemunhos “impressionantes e dolorosos”

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