Atleticanos e sociedade não podem banalizar o estupro

Um time como o Galo, cujo slogan é “paixão do povo”, deve se comprometer com a defesa da igualdade. E os clubes em geral não podem mais se esquivar de sua responsabilidade no combate às diversas formas de violência

Atletas cometem agressões, como fez Robinho, e não são responsabilizados, nem pelos clubes, nem pela imprensa

Por Feministas do Galo Do Rede Brasil Atual

Nos últimos meses, inúmeras denúncias de assédio sexual no mundo do cinema fizeram com que diretores e grandes atores tivessem que dar explicações públicas diante dos casos envolvendo mulheres e homens que, finalmente, tiveram coragem de denunciar. No futebol, jogadores, empresários e dirigentes frequentemente são blindados de críticas, de denúncias e, inclusive, de condenações judiciais referentes à violência contra a mulher. Atletas cometem agressões e não são responsabilizados por isso, nem ao menos têm as portas dos clubes fechadas, visto que são protegidos pelo estrelato.

Por isso, nós, Feministas do Galo, viemos tornar pública nossa indignação com o silêncio da diretoria do Galo, da torcida alvinegra e da imprensa diante da condenação a nove anos de prisão do jogador Robinho por participar de um estupro coletivo de uma mulher albanesa na Itália.

Entendemos que a certeza da impunidade se torna um apoio, um incentivo ao crime e à violência, além de ofender profundamente a nós, torcedoras, e todas as mulheres que sofrem todos os dias tanto com as agressões, quanto com a impunidade daqueles que agridem.

Nossa luta é para que as mulheres, tratadas como objetos, resumidas à posição de modelos para desfilarem nas passarelas os uniformes da coleção ou nas propagandas de cerveja, tenham espaço para atuarem como profissionais nos clubes e na imprensa. Queremos respeito e tratamento igualitário. Queremos que os clubes não se esquivem de sua responsabilidade social no combate às diversas formas de violência.

O mundo do futebol precisa começar a refletir sobre sua contribuição para um mundo menos violento, por isso lutamos também para uma mudança na postura de muitos torcedores e de jornalistas esportivos que, recorrentemente, promovem ou reiteram condutas preconceituosas, racistas, homofóbicas e machistas.

Tais comportamentos geram inúmeras consequências para a vida individual e social das pessoas. Principalmente para os inúmeros torcedores homossexuais e transexuais que se sentem violentados ao ouvir gritos homofóbicos e transfóbicos. Esses torcedores sofrem com preconceito que pode resultar em violência física e mortes. Um esporte como o futebol precisa ser democrático e acolher todo tipo de torcedor.

Um time como o Galo, que carrega o slogan de “paixão do povo”, deve se comprometer com a defesa da diversidade, da igualdade, do respeito a todos sem distinção. Por isso, acreditamos que manter um jogador condenado por estupro no plantel do time é uma violência contra todas as mulheres e contra todos aqueles que lutam em defesa do fim da violência contra a mulher.

O estupro não pode ser banalizado. A violência doméstica contra a mulher não pode ser banalizada, muito menos a homofobia e o racismo. As vozes femininas são constantemente negligenciadas no futebol, tanto pelos clubes, quanto pelas torcidas.

Também somos Clube Atlético Mineiro, também fazemos parte da massa – que consta no estatuto do Clube como seu patrimônio – e, por isso nossa voz também deve ser ouvida e nossos anseios atendidos. Para que isso aconteça, continuaremos a nos pronunciar, a exigir que o clube assuma sua responsabilidade em relação as suas torcedoras.

Por isso, nós, torcedoras atleticanas, convidamos a todos os amantes do futebol ao debate e à reflexão sobre a violência de gênero em suas várias formas. Convidamos a refletir também maneiras de fazer com que os clubes, as torcidas e todos os envolvidos no espetáculo que é o futebol atuem de forma positiva a fim de contribuir para uma mudança de pensamento e de atitudes que valorizem a igualdade, o respeito e a tolerância.

​*​Feministas do Galo​ é um coletivo de mulheres atleticanas que preferem não se identificar por questão de segurança

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