Aumentam preconceitos contra crenças de origem africana no Brasil

Autora: Camila Campos (Belo Horizonte)

Edição: Madalena Sampaio/António Rocha

Foto: Deldebbio

A intolerância religiosa é marcante no Brasil e afeta principalmente pessoas ligadas às crenças de origem africana, revela uma pesquisa da Relatoria Nacional de Educação. E esta situação começa desde cedo nas escolas.

O número de casos de intolerância em escolas públicas, sobretudo em relação a seguidores de religiões de matriz africana, está a aumentar, diz a investigadora e relatora nacional da educação Denise Carreira. “São religiões que constituem espaços de resistência do povo negro no Brasil. Historicamente, essas religiões foram muito perseguidas, foram demonizadas, sobretudo por religiões de matriz cristã”, lembra.

A investigação da Relatoria Nacional de Educação mostra ainda que a crítica situação começa desde cedo nas escolas, com casos de professores demitidos e alunos apedrejados, vítimas do racismo. O relatório contém também um conjunto de recomendações para enfrentar diversos problemas ligados ao racismo na educação, entre os quais a intolerância religiosa.

Este levantamento, que faz parte dos trabalhos da Relatoria Nacional da Educação com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), foi feito a partir de denúncias que chegaram ao órgão, após missões que perceberam um aumento de casos de intolerância religiosa em escolas públicas brasileiras.

Silêncio torna casos “invisíveis”

Humilhações na sala de aula, segregação e isolamento são alguns dos tipos de preconceito que sofrem os alunos, de acordo com a relatora nacional da educação. Denise Carreira diz que há casos de professores que foram demitidos por abordarem conteúdos sobre essas religiões como parte da cultura brasileira. E também há casos de crianças que foram apedrejadas por serem adeptas de religiões de matriz africana.

O problema, segundo a investigadora, é que “existe um grande manto de silêncio que torna invisíveis esses casos”. E porque têm medo de serem perseguidas, geralmente as vítimas também temem a denúncia.

Perante este cenário, e após apresentar as recomendações ao Congresso brasileiro e ao conselho da ONU, a relatora espera que a população não tenha medo e denuncie cada vez mais.

Faltam procedimentos mais nítidos

Questionada sobre como reagem as autoridades brasileiras quando uma criança é apedrejada ou um professor é demitido, entre outras situações, a pesquisadora responde que “há falta de procedimentos mais nítidos para lidar com esta problemática.”

O governo federal tem um plano nacional de combate à intolerância religiosa, que pretende atuar em escolas. Por outro lado, Denise Carreira defende, sobretudo, “a importância fundamental da implementação da lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira em toda a educação básica”, que vê como uma forma de “enfrentar o racismo presente na educação brasileira e construir caminhos para enfrentar a discriminação e a intolerância religiosa nas escolas.”

A Relatoria Nacional de Educação promete apresentar um relatório mais amplo sobre educação e racismo no Brasil até ao próximo mês de maio.

Fonte: Zwela Angola

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