Baco afirma que racismo se tornou mais rotineiro em sua vida após a fama

Rapper baiano falou sobre muitos assuntos interessantes em nova entrevista.

Por Vinicius Voutsinas, do RapMais

Baco Exu do Blues, homem negro, fazendo pose para foto.
O rapper baiano Diogo Moncorvo, mais conhecido como Baco Exu do Blues (Foto: Daryan Dornelles)

A acensão meteórica de Baco Exu do Blues no mainstream nacional é de se admirar, de “Sulicidio” até seu recente álbum BLVESMAN não se passou muito tempo mas neste período se tornou uma estrela da música nacional.

Com shows com ingressos esgotados e participando de muitos festivais, Baco não pretende tirar o pé do acelerador tão cedo. Agora, o rapper está de volta ao Rio de Janeiro para se apresentar no Fabrika Apresenta e conversou com o UOL para divulgar o evento.

Baco falou sobre seu sucesso, colaborações com Caetano Veloso, sua entrevista para Lazaro Ramos e sua vida após a fama. Porem, as partes mais interessantes da conversa surgiram quando Baco explicou sua visão sobre a geração de artistas baianos que vem surgindo, o cenário do rap atual e o mais importante, o racismo enfrentado pelos negros, incluindo com artistas famosos.

Confira os trechos abaixo e a entrevista completa aqui.

Geração Baiana

“Cara, acho que não existe uma geração baiana na parada. Existe a Bahia, que nunca parou de produzir artistas fodas e sempre tem esse diferencial dos artistas baianos, quando eles chegam na ascensão, quando o grande público percebe eles. Eu acho que tratar como um divisor de gerações é meio doido porque a Bahia nunca parou de produzir esses artistas. Sempre existiu essa parada da Bahia ser um dos nomes mais fortes do Brasil na música. E acho que é mais legado do que geração. Somos o legado que aprendeu com a galera e continua essa reprodução. Dividir por geração é complicado, porque, se a gente for ver, eu sou de uma bem mais nova do que o Baiana, do que o Àttooxxá, tenho bem menos tempo de carreira que eles. Então, a gente não é da mesma geração, mas somos da mesma Bahia, eu acho.”

Cenário do Rap 

“Eu acho que é um momento de calma e pouca afobação. Eu acho que a gente está conquistando muita coisa, mas os próximos passos têm que ser muito pensados, para tirar a impressão de que o rap é um subgênero das pessoas que não são ouvintes do estilo. O grande público tem que, cada vez mais, entender o rap como música, e não um uma subdivisão da música. Então esse é um momento de se organizar — a gente já chegou num ponto muito foda —, trabalhar de forma que a gente consiga não estou falando nem aceitação de ninguém, mas deixar claro que não é fácil fazer o que a gente faz.”

Racismo

“Vira mais rotina. Porque, a partir do momento em que você vive em ambientes mais brancos e mais ricos, de certa forma, de pessoas que têm mais dinheiro, obviamente te olham mais ainda como se você não pertencesse àquele lugar. Se as pessoas já te olham estranho quando você está na rua, acham que você não merece andar na mesma rua que elas, imagina quando te veem jantando no mesmo lugar que elas, comprando roupa no mesmo lugar que elas.”

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