Carrie Fisher: ‘Não seja uma escrava como eu fui’

Estreia do novo título da franquia Star Wars levou fãs a retomar debate sobre a erotização de sua única estrela feminina

Do Carta Capital

Antes do tão aguardado lançamento de Guerra nas Estrelas: O Despertar da Força, os fãs da franquia reviveram uma controvérsia sobre uma figura que marcou a cultura pop por décadas: a princesa Leia usando um biquíni dourado e com uma corrente gigante em torno de seu pescoço.

O debate se deu por duas razões. Primeiro, o furor sobre a natureza altamente sexualizada do traje “escrava Leia”, como é chamada oficialmente. E, segundo, sobre a suposta decisão da Disney de retirar todas as mercadorias relacionadas a ela das prateleiras das lojas – eliminando, efetivamente, a única e importante personagem feminina da trilogia original de Guerra nas Estrelas.

Os rumores de que a “escrava Leia” seria removida das prateleiras – o que a empresa não quis comentar – começaram quando um artista da Marvel, que também faz parte do grupo Disney, postou em seu perfil no Facebook que ele ouviu de diversas e importantes fontes da empresa que os brinquedos e produtos da “escrava Leia” seriam descontinuados.

O movimento foi supostamente associado à luta da empresa com as implicações de vender um brinquedo que representa uma mulher de biquíni acorrentada pelo pescoço por seu carrasco, o gângster alienígena Jabba, o Hutt.

A atriz Carrie Fisher, que interpretou a princesa Leia na trilogia original e repete o papel em O Despertar da Força, falou de seu repúdio em relação ao traje.

“Não seja uma escrava como eu era”, disse Fisher para Daisy Ridley – que interpreta o papel no novo filme, que tentou redimir os pecados do passado ao incluir personagens femininas – em recente entrevista à revista Interview. “Lute pelo seu figurino. Continue lutando contra o traje de escrava”, afirmou Fisher.

Por outro lado, Fisher rejeitou a controvérsia de merchandising em comentários mais recentes ao jornal Los Angeles Times, ao dizer que “indicar que o traje é algum tipo de acessório sadomasoquista é absolutamente estúpido”.

“Eu concordo plenamente que pessoas estão indo longe demais nas suposições sobre o que realmente o traje quer dizer”, opina Alexandra Steiger, autoproclamada “fã de longa data da princesa Leia”, em entrevista à DW. “Mas isso precisa ser considerado no contexto do filme.”

Apesar de Leia ser a única personagem feminina importante do filme, Steiger afirma que “sua presença é sentida mais que suficiente”. Como uma líder de uma rebelião, responsável e corajosa, pela maior parte dos 386 minutos da trilogia original, não importa se Leia é passiva e acorrentada por 15 minutos.

Ao olhar esses 15 minutos de vergonha, é também importante lembrar que “ela consegue virar o jogo, mata Jabba e usa sua corrente como uma arma”, afirma Natalie Wreyford, especialista na representação de mulheres no cinema da Universidade de Southampton, em entrevista à DW.

“Não é problemático como brinquedo, mas é problemático porque é a única representação de Leia amplamente disponibilizada”, afirma Wreyford, e não apenas com parte do merchandising do filme: as representações midiáticas de Leia também tendem a colocá-la nesse traje.

“Esse traje não representa o caráter dela, e nós sabemos que Carrie Fisher relutou em usá-lo”, diz Wreyford.

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No entanto, um problema ainda maior, de acordo com Wreyford, é o fato de, ao descontinuar a venda dos produtos “escrava Leia”, a Disney ter praticamente erradicado a princesa Leia das prateleiras, enquanto seus colegas do sexo masculino se multiplicaram.

Em 2014, Wreyford ficou desapontada ao entrar em uma loja da Disney com seus dois filhos pequenos e ver que os brinquedos eram claramente separados em “para meninos” e “para meninas” – sendo que os produtos de Guerra nas Estrelas estavam somente na seção para os meninos. Até mesmo na nova linha e de alta tecnologia que a Disney acabou de introduzir, todos os personagens principais do sexo masculino foram bem representados, com nenhuma Leia à vista.

Wreyford diz que o problema não é apenas a decepção de sua filha, que ama a princesa Leia. “Eu gostaria também que meu filho observasse que as mulheres são importantes, mas não é isso que está acontecendo com o marketing da Disney”.

“Os homens não são mais responsáveis pela maior parte da bilheteria”, afirma Wreyford, depois de realizar uma pesquisa sobre o assunto. Apesar disso, a Disney permanece “desinteressada em ver as meninas como consumidoras de produtos Guerra nas Estrelas”.

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