Intérprete de jazz, que diz sentir afinidade com o gênero do sul dos EUA, se apresenta com destacados músicos de Nova Orleans
Ela só esteve uma vez no Brasil, em 1994, quando substituiu às pressas o cantor Mel Tormé, no extinto Free Jazz Festival.
Agora, consagrada como uma das maiores intérpretes do jazz na atualidade, Cassandra Wilson, 53, retorna para se apresentar amanhã e sexta em São Paulo (no Bourbon Street e no HSBC Brasil, respectivamente) e, no domingo, no Vivo Rio.
“Os dias que passei aí foram excitantes, mas não tive tempo para conhecer a Bahia, o que quero muito fazer desta vez. Sinto que essa será uma experiência que vai enriquecer minha vida”, diz a cantora à Folha, por telefone, de sua casa em Jackson (no Mississipi, sul dos EUA), onde nasceu.
Quem acompanha a carreira de Cassandra desde os anos 80, quando seu vozeirão expressivo despontou no M-Base (coletivo de vanguarda de jazzistas radicados em Nova York), sabe que em seus últimos discos ela tem demonstrado uma ligação mais íntima com o blues. Isso fica evidente em suas releituras de clássicos de Robert Johnson e Muddy Waters.
“Tudo parece levar a que eu me aproxime mais do blues, este que foi um dos componentes primários do jazz. Como o blues é uma música bastante emocional, quanto mais eu amadureço, melhor entendo como essa emoção pode ser poderosa”, comenta.
A intimidade com o blues e outras vertentes musicais do sul dos EUA também transparece na banda que a acompanha. Seu quinteto, que inclui Marvin Sewell (guitarra) e Lekan Babalola (percussão), destaca três dos melhores músicos da atual cena do jazz em Nova Orleans: o baterista Herlin Riley, o baixista Reginald Veal e o pianista Jonathan Battiste.
Afinidade
“Sou muito próxima de Nova Orleans, em termos culturais, porque Jackson fica apenas duas horas ao norte”, afirma a cantora. “A comida, que é algo importante, o clima ou mesmo o dialeto dessas cidades são muito próximos. A geografia permite essa afinidade.” Mas essa é só uma faceta do eclético repertório de Cassandra, que em “Loverly” (Blue Note), seu mais recente CD, recria standards do jazz, como a exótica “Caravan” (Duke Ellington) e a romântica “The Very Thought of You” (Ray Noble). Ou até um clássico da bossa nova, como “Black Orpheus” (versão de “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá).