Comida mofada e banana de presente: diretora de escola denuncia caso de racismo após colegas pedirem saída dela sem justificativa em MG

A Comissão Permanente de Promoção da Igualdade Racial e Enfrentamento ao Racismo da Câmara Municipal de Uberaba investiga o caso, que ocorreu em uma escola municipal.

Gladys Roberta Silva Evangelista alega ter sido vítima de racismo na escola municipal onde atua como diretora, em Uberaba. Segundo a servidora, ela está sendo perseguida por colegas que pediram a retirada dela do cargo sem justificativa.

A Comissão Permanente de Promoção da Igualdade Racial e Enfrentamento ao Racismo da Câmara Municipal de Uberaba apura o caso. A primeira oitiva com a diretora foi realizada na segunda-feira (11). Outros envolvidos serão ouvidos em breve.

“Temos provas, temos nomes e será apurado a rigor. Não estamos aqui para brincar, estamos para ouvir as pessoas. Esse momento é importante para mostrar para a sociedade que existem leis e elas existem para serem cumpridas”, disse o presidente da comissão, o vereador Pastor Eloísio (PTB).

Em entrevista à TV Integração, Gladys afirmou que passou a notar o tratamento diferente por parte de um grupo de colegas de trabalho após chegar ao cargo administrativo da Escola Municipal Jane Luce Araújo, em dezembro de 2021.

“Eu sempre fui professora, me consideravam enquanto professora. Mas, quando vim para o outro lado, como administradora, passei a perceber algumas coisas, algumas falas e olhares”, relatou a servidora, que tem 19 anos de serviço à Secretaria Municipal de Educação.

No último aniversário, Gladys conta ter recebido uma caixa de café da manhã com alimentos mofados, mordidos e com uma banana em cima.

“As coisas estavam dentro de um saco plástico amarrado com linha. E, por cima, uma banana grande. Todo mundo na escola sabe que eu não como banana, não gosto nem do cheiro”, disse.

“Eu pensei em desistir. Mas toda vez que meus filhos me dão um ‘bom dia ou boa tarde, diretora’, eu vejo o orgulho deles. Eu só quero trabalhar, eu preciso trabalhar”, desabafou Gladys.

O que diz a Prefeitura

Em nota, a Prefeitura de Uberaba informou que criou, em 2023, uma comissão para apurar o caso. E o relatório final apontou que não há indícios de que a funcionária tenha sido vítima de atos ou condutas racistas. Por isso, ainda segundo a prefeitura, o caso foi arquivado e enviado à Polícia Civil.

O g1 contatou a Polícia Civil para saber se foi aberto inquérito para apurar a denúncia e aguarda retorno.

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