CONCENTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DO RENDIMENTO POR RAÇA NO BRASIL

RESENHA

KILSZTAJN, Samuel e col. Concentração e distribuição de rendimento por raça no Brasil. Revista de economia contemporânea. 9(2). 2005. Rio de Janeiro. 367-384.

AUTORES

Samuel Kilsztajn
Doutorado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil (1984) Pós-Doutorado pelo New School for Social Research, Estados Unidos (1987) Professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo , Brasil

CARMO, M.S.N
Graduação em andamento em Ciências Econômicas
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP, Brasil.

Gustavo Sugahara
Graduação em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil (2004) Atuação em Economia Social
Investigador do Centro de Estudos Sobre a Mudança Socioeconômica , Portugal

Érica Lopes
Graduação em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil (2005)

IDÉIAS PRINCIPAS

Os autores compararam a distribuição de renda no contexto negros e não negros e, relatam que maior parte do rendimento está concentrado nas mãos nos não-negros. Mas eles destacam que a questão de má distribuição de renda no país extrapola a questão racial, pois existem não-negros nas classes mais pobres. De acordo com o artigo, em 2001, todo brasileiro que possuía renda domiciliar de R$ 1005,50 já se encontrava entre os mais ricos, ou seja, 8,2 milhões de habitantes. Por outro lado, um não-negro com rendimento domiciliar per capita mensal de R$ 1.375 fazia parte dos 5% não-negros mais ricos do país; e um negro com rendimento domiciliar per capita mensal de R$ 522 fazia parte dos 5% negros mais ricos do país. Ou seja, a má distribuição do rendimento entre negros independe da existência de negros milionários.

Outra questão importante levantada pelo autores é a injustiça social. Em relação à injustiça racial, a questão negra é muitas vezes intencionalmente subordinada à questão da injustiça social. A situação dos negros seria a mesma dos trabalhadores pobres e, portanto, resolvido o problema da pobreza no Brasil (de negros e brancos), estar-se-ia resolvendo o problema da injustiça racial. Esta simplificação tem como origem a sobreposição parcial (interseção) da questão negra e da pobreza no país (“a maioria dos negros é pobre e a maioria dos pobres é negra”). A questão negra, desta forma, não se resume à questão social. Embora não se devam medir esforços para a erradicação da injustiça social no país, a questão racial constitui um capítulo à parte. Os negros estão sim sobre-representados nas camadas pobres, de baixa escolaridade, no trabalho infantil, no trabalho informal, nos empregos domésticos, de lavadeira/passador, lixeiro, varredor etc.; por outro lado, estão excluídos ou sub-representados entre advogados, juízes, médicos, dentistas, engenheiros, professores universitários etc. Em 2002, dos 1.057 diplomatas em atividade, somente oito eram negros, 0,8% do total. Políticas universalistas, portanto, não são suficientes para enfrentar a desigualdade e a discriminação racial no país (Jaccoud e Beghin, 2002, p. 43). O valor do rendimento pessoal do trabalho de negros é sempre inferior ao das demais categorias de raça/cor, mesmo quando se controla o nível de escolaridade. Contudo, a questão da injustiça racial fica ainda mais evidente quando se considera que, para um mesmo nível de escolaridade, o rendimento dos negros também era sempre inferior ao rendimento dos não-negros.

RESUMO

O artigo inicia-se trazendo alguns dados de como a população negra se introduziu no Brasil e como a questão histórica pode trazer uma resposta satisfatória para poder justificar os números, ou seja, a população considerada negra é relativamente alta. Fala sobre a questão racial e como a distribuição per capita está relacionada com a raça/cor. O artigo enfatizou a dificuldade que se tem em discriminar quem é negro e quem é considerado não-negro, pois em algumas pesquisas realizadas pelo IBGE as raças ambíguas como morena e morena/claro aparecem, o que leva a uma postura diferente ao se considerar este ou aquele como negro. Uma questão importante ao se comentar a respeito do preconceito é que a maioria dos brancos entrevistados não se considerava racistas, mas conheciam sempre alguém que era. E os entrevistados negros diziam não ter sofrido discriminação direta, mas que conheciam alguém que havia sofrido. Ou seja, vítima e racista no Brasil é sempre o outro. Na primeira metade do séc. XX grande parte da população descendente de escravos ficou condenada a viver na marginalidade econômica. Isso aconteceu, pois sempre houve uma igualdade formal de direitos, mas nunca uma igualdade nas oportunidades. Percebe-se que o preconceito extrapola a questão escolaridade, pois mesmo negros com escolaridade equivalente a dos não-negros ainda possuem renda menor. Em 2001, de acordo com o artigo, um não-negro com rendimento domiciliar per capita mensal de R$ 1.375 fazia parte dos 5% não-negros mais ricos do país; e um negro com rendimento domiciliar per capita mensal de R$ 522 fazia parte dos 5% negros mais ricos do país. A má distribuição do rendimento no Brasil se reproduz na má distribuição do rendimento entre negros e não-negros, o que significa que a injustiça social no Brasil extrapola a questão racial e se manifesta também entre as categorias de raça/cor.

CITAÇÕES

“A análise conjunta de pretos e pardos justifica-se porque o padrão de rendimento médio por escolaridade, experiência e outras variáveis socioeconômicas é extraordinariamente semelhante entre pretos e pardos e substancialmente diferente entre estes e as demais categorias de raça/cor” (Silva, 1980, p.372 apud KILSZTAJN e col.,2005, p.372).

“Em relação à injustiça racial, a questão negra é muitas vezes intencionalmente subordinada à questão da injustiça social. Para o marxismo ortodoxo, a situação dos negros é explicada quase que exclusivamente pela sua posição econômica como classe trabalhadora. O racismo seria utilizado pela classe dominante para dividir os trabalhadores, como esclarece Hasenbalg” (Hasenbalg,1979, p.109 apud KILLSZTAJN e col., 2005, p.373).

“O valor do rendimento pessoal do trabalho de negros é sempre inferior ao das demais categorias de raça/cor, mesmo quando se controla o nível de escolaridade” (Hasenbalg, 1979; Silva, 1980 apud KILLSZTAJN e col., 2005, p.375).

“As oportunidades dos filhos negros são menores que as dos não-negros mesmo quando se controla a posição social das famílias de origem; e o negro tem também maior propensão a perder posições sociais conquistadas por seus pais” (Hasenbalg e Silva, 1999, p. 198-199 apud KILLSZTAJN e col., 2005, p.376).

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Matéria original

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