Coronavírus: população em situação de rua de São Paulo está à própria sorte

Gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) não apresentou qualquer plano para proteger da epidemia cidadãos que já não têm nada

Por Rodrigo Gomes, da RBA

RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

São Paulo – Em meio à epidemia de coronavírus em São Paulo, os governos estadual e municipal – ambos do PSDB – não apresentaram qualquer medida para proteger a população em situação de rua. “A população de rua está à própria sorte. Não sabemos se é pior a pessoa ir para um abrigo ou ficar na rua. Não adianta ter galpão, sem arejar, com 400 pessoas no mesmo espaço e 50 centímetros de espaço entre as camas, sem condições básicas de higiene”, afirma Edvaldo Gonçalves, coordenador paulista do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR).

Gonçalves diz que o movimento tentou uma reunião de emergência com a Defensoria Pública, o Ministério Público e o governo do prefeito Bruno Covas. Mas todos alegaram os cuidados de isolamento e evitar aglomerações para não aceitar a proposta. “Esse era um planejamento para ser feito antes. Mas ninguém se preocupou. Agora não adianta colocar álcool gel na entrada do abrigo, não é isso que vai proteger a população de rua”, afirmou. Entre as medidas que o MNPR defende, estão a colocação de divisórias nos espaços, afastamento das camas, isolamento de idosos, ampliação da ventilação e disponibilidade de material de higiene.

Segundo o MNPR, cerca de 40% da população de rua tem algum problema de saúde que pode levar a complicações no caso de uma infecção por coronavírus. Das 24 mil pessoas nessa situação, segundo o censo municipal – que o movimento indica ser mais de 30 mil –, cerca de 7 mil são idosos. Tuberculose, má alimentação, más condições de higiene são alguns dos principais problemas. O governo Covas não informou se há plano de ação para proteger a população de rua do coronavírus.

O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua, avalia que as medidas anunciadas até agora pelos governos municipal e estadual são inacessíveis para essa população. “A doença é para todos, mas a prevenção é para alguns. Como vão higienizar as mãos constantemente, se nem nos centros de acolhida (os CTAs) tem sabão ou álcool gel disponível? Nesses locais você chega a ter 400 pessoas no mesmo espaço, sem ventilação, com condições de higiene precárias”, destacou.

A Arquidiocese de São Paulo ofereceu a Casa de Oração do Povo da Rua para acolher pessoas em situação de rua que estiverem com coronavírus. O espaço fica no centro da capital paulista e tem capacidade para isolar até 50 pessoas. As secretarias municipais da Saúde e da Assistência Social estão analisando a proposta.

Lancellotti defende que as mesmas medidas do MNPR, além da distribuição de máscaras, luvas e álcool gel nos espaços. As medidas foram adotadas na Missão Belém, espaço da pastoral que acolhe a população de rua. “A população também pode ajudar, abrindo espaço para que essas pessoas possam lavar as mãos, doando álcool gel. Vivemos um tempo de egoísmo, mas é preciso solidariedade”, afirmou.

 

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