Por: Walmyr Júnior
Gostaria de compartilhar nessa coluna um texto sensacional da militante do Coletivo Enegrecer Marcela Ribeiro. A jovem estudante, diretora de Combate ao Racismo da UNE, reflete a cerca das políticas de ações afirmativas, fazendo recorte nas cotas raciais para o funcionalismo público federal.
Para nós esse debate é muito importante pois, a partir dele, vamos ter um maior empoderamento da população negra e veremos mais negros e negras ocupando espaços que sempre foi ocupado pela população não negra. Segue abaixo o texto da Marcela!!
“Já passamos exaustivamente por esse debate e não faz muito tempo. No julgamento da constitucionalidade das cotas para universidades públicas reconheceu-se mais que a legalidade da política afirmativa, reconheceu-se a dívida histórica do estado brasileiro com o povo negro, reconheceu-se que o racismo ainda existe nesse país.
Apesar de argumentações similares o objeto de discussão é distinto, agora não se trata mais das cotas nas universidades, mas, das cotas em concursos públicos. Aprovada no Senado, a lei que garante reserva de 20% das vagas em concursos públicos federais para negros e negras (incluindo aí os “pardos” do IBGE) velhas falsas polêmicas colocam roupa nova e trazem mais uma vez o cinismo do racismo à baila.
Ora, se há o reconhecimento da dívida histórica do estado brasileiro com o povo negro, não seria uma das formas de reparação o empoderamento econômico desse setor?! E mais, se há o reconhecimento da existência de racismo na organização política, social e econômica do Brasil, não seria correto democratizar os espaços da administração pública?
Segundo o racismo brasileiro: não! E vemos mais uma vez dizer que a mestiçagem brasileira impede o estabelecimento de políticas públicas afirmativas, novamente vemos questões acerca de como reconhecer quem é negro no Brasil, mais uma vez vemos o debate da meritocracia medíocre e hipócrita.
Nós da União Nacional dos e das Estudantes viemos nos juntar ao povo deste país para dizer mais uma vez: BASTA! Não aceitamos mais a camuflagem da discriminação racial em argumentos legalistas, ou falsos preceitos sociais.
Essas frágeis argumentações da criatividade racista já não convencem e não convencem porque os dados mostram que no momento de segregar socialmente é extremamente nítido quem são os negros e as negras deste país. No momento da política de encarceramento, do genocídio da juventude por parte do estado, de deixar a margem o reconhecimento do direito a terra, de ocupar os postos mais precarizados de trabalho delineia-se muito bem quem é negro ou negra no Brasil.
E seguimos sendo segundo dados oficiais, do IBGE, mais de 50% da população brasileira, sub-representada em menos de 30% entre os servidores públicos, de acordo com o Ministério de Planejamento e a Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (SEPIR). De modo que também temos críticas ao projeto de lei, para começar 20% é pouco, a população indígena não fora contemplada e deixaram de fora os cargos de confiança.
Queremos mais direitos e seguiremos lutando por uma sociedade mais justa e igualitária, o Projeto de Lei (PL) 6.783/13 é um começo no processo de corrigir a disparidade existente, esses 20% representam um avanço significativo na perspectiva de compreensão de democratizar o Estado e igualar as oportunidades.
Mesmo assim o povo negro quer mais. Teremos cada vez mais que lutarmos juntos.
Combater ao Racismo essa luta nos: UNE!”
* Walmyr Júnior Integra a Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio de Janeiro. É membro do Coletivo de Juventude Negra – Enegrecer. Graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.
Fonte:Jb