Denúncias contra racismo na web sobem 34,15% em 2014

O racismo existe sim. E o fenômeno das redes sociais jogou luzes a algo que sempre existiu, disse a delegada Diana Calazans Mann – Foto: Henrique Medeiros / Terra

Eleições e Copa do Mundo foram os maiores períodos ligados às reclamações de crime online

por Henrique Medeiros no Terra

O número de acusações contra páginas consideradas racista na internet brasileira subiu 34,15% em relação a 2013.

Segundo dados apresentados nesta terça-feira pela Central de Denúncias de Crimes Cibernéticos (CND) da SaferNet Brasil, ONG ligada ao Centro Gestor da Internet Brasileira (CGI.br), foram recebidas 86.570 denúncias anônimas de racismo envolvendo 17.291 páginas na rede.

Quando o tema é a xenofobia os dados são mais alarmantes.

Houve um crescimento de 365,46% nas denúncias de paginas xenófobas, com 9.921 reportações que envolviam 6.275 sites. A maioria desses sites tiveram suas movimentações ligadas ao período final da eleição presidencial de 2014.

O dia após o segundo turno das eleições, 27 de outubro de 2014, foi o período com maior número de denúncias, foram 10.376 reclamando de 6.909 links diferentes das redes sociais. O numero do ano passado é um recorde de acordo com o instituto, superando as reclamações apresentadas em 2006, também ano de eleições para Presidência da República.

Segundo Thiago Tavares, presidente do SaferNet Brasil, os dados são a somatória de todas as categorias ligadas ao crime de ódio (racismo, xenofobia e até nazismo).

“Muitas dessas páginas eram o mesmo conteúdo compartilhado”, afirma Tavares. “Teve muitas denúncias que não eram caracterizadas como crime. No calor da disputa eleitoral, muitos denunciavam outras pessoas por comentários políticos e não criminosos. Nós tivemos de tudo”.

Ele ainda compara o período de acusações com o número de trotes para o telefone de alertas da Polícia Militar, o 190, algo em torno de 60%. “Imagine, na internet você tem um número alto de ‘falso ou verdadeiro’”. Porém, ele recorda que das denúncias verdadeiras, a maioria era contra cidadãos do norte e nordeste do País.

A delegada da Policia Federal responsável pela divisão de crimes cibernéticos, Diana Calazans Mann, afirma que 2.780 investigações estão sendo feitas ligadas ao ódio e xenofobia pela PF.

“Na minha visão pessoal, esse foi um momento (eleições) que se externou o racismo. O racismo existe sim. E o fenômeno das redes sociais jogou luzes a algo que sempre existiu”, disse a delegada. “As pessoas que se chocaram não conhecem a realidade”.

Ainda de acordo com Diana, o lado positivo é que os preconceituosos podem facilmente serem identificados. A oficial da PF ainda indicou um aumento nas prisões de pessoas por crimes cibernéticos foram 126 flagrantes em 2014, ante 47 em 2012 e 97 em 2013.

Prostituição, Sexting e cyberbulling
Além do período das eleições, a Copa do Mundo de 2014 também deu origem a uma série de novos problemas envolvendo o tráfico de pessoas. Houve um aumento de 192,93% de queixas anônimas em relação ao ano anterior.

Essas páginas, em sua maioria, faziam referencias ao agenciamento de prostitutas durante o torneio, inclusive adolescentes, para cidades-sede como Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza.

Já o sexting, vazamento de fotos íntimas, teve um crescimento de 119,8% de casos em relação a 2013. Desses, os meninos e meninas do Brasil são os que mais preocupam com 53% deles com até 25 anos de idade, sendo que 25% são menores de idade, entre 12 e 17 anos de idade e 28% entre 18 e 25 anos de idade.

A delegada Diana ainda alerta que, em muitos casos, o sexting acaba viralizando na rede como meio de denúncia, algo que na verdade compromete a integridade da vítima.

“Vou dar um exemplo. A gente viu um sexting de uma menina de 2 anos de idade sendo compartilhado (como denúncia) no WhatsApp e Facebook. O que passa na cabeça do cidadão viralizar isso como alerta?”, questiona a policial.

Ela ainda alerta que essas pessoas, que compartilharam vídeos de sexting ou conteúdo de pornografia, também serão chamadas pela PF para responder pela exposição das vítimas.

Diana ainda aponta que em 2014, há 4 mil inquéritos apenas com relação a vídeos compartilhados.

O cyberbulling também continua sendo um problema com 177 casos ligados a humilhações e intimidações repetitivas por meio das redes sociais e aparelhos móveis (tablets e celulares). Assim como 136 novos casos de problemas com dados pessoais, referente a violações e exposição de informações de cunho pessoal na rede.

Ao todo o CND teve 198.211 denúncias envolvendo 58.717 páginas da web, delas 7.092 foram removidas um aumento de 8,29% em comparação a 2013.

O Dia da Internet Segura é comemorado em 113 países do mundo, e está presente no calendário brasileiro desde 2009. Mais de 90 atividades simultâneas acontecem em 48 cidades do Brasil nesta terça-feira (10).

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