Graça Machel defende uso da tecnologia na luta contra o racismo

Viúva de Nelson Mandela participou de evento no Rio de Janeiro

“Eu não sou uma pessoa excepcional, mas um exemplo de possibilidades e oportunidades”. A fala é de Graça Machel, que aos 77 anos pode ostentar na biografia experiências como ativista, política, professora, militante na luta pela independência de Moçambique do domínio colonial português, ex-primeira-dama da África do Sul e viúva de Nelson Mandela. Ela participou nesta sexta-feira (6) de uma palestra na Rio Innovation Week, no Rio de Janeiro, e usou o próprio exemplo para falar sobre a necessidade de combate ao racismo e outras desigualdades sociais.

Machel disse que por ser mulher, negra e de origem pobre conhece bem problemas que são comuns no Brasil. E que se solidariza na luta para superá-los.

“O racismo no Brasil é estrutural: foi entrincheirado na economia, na psicologia e na consciência social devido ao fator da escravidão. Ao tocar nessa ferida, estou a aceitar a responsabilidade que também há na África, de onde venho e sou parte. Nós participamos na escravidão, partilhamos responsabilidades e vamos aceitar e confrontar o nosso passado comum”, disse a ativista.

Na palestra, ela defendeu a valorização da diversidade do país como um dos principais passos para a transformação da realidade atual. As novas tecnologias podem ser aliadas nessa busca para ampliar a inclusão dos diferentes grupos sociais, e todos os setores podem ser beneficiados quando se tem um país mais igualitário.

“Falar de ciência, tecnologia e inovação significa pensar em instrumentos aceleradores da transformação econômica, cultural e da consciência social”, destacou Machel. “A inclusão racial e de gênero, a inserção dos pobres no centro, tudo isso vai expandir o mercado para qualquer empresa. Esse não é apenas um problema moral e de justiça social, mas algo que atrai mais clientes, mais criatividade e mais talentos.”

A ativista moçambicana disse que, para as mudanças realmente acontecerem, é fundamental ir além do discurso e da retórica. Segundo ela, só pela força das leis, dos órgãos de fiscalização e de mobilização constante será possível vencer grupos que resistem aos avanços sociais.

“As forças retrógradas podem ter se reorganizado e estarem um pouco mais fortes. É preciso que nós tenhamos clareza sobre os avanços e como levá-los mais à frente, estabelecer formas de luta para desmantelar os que tentam nos puxar para trás. E não pensar que os avanços vão continuar por si próprios. Mas é preciso entender que eles estão se organizando porque se sentem vulneráveis. E por isso devemos aproveitar para cair em cima por meio de instrumentos legais e da organização da sociedade, para que eles se sintam cada vez mais restritos, não tenham capacidade de se levantar e evitar essa nova ordem que os nossos avanços têm estabelecido.”

+ sobre o tema

Subsídio a contraceptivos opõe Igreja e Parlamento nas Filipinas

Uma lei que subsidia o controle de natalidade entrou...

Diálogos Entre Nós – Diversidade e Inclusão

Nós. Primeira pessoa do plural, na certeza e esperança...

Mulheres negras conquistam lugar de fala na internet, no rádio e no audiovisual

"Não quero saber de outra no nosso lugar de...

Mãe faz ensaio fotográfico de filha com namorada: “A luta contra a homofobia também é minha”

A servidora pública, ativista cultural e militante feminista brasiliense...

para lembrar

O racismo diário e invisível

Hoje, dia 21 de março, é o Dia Internacional de...

Pela 1º vez, um rapper gay alcança o topo da Billboard Hot 200

Pela primeira vez na história da Billboard Hot 200,...

Conectas cobra apuração rígida de mortes provocadas por ação da PM

Operação em Paraisópolis evidencia descaso da segurança pública com...
spot_imgspot_img

Exposição em São Paulo com artistas negras celebra a obra de Carolina Maria de Jesus

Assista: Exposição em SP celebra o legado de Carolina Maria de Jesus A jovem nunca tinha visto uma máquina de escrever, mas sabia o que...

Festival Justiça por Marielle e biografia infantil da vereadora vão marcar o 14 de março no Rio de Janeiro

A 5ª edição do “Festival Justiça por Marielle e Anderson” acontece nesta sexta-feira (14) na Praça da Pira Olímpica, centro do Rio de Janeiro,...

Mês da mulher traz notícias de violência e desigualdade

É março, mês da mulher, e as notícias são as piores possíveis. Ainda ontem, a Rede de Observatórios de Segurança informou que, por dia,...
-+=