Dr. Rosinha: Desintoxique-se da hipocrisia e das ideias medievais

Blogs e sites de notícias divulgaram, no último dia 24 de maio: o juiz que mandou prender em 1997 a banda Planet Hemp foi agora aposentado compulsoriamente por ter recebido propina de um traficante. Esta notícia é mais uma das várias mostras da hipocrisia e da falsa moralidade que rondam todos os setores da sociedade brasileira.

Há muitos podres na sociedade e nas instituições, e desses podres os que menos se conhecem são os do Poder Judiciário. Lá de vez enquanto tomamos conhecimento de um deles. Essa notícia é própria do “faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”. É a notícia que tira a máscara de um juiz, do Judiciário e da mídia brasileira, ilustrada pela revista Veja e pelos jornais Estadão, Folha, Globo etc.

Informaram blogs e sites que o juiz Vilmar José Barreto Pinheiro foi condenado pelo Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios à aposentadoria compulsória.

Veja que beleza: o cidadão, digo o juiz, é pego com a mão na botija e em vez de ser condenado à prisão é “condenado” à aposentadoria, ou seja, é condenado a receber R$ 28 mil por mês, e quando morrer, se a mulher ficar viúva, também receberá este valor, devidamente corrigido, até a morte.

Pouca vergonha. Depois querem que nós, simples mortais, aceitemos as decisões da Justiça brasileira. Não custa perguntar: o que tem o ministro Joaquim Barbosa a dizer sobre isso?

Deve estar feliz o senhor Vilmar José Barreto Pinheiro, pois além de ter sido “condenado” a embolsar R$ 28 mil por mês, provavelmente não foi condenado a devolver os R$ 40 mil que recebeu de propina; pelo menos não li notícia sobre isso.

Ainda, para os que não leram os sites e blogs, informo que ele continua levando os 15 segundos de glória que conseguiu quando, em 1997, mandou prender a banda Planet Hemp, por apologia às drogas.

Ironia: I) Os músicos do Planet Hemp são presos por apologia às drogas; II) O juiz Vilmar José Barreto Pinheiro, que mandou prendê-los, é “condenado” a receber uma bolada por mês por ter recebido propina de R$ 40 mil para conceder liberdade provisória a um traficante; e, III) Não custa perguntar: o traficante, será que está livre até hoje?

Na época, 1997, o juiz Barreto Pinheiro, além de mandar prender, proibiu os shows e a venda de discos da banda no Distrito Federal. Deu prejuízo à banda. Como fica isso?

Sobre a “condenação” de Vilmar José Barreto Pinheiro, o Planet Hemp afirmou em nota no Facebook que o juiz é um retrato “da hipocrisia e falso moralismo da sociedade brasileira”, coisa com que concordo plenamente.

A banda afirma também que a prisão do grupo e a “condenação” do juiz compõem “se não uma ironia, ao menos uma escancarada safadeza do Judiciário brasileiro. Até quando a sociedade dará ouvidos a discursos recheados de interesses e financiados não só pela corrupção, mas pela falta de esclarecimento geral da população? Bater no peito e levantar bandeiras contra as drogas é fácil, ainda mais com o auxílio da mídia atenta em manipular e instigar o senso comum”.

Abro parêntese: no rumo do senso comum, a Câmara dos Deputados aprovou mais um Projeto de Lei (PL) antidrogas, PL que vai no sentido contrário de tudo que é feito hoje no mundo para a recuperação dos usuários e a condenação de traficantes. Sobre o PL, paro o comentário por aqui, porque não é a razão deste artigo. Assim que ele tiver sua tramitação concluída (falta votar no Senado), escreverei sobre o assunto.

Sobre a “condenação” do juiz, foram postados no site Terra dezenas de comentários. A maioria deles criticando a decisão da Justiça de “condenar” Vilmar José Barreto Pinheiro a receber R$ 28 mil, com a devida correção, até o fim de sua vida ou da de sua esposa. Destes comentários, transcrevo dois, da maneira como foram postados.

L. S. escreve: “Este é um problema que vem de longe, muito longe. Membros do judiciário aparentam ser uma coisa, mas na realidade é outra. Esse juiz é uma comprovação do que estou tentando dizer. Aliás, o grande Machado de Assis, em várias de suas crônicas ou escritos faz críticas contundentes sobre indivíduos que assumem um comportamento aparente para disfarçar ou dissimular suas verdadeiras intenções”.

J.M. comenta: “O JUDICIÁRIO DESSE PAÍS É UM LIXO GIGANTESCO, UM POLICIAL QUE SE VENDE POR 60 REAIS É PRESO E EXPULSO DA CORPORAÇÃO IMEDIATAMENTE, JÁ JUIZ CORRUPTO QUE GANHA QUASE 30 MIL POR MÊS (O QUE NÃO FALTA NO BRASIL, DIGA-SE DE PASSAGEM) ESSE TEM O CASO TRANCADO EM UMA GAVETA POR 10 ANOS, E DEPOIS É APENAS APOSENTADO, OU SEJA, NÓS AINDA TEREMOS QUE SUSTENTAR ESSE SACO DE LIXO POR TODA A VIDA, QUAL A MORAL DE UM JUDICIÁRIO DESSE PARA JULGAR ALGUÉM? ESSE CORPORATIVISMO É UMA AFRONTA A SOCIEDADE, POR ISSO QUE DIGO, ‘A MIM O JUDICIÁRIO NÃO ENGANA’, EU QUALIFICO NOSSO JUDICIÁRIO COMO O PIOR DAS AMÉRICAS E UM DOS PIORES DO MUNDO”.

Desintoxique-se! é o recado do Planet Hemp no Facebook: “Desintoxique-se! E, ao falar isso, não estamos nos referindo a nenhum tipo de substância. Desintoxique a sua percepção! Preste atenção em quem realmente diz ser a voz da Justiça desse país, condenando a liberdade de expressão de forma atroz, e reflita se é essa a representação que você realmente aceita para si”.

Desintoxique-se da desinformação e da ignorância. Desintoxique-se da hipocrisia. Desintoxique-se das ideias medievais.

Por: dr. Rosinha

DR. ROSINHA, médico pediatra, deputado federal (PT-PR), presidente da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara.

 

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Fonte: Viomundo 

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