Educadora negra cria app que resgata alfabeto angolano com jogos e brincadeiras

Projeto desenvolvido por professores negros mostra novas práticas educacionais por meio da tecnologia

Enviado para o Portal Geledés 

Foto: Joyce Prado

Para resgatar e exaltar a ancestralidade de povos africanos, os educadores Odara Dèlé, de 29 anos e Edson Pereira, de 31 anos, lançam, no próximo dia 21 de novembro, o aplicativoAlfabantu, voltado ao público infantil, para auxiliar na alfabetização por meio de jogos digitais através da língua falada pelo povo kimbundu. O aplicativo estará disponível, inicialmente, para sistema Android e o download é gratuito.

A cerimônia de lançamento acontece Ação Educativa, com uma mesa sobre “Tecnologias e Línguas Africanas” com participação dos criadores do projeto e de Carlos Machado e Mwalala Kalele. A entrada é gratuita.

De acordo com os educadores, que atuam em escolas municipais e estaduais de São Paulo, o Alfabantu é composto por um glossário com várias palavras, além de números, saudações, partes do corpo, nomes de animais e também um jogo em formato de Quiz, pensado como estratégia de memorização das palavras e vem para mostrar e introduzir novas práticas educacionais atreladas à tecnologia.

“Nós percebemos que dentro do currículo escolar, não existem materiais que trabalhem a lei 10.639 – criada em 2003 e que rege sobre o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana nas escolas – principalmente em língua portuguesa, em que não há uma aproximação com as línguas africanas. A partir disso, decidimos criar um aplicativo para aproximar as crianças da história, cultura e arte, para que eles compreendam que a cultura africana faz parte da nossa sociedade brasileira”, comentou Odara Dèlé.

Deste modo, o Alfabantu oferece uma ferramenta de entretenimento e educação, contribuir para o processo de representação afirmativa das crianças negras mostrando um dos vários aspectos do legado africano no Brasil, aproximando o país de Angola, onde a língua oficial é o português, mas há também o kimbundu, trazido ao país durante o processo da diáspora africana, entre os séculos XVI e XIX, que se aproxima do cotidiano e que agora é apresentado e resgatado pelo aplicativo.

Conforme os educadores, tal língua teve grande importância na formação do português falado no Brasil, seja pela sonoridade, seja pelos vocábulos herdados. “Nossa aproximação com Angola vem através da língua, principalmente. Muitas palavras usadas no nosso cotidiano, são de origem kimbundu, como moleque, caçula, mas nós desconhecemos isso, dado o violento processo de colonização feito por Portugal  nos dois países, que colocou fim na religião, no território e nas línguas, com intuito de ter uma supremacia portuguesa. No Brasil, por exemplo, existiam aproximadamente 1,2 mil línguas indígenas e hoje temos apenas 256 e o mesmo ocorreu em Angola, daí a importância de valorizarmos estas raízes e um idioma original. O kimbundu está também dentro dos terreiros de candomblé angola, que tem uma manutenção muito grande da fonética, onde permanecem rezando e cantando a cultura trazida pelos angolanos”, explicou uma das criadoras do aplicativo.

Serviço
Lançamento do app Alfabantu
Quando: 21 de novembro às 19 h
Onde: Ação Educativa
Endereço: Rua General Jardim, 660, Santa Cecília
Informações: https://www.facebook.com/alfabantu/

“Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.”

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