Em Encontro Estadual das Comissões da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, Cevenb lança iniciativas

O I Encontro Estadual das Comissões da Verdade da Escravidão Negra no Brasil reuniu representantes de diversas subseções da Ordem, nesta segunda-feira, dia 28, na Seccional, para traçar estratégias em torno da pauta que os mobiliza: a da reparação.

Por Clara Passi, no OABRJ

Foto: Bruno Martins

A ocasião serviu também ao I Encontro da Diretoria de Igualdade Racial e das Comissões de Igualdade Racial da OABRJ e ao 3º Seminário Regional da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade do Conselho Federal da OAB de Rio, Minas Gerais, Espírito Santo e de São Paulo. Este último foi preparatório para a Conferência Nacional da Advocacia Brasileira, que ocorrerá em outubro de 2020.

O presidente da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil (Cevenb), Humberto Adami, foi o organizador do encontro, que atraiu advogados das subseções de Volta Redonda, São Gonçalo, São João de Meriti, Barra Mansa, Cabo Frio, Maricá, Cachoeira de Macacu, Duque de Caxias e Mendes.

O relatório parcial de atividades da Cevenb foi apresentado, bem como a iniciativa de se emplacar um feriado estadual em homenagem ao herói negro Manoel Congo, morto em 1838. Congo liderou a maior rebelião de escravos do Vale do Paraíba. Adami anunciou a criação de um consórcio de subseções do Sul Fluminense para levar o pleito à conferência nacional da advocacia.

O presidente da Cevenb lançou ainda a página do Museu Afrodigital no site da Uerj, fruto de um acordo de cooperação entre a Ordem e a universidade.

“O dia de hoje foi uma verdadeira maratona, uma jornada. Já anuncio o próximo evento, no dia 12 de dezembro: uma homenagem a Esperança Garcia”, disse Adami.

A mesa principal foi composta pelo secretário-adjunto da Seccional, Fábio Nogueira, pela presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade Racial do Conselho Federal, Silvia Nascimento Cardoso Cerqueira; pela presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Rita Cortez; pela diretora de Igualdade Racial da OABRJ, Ivone Caetano; pelo diretor do Centro de Documentação e Pesquisa, Aderson Bussinger, e pela 1ª secretária da Cevenb, Sebastiana Fraga.

Também estiveram presentes a Diretora de Mulheres, Marisa Gaudio, o assessor especial da Presidência, Carlos André Pedrazzi, e o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária, Álvaro Quintão.

O presidente da Seccional, Luciano Bandeira, reputou o trabalho da comissão como um dos movimentos mais relevantes da Ordem.

“Expresso o apoio e o compromisso da OABRJ com o tema da reparação da escravidão, das ações afirmativas e do trabalho de igualdade racial. Sem a discussão efetiva de como compensar o mal que foi impingido àqueles que aqui chegaram sequestrados de sua terra natal e acabaram compondo a nação brasileira, não avançaremos”, afirmou Luciano.

“A reparação não trata só de algo do passado. Serve para que não precisemos ver Evaldos, Agathas, Marielles e jovens negros assassinados brutalmente por uma política de segurança sectária e violenta, que marginaliza por causa da cor da pessoa. Nada melhor do que discutirmos isso na OAB”, disse Fábio.

“A reparação é necessária porque retiraram tudo do negro, até o direito de estudar. As cotas foram de muita valia para quebrar o ciclo (de exclusão). Como ter meritocracia se nada nos foi dado antes? No espaço acadêmico, o negro sofre bullying. O maior mal que o racismo causa é o flagelo psicológico”, afirmou Caetano.

Cortez levantou a necessidade de se elaborar um parecer, que derive de um levantamento jurídico voltado para a reparação. “É importante que se contemple não apenas os negros, mas outros segmentos que estão excluídos do Estado democrático de Direito, como os povos indígenas. Isso dará mais repercussão à causa”.

Aderson afirmou que a atuação da Ordem em relação às pautas sensíveis ao povo negro é uma “atividade revolucionária”, por ser contracorrente num cenário em que o negro ainda é relegado às “senzalas das favelas”.

Gaudio sublinhou a importância de se despertar o olhar para a interseccionalidade e a representatividade e de se trabalhar de forma aliada com os grupos de advogadas negras.

+ sobre o tema

Por que nos mobilizamos pela França, mas nos esquecemos da Nigéria?

Atentado ao ‘Charlie Hebdo’ coincidiu com ofensiva da Boko...

Eliana Pittman

Eliana Leite da Silva ,nasceu no Rio de Janeiro(RJ) em...

Na sexta-feira, 13 tem o IV Festival Alagoano das Palavras Pretas

Por: Arísia Barros O IV Festival Alagoano das...

para lembrar

Moda e ativismo: artistas baianas gravam documentário em Nova Iorque

Artistas baianas gravam documentário em Nova Iorque A estilista baiana...

Quatro livros para entender o pensamento revolucionário de Carlos Marighella

Ao longo da trajetória que levou Carlos Marighella a virar símbolo...

João Cândido, o Almirante Negro da Revolta da Chibata

Filho de escravos, nascido nove anos depois da lei...
spot_imgspot_img

Ossada de 200 anos evidencia passado escravagista do Uruguai

Após mais de uma década de escavações no bairro montevideano de Capurro, uma zona historicamente conhecida pelo desembarque de populações africanas durante a época...

Paraense Brisas Project acaba de lançar seu EP PERDOA

Está no mundo o primeiro EP de Brisas Project. PERDOA é uma obra em quatro faixas que explora uma sonoridade orientada ao Pop Rock, Lo-fi e...
-+=