Estilistas preferem padrões africanos no encerramento da BFWL

Com encontros entre estilistas, modelos, produtores africanos e portugueses, a Black Fashion Week Lisboa (BFWL) chegou ontem ao fim. Durante três dias, profissionais partilharam o mesmo espaço do Hotel Tivoli, em Lisboa, unidos por um conceito: criatividade.

Como qualquer evento em que estão envolvidas muitas pessoas, os desfiles só arrancaram depois de atrasos e de alguma confusão nos bastidores. No primeiro dia, a situação de stress para a produção era um momento de pleno convívio e encanto dos modelos pelos tecidos, brilhos, acessórios, maquilhagem e penteados extravagantes.

No sábado, o pensamento já era “no final, as coisas correm sempre bem”. Foi inclusive possível ver a produtora Catarina Rito despir-se da rigidez e ficar feliz por mandar princesas irem para fila. “Meninas, para a fila. Princesa Diabólica, em fila. Princesa do Gelo, na fila”, ordenava a responsável referindo-se às modelos que desfilaram com a colecção do estilista Armando Gabriel.

Antes que acendessem pela última vez as luzes da passerelle, o Rede Angola entrevistou Irina Flores, membro da direcção do evento. Irina garante que a BFWL está a ser recebida com carinho, mas ainda há muito trabalho por fazer.

“Agora que já está no fim, sinto que ainda temos muito trabalho por fazer. Terça-feira iremos apontar o que não esteve bem, o que temos que melhorar e continuar na luta na procura de parcerias. Nesta fase da terceira edição, já temos alguns designers, vamos trabalhar nesses próximos meses na procura de novos rostos africanos”, disse a responsável.

Falando sobre as tendências lançadas na semana da moda africana em Lisboa, Irina Flores disse que o print, referindo-se ao padrão africano, deve ser motivo de orgulho.

“Os nossos padrões são lindíssimos e podem ser usados não só pela comunidade africana mas também pela comunidade europeia. O que nós queremos é mostrar o nosso tecido, que a partir deste podemos fazer qualquer peça. Essa peça vai ter outra vida porque o printafricano é bonito e desvalorizado. É muito raro ver um africano vestido com uma peça tradicional com orgulho. A ideia é levar esse orgulho para o mundo”, afirmou.

O seu marido, Paulo Flores, disse, entre os desfiles, que houve uma grande evolução, mas ainda há problemas que devem ser corrigidos.

“Está a ser dada oportunidade aos jovens estilistas africanos, uns vieram de Angola. Estão de parabéns pela iniciativa. Ainda há muita coisa por fazer. Mas do pouco que vi na última edição e nesta acho que houve uma evolução positiva”, afirmou o músico.

“O evento estava mais organizado, havia menos tempo de intervalo entre os desfiles. Neste aspecto foi melhor. Mas percebo que em termos de produção ainda há muita coisa a se fazer. Não é a minha área, mas no espectáculo é um pouco parecido: melhorar os tempos de saída, de entrada, às vezes a escolha da maquilhagem e do cabelo, a forma como se organiza isso, acho que poderia ter sido feito melhor para não dificultar o trabalho de quem estava lá atrás”, argumentou.

Mariana Vicente, responsável pelo blog de moda e maquilhagem, Womyns, esteve a fazer a cobertura do evento para aquele site e disse ao RA que a Black Fashion Week Lisboa pode ser um evento para mostrar, em Portugal, a diversidade da moda que se faz em África.

“A parte da moda africana que mais me interessa são os padrões. Acho muito engraçado como as mulheres africanas têm pose a usar as coisas, têm atitude. Sinto que a mulher africana tem orgulho nas suas origens e em se vestir a rigor para tal. Nota-se muito isso em Angola porque as mulheres são muito vaidosas e vestem-se muito bem”, declarou.

“A Black Fashion Week Lisboa pode ser um evento diferente, trazer alguma diversidade, tem potencial, é um trabalho que espero que seja desenvolvido para conseguir marcar cada vez mais a diferença porque tem espaço e quanto mais importância ganhar mais as pessoas fora das comunidades africanas vão querer participar”, argumentou.

Os últimos desfiles da BFWL

A abertura do desfile do ultimo dia ficou a cargo da marca de sapatos Mickels, cuja colecção Primavera/Verão, com 25 peças modelos, foi apresentada com biquínis e casacos dos patrocinadores.

“A minha colecção é muito divertida. Não nos baseamos em nada muito concreto porque quisemos apostar numa mulher actual, glamorosa e com um bocadinho de irreverência”, disse Miguel Correia. “É uma colecção que estará na novela ‘Império”’, da Rede Globo, através de uma personagem que vai fazer o design da nossa marca”, acrescentou o criador.

A ligação entre a novela e a Mickels surgiu através do brasileiro Aguinaldo Silva, que é argumentista de novelas e presidente da marca de sapatos.

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(Foto: Imagem retirada do site Rede Angola)

“Cortes muito modernos e costuras simples”

Em seguida, a criadora angolana Mariângela Almeida apresentou a colecção “Alice”, com 21 peças, da Fiu Negro, um conjunto de roupas cheio de cores e padrões típicos do continente africano.

“Esta é a estreia internacional da colecção. Acho que em Portugal já se pode sentir a presença de alguns tecidos africanos, mas eu trouxe vestidos um bocadinho diferentes do que se usa por cá. A minha colecção tem cortes mais modernos. Eu sou minimalista. Acredito que menos é mais, então os meus cortes são muito modernos e as costuras simples”, contou Mariângela.

“Por norma eu gosto de pensar que a minha marca carrega muita cultura e tradição. Pelo menos prefiro acreditar que sim. Normalmente são pessoas confiantes que têm o prazer e o orgulho de carregar a cultura”, disse.

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(Foto: Imagem retirada do site Rede Angola)

Piratas inspiram colecção com padrão sobre padrã

A luso-moçambicana Teresa Samissone, criadora da marca Samissone, apresentou ontem à noite a colecção “Piratas” pela primeira vez nas passerelles, o trabalho, tal como o de Mariângela, estava repleto do print africano.

“A minha colecção é feita em ateliê, as peças são únicas. Aproveitamos uma série de detalhes que nós conhecemos dos piratas para aplicar em sítios muito distintos. Temos, por exemplo, os casacos tipo jaquetão”, explicou Teresa Samissone.

A criadora que normalmente trabalha padrão sobre padrão, aproveitou o tema porque os piratas são representados com muitas cores.

“A mulher que usa as minhas roupas é independente, exigente, tem bom gosto e é sofisticada”

Angola voltou a ser protagonista nos dois desfiles seguintes. A jovem estilista Arleth Karyna apresentou uma colecção que busca agradar a todas as mulheres. Enquanto Soraya da Piedade, convidada de última hora, preparou algumas peças especialmente para a Black Fashion Week Lisboa.

“Eu não tenho um tema específico. Eu quero trabalhar para o mundo e não para um só país, Angola. Inspiro-me na beleza da mulher. Gosto de usar muitas transparências, decotes, vestidos de racha para salientar mais a silhueta e a beleza da mulher”, explicou Arleth Karyna.

Já Soraya Piedade apostou desta vez num lado mais tradicional, apesar de este não ser o seu estilo.

“Utilizei a renda com o pano do Congo em 12 peças. Não é o meu estilo característico. Entretanto, faço sempre que surge algo especial ou a inspiração pede”, disse Soraya da Piedade. “A mulher que usa as minhas roupas é independente, exigente, tem bom gosto e é sofisticada”, acrescentou.

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(Foto: Imagem retirada do site Rede Angola)

“Colecção com glamour, sedas pesadas e rendas”

Finalmente, o grande momento da última noite. O estilista português João Rôlo, um dos mais esperados, apresentou uma colecção inédita, com vestidos de noite em que predominam os decotes, as transparências e o brilho das jóias semi-preciosas.

Enquanto o estilista mostrava nos bastidores o método rigoroso do seu trabalho, que passava pela procura das modelos com as medidas perfeitas para vestir os seus vestidos, os seus convidados acomodavam-se na plateia, entre eles as socialites portuguesas Jo Caneças e a empresária Isilda Peixe.

“Esta é uma colecção de alta costura feita quase toda manualmente, os bordados, as aplicações todas. São 18 vestidos compridos de gala tanto para inverno como para verão. Uma colecção com glamour, com sedas pesadas e rendas fininhas e mais pesadas. É uma colecção com muitas transparências, mas não com muita evidência, sem tornar as peças demasiado óbvias ou um pouco exagerado”, esclareceu João Rôlo.

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(Foto: Imagem retirada do site Rede Angola)

“A mulher que gosta da minha colecção está à frente do seu tempo e respeita as tradições”

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(Foto: Imagem retirada do site Rede Angola)

Depois da marroquina Salima Boussouni, que apresentou um pouco das tendências marroquinas na primeira noite da Black Fashion Week Lisboa, Karim Tassi, outro conceituado criador daquele país, voltou a levar à passerelle a tradição árabe com um toque de atrevimento. Noutras palavras, roupas para o cliente que respeita a história mas que pensa à frente do seu tempo.

“Na colecção para o próximo Verão, misturo cetim e tecido muçulmano e todas os detalhes são finalizados à mão. Nas roupas para mulheres tento fazer duas coisas: mostrar o lado moderno e revisitar o tradicional. Para os homens, há uma aposta nas calças de ganga e um toque de cor. Também temos uma capa tradicional”, explicou Tassi.

Questionado sobre os detalhes ousados, transparências e decotes de algumas peças femininas, o estilista respondeu que mesmo sendo um país tradicional, como em todo o mundo, em Marrocos as mulheres têm muitos estilos: clássico, exibicionista, sensual, tradicional”, disse. “A mulher que gosta da minha colecção está à frente do seu tempo e respeita as tradições. Ela quer reconhecer-se no que veste. Acontece o mesmo na colecção masculina”, concluiu.

Foto em destaque: Reprodução/ Rede Angola 

 

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