Representação e Representatividade –
As Artes Dramáticas na Sociedade:
O Negro Dentro e Fora dos Contextos Cênicos
Enviado por Ana Vitória Prudente via Guest Post para o Portal Geledés
Em Março de 2003, foi aprovada a Lei Federal nº10.639/03, que torna obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio. Essa lei tem como objetivo promover uma educação que reconheça e valorize a diversidade, comprometida com as origens do povo brasileiro. Sabe-se que a educação é um instrumento fundamental para a promoção das demandas da população negra no combate as desigualdades sócio raciais.
Entretanto, há pouquíssimos negros dentro da academia, seja como docentes ou como discentes. Dentro da universidade é comum ver negros ocupando, como maioria, apenas, os serviços terceirizados relacionados à limpeza, alimentação e segurança, trabalhos com menos prestígio social. Há uma polarização do espaço ocupado por negros e o espaço ocupado por brancos, e esse apartheid velado, é, na verdade, gritante na sociedade.
Os cursos de Artes Cênicas, por exemplo, visa – em geral – desenvolver/capacitar artistas que serão propulsores da imagem, que é vital na dinâmica social contemporânea, entretanto, nesses cursos universitários pouco se estuda e se cita pesquisadores negros, normalmente não há menção do Teatro Experimental do Negro (TEN), não ha menção ao teatrólogo Abdias Nascimento, Ubrajara Fidalgo, Zira Fidalgo, Grande Otelo, Raquel Trindade entre outros e outras artistas, núcleos e pesquisadores importantíssimos na questão da representação e representatividade do negro nas Artes Dramáticas.
Estudar as relações entre o racismo e a cultura é levantar a questão da sua relação recíproca. Se a cultura é o conjunto dos comportamentos motores e mentais do encontro do homem com a natureza e com o seu semelhante, devemos dizer que o racismo é sem sobra de dúvidas um elemento cultural. (FANNON, p.36, 1956).
Essa polarização é ainda mais gritante nas novelas, filmes e peças teatrais, o negro pouco aparece e quando aparece é tratado de como um ser estereotipado, posto a margem na trama, quase sempre como coadjuvante, é uma personagem em geral satirizada; os grandes grupos de teatro quase não contam com a presença de atores e atrizes negros e negras em suas companhias e a temática relacionada à negritude não é exposta em suas apresentações.
(…) à medida que as sociedades se vão diferenciando em classes, há, simultaneamente, uma estratificação étnica. Da estratificação social caminha-se para a formação da estética racial. O grupo dominante formula seus valores estéticos fortemente impregnados pela conotação racial. Consequentemente, a cultura dominante do colonizador branco, simplesmente, esmagou a cultura trazida pelos africanos. (NASCIMENTO, 1961, p.20).
Há uma dicotomia entre o teatro feito por brancos, e um teatro feito por negros; como já nos apontava Abdias do Nascimento. Apesar de formarmos um país miscigenado, sincrético, pouco se vê dessa miscigenação nas representações dramáticas encenadas nas televisões, cinemas e teatros do país. É, pois, fundamental entender a necessidade do empoderamento do negro na sociedade contemporânea pós-escravidão africana– que se baseia na representação imagética, em tempos de televisão a cores, cinema 3D, internet de livre acesso com plataformas de redes sociais, teatros com apoios financeiros que parte do estado, e etc. -, afinal o panorama racial nacional é denso, complexo e difícil de ser compreendido, facilitando a ação do racismo e da persistência da ideologia do branqueamento.
Acreditando na importância da valorização do negro na sociedade; sabendo que a escola/universidade, as artes e a mídia têm função fundamental de formação na sociedade contemporânea, e que acabe a elas – também – o papel de gerar a representação e a representatividade do negro, a fim de diminuir a segregação racial, buscamos por meio do evento: Representação e Representatividade – As Artes Dramáticas na Sociedade: O Negro Dentro e Fora dos Contextos Cênicos, criar um espaço para pensar sobre tais questões tão urgentes para a sociedade brasileira.
O evento acontece na UNICAMP, todas as noites (buscando provomer a extenção acadêmica) nos dias 13, 14, 15, 16 e 20 de Outubro.
E ele ocorre nesse momento de forma, inclusive, simbólica. Momento em que o Departamento de Filosofia do IFCH (Instituto de Filosofia, Ciências Sociais e História) nega as cotas a pós-graduação. Momento em que a empresa terceirizada está sendo trocada por outra empresa que trará menos gastos (afinal haverá menos funcionárias), ou seja, mais trabalho pesado para algumas funcionárias (em geral mulheres, da periferia da Grande Campinas, analfabetas e negras) e o mesmo salário desproporcional ao serviço. Lembrando que Campinas foi a última cidade a assinar a abolição da escravatura; lembrando que Barão Geraldo é um feudo – um distrito de riqueza, cultura e ensino – que segrega o resto da cidade, impedindo inclusive o carnaval de rua (como forma de evitar o contato com “essa gente diferenciada e estranha ao nosso bairro”).
Programação:
13/10/2015 (TERÇA-FEIRA), às 19h: “O negro no cinema, na telenovela e na música – A compreensão da questão da afro descendência na dinâmica sociocultural da imagem”
Prof.º Dr.º Celso Prudente e M.ª Roberta Estrela D’Alva.
Mediador : Prof.º Dr.º Cassiano Sydow
Local: Sala AC03 – Departamento de Artes Cênicas/ PaviArtes (Barracão) – UNICAMP
Rua Pitágoras, 500
14/10/2015 (QUARTA-FEIRA), às 19h: “O negro e a negritude no contexto acadêmico-teatral: Onde está o(a) negro(a) e as questões da negritude nas pesquisas e nas aulas de teatro no Brasil? Qual é o espaço do negro(a) nos cursos de Artes Cênicas?”
Prof.º Dr.º José Fernando Peixoto de Azevedo; Prof.º Dr.º Mário de Santana; Prof.º Dr.º Mario Augusto.
Mediadora: Prof.ª Dr.ª Larissa de Oliveira Neves Catalão
Local: Centro Cultural do IEL – UNICAMP
Rua Sérgio Buarque de Holanda, 571
15/10/2015 (QUINTA-FEIRA), às 19h: Entrevista pública com o ator Sidney Santiago, integrante da Cia. Os Crespos.
Entrevistadora Prof.ª Dr.ª Grácia Navarro
Local: Sala da Pós-Graduação – Instituto de Artes (IA) – UNICAMP
Rua Elis Regina,50
16/10/2015 (SEXTA-FEIRA), às 19h: “Representação e Representatividade: O Negro dentro e fora dos contextos cênicos – A representação imagética expondo como é visto e como é imposta o ser negro na sociedade”
Profº. Douglas Belchior (autor da coluna “Negro Belchior” da revista Carta Capital).
Local: Sala Pós-Graduação – Instituto de Artes (IA) – UNICAMP
Rua Elis Regina, 50
20/10/2015 (TERÇA-FEIRA): Exibição de filmes
18hs30 às 20hs45: A Hora do Show, de Skipe Lee
20hs45 às 21hs00: Coffe-break
21hs00 às 21hs30: Diários de Exú, de Gilberto Sobrinho e Grácia Navarro
21h30 às 22hs00: Conversa com o professor Prof.º Dr.º Noel Santos Carvalho
Local: Sala ED09 – Faculdade de Educação – UNICAMP
Rua Bertrand Russel, 801
Mais informações acesso o link:
http://www.iar.unicamp.br/evento/representacao-e-representatividade
Idealização: Ana Vitória Prudente
Organização: Ana Vitória Prudente, Helena Lucas e Larissa de Oliveira Neves
Prof.ª Responsável: Prof.ª Dr.ª Larissa de Oliveira Neves.
Apoio: Unicamp, IA/UNICAMP, IEL/UNICAMP, FE/UNICAMP
Financiamento: PREAC – Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários