Recém-contratado pelo Terek Grozny, atacante Ewerthon conta que elenco mora em uma cidade e joga em outra por conta de tensões na região
O atacante Ewerthon, de 30 anos, vai estrear pela nova equipe, o Terek Grozny, neste domingo, contra o Spartak de Moscou, em casa, pelo Campeonato Russo. Fora do gramado, o experiente ex-palmeirense já encontra dificuldades no país. Um delas é ter que morar em uma cidade e jogar em outra, por conta da violência na região da Chechênia, que até hoje luta pelo reconhecimento de sua independência por outros países.
– O clube fica na Chechênia e o estádio fica lá também, em Grozny, mas o time mora em outra cidade, Kislovodsk. O pessoal lá anda armado e tudo, até assiste ao jogo armado, é mais perigoso. A cidade que estamos é melhor pela segurança, mais comodidade, comida melhor, e aqui na Rússia é tudo mais tranquilo do que lá. É uma região muçulmana – afirmou, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.
O jogador contou também que a vida no Brasil é completamente diferente, e que a presença dos compatriotas Rodrigo Tiuí, Maurício e Antônio, ajuda no processo de adaptação.
– A diferença entre os países é bastante grande, principalmente no horário (sete horas de diferença para o Brasil). É totalmente diferente a língua, no dia a dia a gente se vira para se comunicar. Tem um intérprete para me ajudar com o idioma, ele fala espanhol. Com os jogadores do time fica mais fácil porque o futebol é uma linguagem universal. O fato de ter brasileiros ajuda, e o tempo que eu vivi na Europa também. Eles (Tiuí, Maurício e Antônio), me ajudam bastante, dentro e fora de campo, estamos praticamente todos os dias juntos. Somos amigos já.
Rodado no futebol brasileiro e internacional, tendo defendido Corinthians, Rio Branco, Borussia Dortmund, Zaragoza, Stuttgart, Espanyol, e o Palmeiras, Ewerthon falou sobre a escolha pelo futebol russo, e elogiou o presidente do time e da Chechênia, Ramzan Kadyrov.
– O futebol russo vem crescendo muito, contratando muitos brasileiros. Apostam muito até pela Copa que vamos sediar aqui também. Assim como o futebol da Ucrânia que cresceu muito. Hoje você tem uma condição de trabalho boa, ganha bem, tem estrutura, então essas coisas todas pesaram. Eu tinha mercado fora do Brasil e aproveito ao máximo o tempo de futebol para fazer uma boa carreira. Por isso, decidi vir. O presidente é um cara novo, ele gosta muito de futebol, tem apenas 34 anos, ele está construindo uma cidade toda nova, e é muito querido pelos brasileiros. Ele, financeiramente, pode fazer coisas que quer, pode construir um estádio novo, uma estrutura toda nova. A região está numa crescente, então ele é adorado pelo povo, e dentro da Chechenia ele pode fazer as coisas que quer. Quando cheguei aqui, encontrei com ele na Turquia e na Itália, e fiquei três, quatro dias ao lado dele, é um cara gente boa.
Recentemente, outro brasileiro, o lateral Roberto Carlos, do Anzhi, foi vítima de ofensas raciais no país. Para o atacante, o racismo é um “problema social”, que também existe no Brasil.
– A questão do racismo é peculiar, dentro do nosso país a gente vê muitos casos de racismo também. É um tema mundial, não é questão de viver na Rússia, na Espanha ou na Alemanha. Acho que isso é uma questão voltada para o social, não para o futebol. Claro que tem sempre um ou outro que entra nisso, que faz esse tipo de coisa. Mas eu não entro nesse mérito porque estou aqui para trabalhar e ser um profissional. Não ligo para as coisas extra campo, venho focado no jogo.
Apesar de ter sido contratado recentemente, o jogador diz que já sente saudades, mas vai “aproveitar enquanto puder”.
– Tenho mais saudades dos amigos e familiares, as pessoas que eu amo, o contato diário. Mas outras coisas a gente tira de letra, porque já tem uma vivência fora do Brasil. Com a Internet, tudo está proximo. Você fica sabendo de tudo em questão de segundos. O Brasil vai continuar do mesmo jeito, quem gosta de mim vai continuar da mesma forma e, enquanto posso trabalhar, ser profissional, aproveitar isso, ganhando bem, conhecer diversos países, falar outros idiomas, é uma coisa ótima e tenho que fazer. O futebol vai ficar para o passado um dia, quando eu encerrar a carreira, mas hoje ainda posso fazer amigos fora do país, e aproveitar ao máximo. Vou aproveitar enquanto puder – concluiu.
Fonte: Globoesporte