Matéria publicada em Jornal O Popular, Cidades, 22/07/09
Relatório divulgado ontem diz que 33 mil jovens entre 12 e 18 anos serão mortos até 2012
por Adriano Marquez Leite
Goiás tem quatro municípios entre as cem cidades brasileiras com maior probabilidade de um jovem ser assassinado. Em Luziânia, que apresenta o pior índice do Estado, de cada mil pessoas com idade entre 12 e 18 anos, mais de cinco deverão ser mortas até 2012 – uma situação mais drástica do que a de capitais conhecidas pela violência, como Rio de Janeiro e Vitória, que estão logo em seguida no ranking.
A constatação é de um estudo divulgado ontem pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH). O levantamento fez uma projeção, para todo o País, de que cerca de 33,5 mil jovens poderão ser assassinados até 2012. A cada mil adolescentes, dois não chegarão vivos aos 19 anos.
Para fazer o acompanhamento das estatísticas da violência contra jovens no Brasil, foi criado o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que registra a taxa média de assassinatos para cada mil jovens entre 12 e 18 anos. Com o intuito de garantir a confiabilidade das estimativas, o estudo foi feito somente nas 267 cidades no Brasil cuja população ultrapassa 100 mil habitantes – sete delas em Goiás. A partir do IHA é feita uma projeção de quantos jovens serão mortos antes de completar 19 anos em 2012. Quanto mais alto o IHA, mais violenta para os jovens é a cidade.
Além de Luziânia, considerada a 15ª pior no ranking nacional e cujo IHA é igual a 5,41, outros três municípios do Estado estão entre os cem piores: Rio Verde, Aparecida de Goiânia e Valparaíso de Goiás – todos com o IHA maior que 2.
Ou seja, pelo menos dois adolescentes serão mortos em cada uma dessas cidades antes que atinjam a fase adulta. Até 2012, poderão ocorrer até 761 homicídios de meninos e meninas só em Goiás.
Segundo o promotor de Luziânia Ricardo Rangel, nas cidades do entorno do Distrito Federal, a maioria dos jovens vítimas de assassinato tem alguma relação com o crime. Rangel afirmou que, geralmente, esses homicídios acontecem por causa do envolvimento desses adolescentes com drogas, como entorpecentes e bebidas alcoólicas, por vingança e às vezes por causa de discussões banais.
De acordo com o doutor em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), Nildo Viana, a situação de risco do jovem hoje é reflexo da falta de investimentos em políticas sociais principalmente na área do ensino, o que, segundo ele, vem ocorrendo desde o início da década de 1990.
Para Viana, mais uma vez quem sai prejudicado são os jovens da classe baixa, que têm menos acesso a educação, saúde e emprego, e portanto estão em situação mais vulnerável que o restante dos adolescentes e por causa disso têm mais chances de fazer parte dessas estatísticas.
Negros
A situação de risco para os jovens é ainda mais grave quando a comparação é feita entre brancos e negros. No País, a probabilidade de um jovem negro ser assassinado é 2,6 vezes maior que de um jovem branco. No entanto, algumas cidades possuem taxas ainda piores, como Rio Verde, onde essa chance aumenta cerca de 40 vezes.
Psicólogo e professor da Universidade Católica de Goiás, Joseleno Santos afirmou que não é surpresa que a vulnerabilidade do negro seja maior do que a do branco. A maior dificuldade histórica dos negros de permanência nas escolas resulta em menor possibilidade de acesso ao mercado de trabalho e, consequentemente, maior propensão a atividades perigosas.
No caso específico de Rio Verde, Joseleno disse que o rápido crescimento econômico da região tem atraído pessoas de todo o Estado para trabalhar no município, mas muitas, sem qualificação, ficariam desempregadas.
Se essa desigualdade se repetir, o psicólogo apontou que seria um dos motivos pelo qual o jovem negro, com menores chances, teria maior risco de ser assassinado. “É preciso investimento pesado na escola pública, pois é lá que estão as crianças e adolescentes mais susceptíveis à criminalidade”, afirmou.
O IHA mostrou ainda que a probabilidade de jovens do sexo masculino serem vítimas de homicídio é 12 vezes maior que jovens do sexo feminino. Para a delegada titular de Proteção à Criança e Adolescente, Adriana Accorsi, os rapazes são mais impulsivos e são iniciados antes com drogas e bebidas, por isso acabam se envolvendo mais em brigas e em consequência se tornam as maiores vítimas. Para ela, no entanto, a repetição desse tipo de crime só ocorre porque a legislação brasileira não é dura o suficiente para manter presas as pessoas que cometem assassinatos. (colaborou Roberta Giacomoni)
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Goiânia entre as mais seguras
Goiânia aparece como a sexta capital com menor índice de violência contra jovens, no ranking nacional do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), desenvolvido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Nem por isso a cidade está em posição confortável.
Para especialistas, uma sociedade não violenta deveria apresentar índices próximos de zero, quando o de Goiânia é 1,5 – ou seja, a cada dois mil jovens, três não chegarão à fase adulta. Só este ano, na cidade, 11 pessoas entre 12 e 18 anos foram assassinadas, a grande maioria por envolvimento com o tráfico de drogas.
Entre as capitais, Maceió e Recife têm os IHA mais altos: 6. Palmas está na melhor colocação, com índice igual a 0,6.
No Brasil, as cidades com pior IHA são Cariacica (ES), Governador Valadares (MG) e Foz
do Iguaçu (PR), cujo índice é o mais alto: 9,7. Na cidade paranaense, a expectativa é que de cada 100 jovens, um morra antes de completar 19 anos.
Fonte: Casa da Juventude