O racismo da Polícia Militar

No início desse ano, veio à tona um documento interno da Polícia Militar de Campinas que orientava expressamente os policiais a abordarem “indivíduos em atitude suspeita, em especial de cor negra e parda”. A “ordem de serviço” confirmou algo que é conhecido de todo o mundo, em especial da própria população negra: o racismo da Polícia Militar.

Em 2009, um oficial da PM de São Paulo fez uma dissertação de mestrado na qual procura embasar esse fato sentido cotidianamente pelos trabalhadores.

Segundo ele, “racismo nas abordagens é marca da PM”. A tese, baseada em entrevistas e pesquisas mostra que o fato é reconhecido pelos próprios membros da corporação e que em diversos casos escandalosos de execuções e torturas que vieram a público, a cor das vítimas foi determinante.

Não à toa, 50% da população carcerária é negra e grande parte restante é parda. Na tese, dos negros vítimas de preconceitos, 78% disseram ter sido discriminados por policiais brancos, mas ser abordado por um policial negro não é segurança. Segundo, o oficial, o “policial negro não se sente negro”.

O racismo evidentemente não é exclusividade da PM. As forças represivas apenas dão uma forma concreta ao racismo que existe na sociedade. O fator da cor da pele é um incremento à repressão contra os trabalhadores.

Foi esse modo de agir que fez com que no início de 2012, na USP, um estudante negro fosse agredido por um policial, que chegou a apontar a arma para ele, afirmando que ele não estudava lá. Esse mesmo racismo que fez com que um alto funcionário do governo federal morresse por falta de assistência em um hospital particular, que se recusou a atendê-lo, algo inconstitucional, por acreditar que ele não teria condições de pagar.

O racismo que a polícia expressa de forma mais acabada é expressa cotidianamente das mais diversas maneiras, e muitas vezes desculpado e justificado de mil maneiras que procuram ocultar a situação de extrema opressão em que vive o negro no Brasil. Seria inlusive ingenuidade acreditar que em apenas um século seriam apagadas as marcas de 400 anos de escravidão no País.

Apenas uma luta tenaz da população negra, o que no caso brasileiro significa da própria classe trabalhadora, por sua libertação pode acabar com essa situação.

 

Fonte: Causa Operária

+ sobre o tema

Médica que defendeu paciente em polêmica do “peleumonia” sofre ataques racistas

Júlia Rocha chamou a atenção para a questão do...

Mulher que acusou Emmet Till de assedia-la diz que mentiu, 62 anos após o assassinato do jovem negro

O assassinato do adolescente negro Emmet Till ganha um novo capítulo,...

Horror a pobre, pré-requisito

No governo Jair Bolsonaro, aporofobia não é surpresa, mas...

para lembrar

Negras são as principais vítimas de violência no Rio

  A mulheres negras têm mais chance de serem alvo...

Mulher chama policial de macaco e é condenada a 11 anos de reclusão em Minas

O militar estava atendendo uma chamada de briga familiar...

MPF quer acabar com comando da Polícia Militar em São Paulo

Em audiência pública no Ministério Público Federal nesta quinta-feira...

Fundação Palmares apoia campanha Luta contra o racismo! desenvolvida pela ONU

Daiane Souza Racismo, xenofobia e intolerância são problemas comuns...
spot_imgspot_img

X se assemelha a cidade sem lei

Faz poucos dias, o IBGE apresentou ao país as projeções atualizadas da população. Território inteiro, grandes regiões, todas as 27 unidades da Federação, 100% dos 5.570...

‘Gay não opina aqui’: estudante de 14 anos denuncia que sofreu injúria racial e homofobia de colegas de escola na Zona Sul do Rio

Um estudante de 14 anos foi alvo de injúria racial e homofobia por parte de colegas de turma do Colégio pH, no campus de...

Abordagens por reconhecimento facial têm 10% de falsos positivos, diz PM na Alerj

As abordagens conduzidas pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) com o uso do sistema de reconhecimento por biometria facial tiveram uma taxa de falsos...
-+=