Por: ANDRÉ LOBATO
País vê início da temporada de furacões tão despreparado quanto estava logo depois de ser atingido por sismo
Dos US$ 50 bilhões arrecadados para a reconstrução do Estado caribenho, somente 2% foram empregados
Hoje, seis meses após o terremoto que destruiu a capital do Haiti, Porto Príncipe, o país começa a viver a temporada de furacões quase tão despreparado quanto estava nas horas que se seguiram ao sismo.
Com mais de 1 milhão de pessoas vivendo em acampamentos pouco resistentes a chuvas, 80% das escolas destruídas e o governo funcionando em contêineres, o país não ergueu abrigos para furacões, como previa o plano de reconstrução.
O temor é justificado pelas previsões da NOAA, a agência americana de meteorologia, de que a temporada de furacões será mais forte que o normal, com entre três e sete “grandes furacões” previstos de junho a setembro.
Embora seja impossível determinar se elas atingirão o solo haitiano, a catástrofe seria uma reedição do terremoto, alerta Rubens Gama, diretor designado do Departamento da América Central e do Caribe do Itamaraty -responsável da diplomacia brasileira pela região.
Segundo Gama, estão disponíveis US$ 1 milhão para a construção de dez abrigos capazes de resistir a furacões.
Outra prioridade, diz, é a construção de casas populares. Para isso, o governo brasileiro ofereceu o programa Minha Casa, Minha Vida.
Porém, ainda que feitos a tempo, os abrigos não eliminam os riscos para a saúde pública de imensas áreas alagadas sem saneamento.
Para prover o país de infraestrutura, os doadores internacionais se uniram após o terremoto e criaram um fundo de US$ 50 bilhões para o Haiti. Apenas 2% do valor foi gasto, o que levou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a criticar a lentidão da reconstrução do país.
Nem o governo haitiano nem os países doadores estão, entretanto, prontos para acelerar a reconstrução, aponta relatório do Senado americano feito em junho.
O texto “Haiti na Encruzilhada” diz que o presidente René Préval não demonstra liderança interna, concentra poder e recebe mensagens conflitantes dos países doadores. O relatório também critica a falta de coordenação da CIRH (Comissão Interina de Reconstrução do Haiti).
A CIRH é uma agência dos países doadores criada pelo governo por uma lei de estado de exceção para formular e executar a reconstrução.
Para Camille Chammers, da Papda, uma organização local, “tudo está nas mãos” da CIRH em “um processo no qual toda a soberania nacional foi eliminada”. O diplomata Rubens Gama diz o contrário: todos os países, da Venezuela aos EUA, concordam que é necessário reerguer o governo do Haiti e fazê-lo liderar a reconstrução.
ELEIÇÕES
Entre um terremoto e o risco de furacão, o Haiti também precisa enfrentar o fenômeno de natureza política que é realizar eleições com uma comissão eleitoral de legitimidade contestada e um dos principais partidos proibido de lançar candidatos.
O pleito de 28 de novembro define a Presidência, um terço do Senado e toda a Câmara dos Deputados. A eleição é crucial para revitalizar a liderança do Estado, pois muitos membros do governo morreram no terremoto.
O problema é que a Comissão Eleitoral terá membros acusados de falta de transparência no pleito anterior e de beneficiar o partido de Préval, o que ele nega.
Ele também recusa a proposta de colocar estrangeiros na comissão a fim de aumentar a isenção do processo.
Fonte: Folha de S.Paulo