Entre as tantas linguagens artísticas que explorou ao longo da vida, o compositor, can tor e instrumentista Itamar Assumpção também escreveu livros para crianças. Os textos, até agora inéditos, foram encontrados por sua filha, a também cantora e com positora Anelis Assumpção, nos cadernos que ele fazia. Falecido há 17 anos, o artista ganha, a cada dia, maior reconhecimento e a notoriedade merecida.
Homem-Bicho, Bicho-Homem é o primeiro volume da coleção Itamar para crianças, lançada pela Editora Caixote. Este e os próximos três livros – que serão pu blicados ao longo de 2021 e 2022 – têm em comum os animais como personagens (e a valorização da natureza), o ritmo sempre presente e as imagens poéticas inusitadas. Mais não é possível dizer, sem dar muito spoiler, a não ser que são textos divertidos e ousados, como o próprio Itamar.
Foi convidado para ilustrar os livros Dalton Paula, artista goiano com trabalhos em bienais e museus importantes, como MASP e MoMA (NY), e que é reconhecido por sua busca da linguagem afirmativa que resgata os saberes da população negra. Com o convite, ele, que é fã de Itamar, afirma ter sentido “o chamado da ancestralidade”.
O livro tem edição da poeta Alice Ruiz S, parceira de trabalho de Itamar de longa data, e de Isabel Malzoni, diretora da Caixote. Como observa Alice, “poucos sabiam que ele também era escritor. E que seus leitores favoritos seriam as crianças”.
O cantor e compositor paraibano Chico César, que assina a quarta capa do lançamento, ressalta em forma de poema a pegada lúdica, ecológica e transcendental do escritor que fala de bichos e de meio ambiente: “puxando o fio da meada que nos liga à natureza/ à nossa natureza/ a natureza dos bichos/ a natureza das pessoas/ e à natureza dele…”
Nego Dito, Beleléu
Um dos ícones da chamada “Vanguarda Paulista”, Itamar Assumpção fez parcerias célebres com poetas, como os amigos Alice Ruiz e Paulo Leminski, músicos e cantores como Luiz Tatit, Alzira E, Naná Vasconcelos e Chico César. E foi imortalizado nas can ções Fico Louco, Sutil, Milágrimas (também publicada em formato de livro ilustrado pela Ed. Caixote), Dor Elegante, Isso Não Vai Ficar Assim e Já deu pra sentir, nas vo zes de Zélia Duncan, Cássia Eller, Ná Ozzetti e Ney Matogrosso, entre outros.
Sua personalidade irreverente e sua obra potente e visionária são temas dos do cumentários Daquele Instante em Diante, de Rogério Velloso, e Reverberações – Itamar Assumpção, de Pedro Colombo e Claudia Pucci.

Homem-bicho, Bicho-homem
por Itamar Assumpção e com ilustrações de Dalton Paula
Editora Caixote
32 págs
capa dura 21 x 21 cm
ISBN: 978-65-86666-04-5
R$ 48
lançamento: 15 de março
Itamar Assumpção (por Anelis Assumpção)
“Meu pai nasceu em 13 de setembro de 1949, na cidade de Tietê, interior de São Paulo, e faleceu em 12 de junho de 2003. Cantor, compositor, instrumentista, ator, produtor e, também, escritor, embora se considerasse simplesmente um Poeta Não. Produziu uma obra valiosa: mais de 300 músicas, 9 discos e centenas de poesias. Seu rico acervo está, desde 2020, no museu virtual criado em sua homenagem, o MU.ITA. Entre 1998 e 2003, Itamar dedicou-se a uma coleção de livros infantis que se chamaria “Homem-Bicho – Bicho-Homem”. Inquieto em sua arte e dedicado ao estudo da palavra, Ita resolveu se aprofundar na linguagem infantil e se empenhou bastante na construção dessas obras. Ele também era famoso por sua paixão pela natureza, flores, plantas e bichos. Com esses livros, proporciona um belo encontro en tre a palavra e a memória, que desembocam num rio criativo, cheio de trava línguas que destravam o pensar.”
Dalton Paula (por ele mesmo)
“Nasci em Brasília, em 1982, e atualmente vivo em Goiânia. Trabalho como educa dor e artista visual. Gosto de fazer pinturas, fotografias, esculturas e instalações e, principalmente, de investigar as influências da diáspora negra na história brasileira. Obras minhas já foram expostas em museus como o MASP e o Instituto Tomie Ohtake e em eventos de arte, como a Bienal de São Paulo, a Trienal do Novo Museu em Nova York e a Bienal do Mercosul. Ao ser convidado para ilustrar os livros inéditos de Itamar, de quem sou fã, senti o chamado da ancestralidade. Deixou-me muito feliz a oportunidade de fazer parte de uma obra desse artista, que tanto fez por nossa cultura.”