Jornalistas são indiciados por injúria racial após black power de jogador ser chamado de ‘imundo’ e ‘pesado’ durante jogo

Enviado por / FontePor Danielle Oliveira, do G1

Comentários foram feitos durante partida entre Goiás e Londrina transmitida por uma rádio. Profissionais foram afastados e pediram desculpas ao jogador.

A Polícia Civil indiciou por injúria racial o narrador esportivo Romes Xavier e o comentarista Vinícius Silva, que chamaram o cabelo black power do jogador Celsinho, do Londrina, de “pesado” e “imundo” durante uma transmissão em uma rádio, em Goiânia. O delegado Joaquim Adorno disse que eles foram indiciados com agravamento de pena, por terem feito comentários em um meio que facilitou a divulgação.

Os dois jornalistas, que foram afastados da Rádio Bandeirantes, pediram desculpas ao jogador e ao clube paranaense, à época do jogo. Eles disseram que fizeram comentários infelizes durante a partida, realizada em 17 de julho.

Ao G1, Romes disse que não foi notificado da conclusão do inquérito, mas que está “aberto a todo movimento que possa colaborar com a intenção de esclarecer dúvidas sobre o caso”. “Em especial, reafirmar meu compromisso com a ressignificação da minha conduta para não ter atitudes ruins no futuro”, disse.

Após o indiciamento, a reportagem também tentou contato com Vinícius, por mensagem enviada às 15h35, e aguarda retorno. À polícia, os dois alegaram que não tiveram a intenção de ofender Celsinho.

O meia do Londrina registrou boletim de ocorrência contra os jornalistas, na 2ª DP da cidade. O procedimento veio para a Polícia Civil de Goiás, no dia 5 de agosto. Na segunda-feira (13), o delegado do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri) concluiu o inquérito e o encaminhou para o Poder Judiciário nesta terça-feira (14).

“A Polícia Civil concluiu que ambos praticaram o crime de injúria racial com agravamento de pena, por terem feito comentários por um meio que facilitou a divulgação e também porque, depois, um dos autores postou no próprio twitter a transmissão do jogo, então, há agravamento pela divulgação”, disse.

Jogador de futebol Celsinho, meia campista do Londrina, que já jogou pelo Vila Nova — Foto: Londrina Esporte Clube / Divulgação

Segundo o delegado, os dois respondem em liberdade pelo crime e, se condenados, eles poderão cumprir de um a três anos de reclusão, podendo a pena ser triplicada devido aos agravamentos.

“Eles já prestaram depoimento, se retrataram, mas a injúria racial é um crime que ofende a honra, então, não cabe retratação. À polícia, eles disseram que em momento algum tiveram intenção de ofender”, disse.

Repúdio

Com a repercussão do caso, o Londrina Esporte Clube manifestou em nota repúdio às declarações, logo após o jogo. O clube afirmou que é “inadmissível e lamentável que tais comunicadores, formadores de opinião, propaguem atos de racismo”.

O meia já jogou pelo futebol goiano e defendeu o Vila Nova em campo, até março do ano passado.

Outro lado

A Rádio Bandeirantes disse em comunicado, à época do jogo, que repudia veementemente “qualquer ato que possua cunho ou menção racista a qualquer pessoa” e solicitou a imediata rescisão contratual dos jornalistas. Após o indiciamento dos profissionais, o G1 tenta novo contato com a rádio, por mensagem e ligação feitas às 15h40, e aguarda retorno.

Romes Xavier disse no dia 5 de agosto que respeita a decisão do clube e do atleta. Reforçou o que foi dito apenas por ele durante o jogo: “O cabelo dele deve pesar demais. É bonitão, é um black power, é um estilo, é um ritmo”. Em nota, o narrador reafirmou que não teve “a intenção de discriminar o jogador Celsinho”. “Lamento o ocorrido e estou tentando ser uma pessoa melhor todos dias”, declarou.

Já o comentarista esportivo Vinícius Silva disse que entrou em contato com Celsinho para pedir desculpas, logo após o jogo.

“Demonstro todo arrependimento pelo comentário infeliz referente ao atleta Celsinho. Peço desculpas a ele e sua família. Entrei em contato com Celsinho demonstrando todo remorso. A Rádio Bandeirantes é completamente contra essa postura e eu particularmente também sou”, escreveu.

+ sobre o tema

para lembrar

Ainda com dúvida de como agir em casos de racismo? Saiba aqui o que fazer

Diariamente recebemos através das nossas redes sociais mensagens de...

Mulher é presa por injúria racial em Montes Claros

Uma mulher, de 45 anos, foi presa por injúria...

Superando o racismo na escola

PREFÁCIO À 1a.  EDIÇÃO (1999) Ministro de Estado da Educação Por: Paulo...
spot_imgspot_img

O preço de pegar a contramão da história

O Brasil não é um país de iguais. Aqui tem pacto da branquitude, privilégio branco, colorismo, racismo, machismo e meritocracia aplicada de maneira assimétrica. Tudo...

Longevidade para poucos

A expectativa de vida de brasileiras e brasileiros voltou a aumentar, depois do par de anos de retrocesso em razão da pandemia, que matou...

‘O racismo editorial ajuda na manutenção das desigualdades no País’

O ato de contar uma história para pequerruchos é, antes de tudo, a vontade de interagir, de alcançar envolvimento com alguém tão (no meu...
-+=