`Kyrie eleison´ diante dos conflitos da Santa Sé e do Vaticano

AS FORÇAS OCULTAS QUE LEVARAM BENTO XVI À RENÚNCIA

Por: Fátima Oliveira

“Kyrie eleison”, que, em grego, quer dizer “Senhor, tende piedade”, é uma alocução penitencial, uma oração cristã, quase um mantra, usada em atos penitenciais desde as comunidades cristãs de Jerusalém, e integra liturgias das igrejas Católica Apostólica Romana, anglicana, ortodoxa e luterana, além de constar em um dos salmos penitenciais: o Salmo 51, conhecido por “Miserere” (“Miserere mei, Deus”/”Senhor, tende misericórdia de mim”).

Com mais de 2.000 anos no cenário religioso e político do mundo, a Igreja Católica Apostólica Romana detém experiência política invejável depois de 265 papas, cujo tratamento é Sua Santidade – figura sem similar no poder secular ou em qualquer outra religião, pois é cognominado Bispo de Roma, Vigário de Jesus Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Primaz da Itália, Arcebispo Metropolitano da Província Romana, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano e Servo dos Servos de Deus. Possui outros títulos não oficializados: Santo Padre, Beatíssimo Padre e Santíssimo Padre.

O papa simboliza um poder singularíssimo, mitológico e místico, que usa como achar conveniente, ora como religião, ora como Estado; logo, quando ele morre, o mundo fica de olho na fumaça da Capela Sistina. Muito mais pelo poder do qual se arvora do que por poder concreto: o desejo de impor seus dogmas a Estados laicos, como o Brasil, legislando sobre os corpos das mulheres de todo o mundo, como se proprietário deles fosse. Pura misoginia.

Aos 59 anos, lembro-me de “Sé vacante” e “Habemus papam” cinco vezes, de João XXIII (260º papa) a Bento XVI (264º papa) – eleito em 19.4.2005, renunciou em 28.2.2013 e é, hoje, o papa emérito Bento XVI, um prisioneiro do Vaticano. Negócios são negócios. Ele optou por ficar vivo.

Quando João XXIII morreu (1963), a notícia chegou pelo rádio. A “Sé vacante” era um período de rezas e entoação de benditos e ladainhas que culminava com explosões de alegria após a fumaça branca da Capela Sistina e o “Habemus papam” do cardeal carmelengo. Comoção igual, só com João Paulo I, cujo pontificado durou apenas 33 dias devido à sua morte, para a qual cogita-se a hipótese de assassinato pela mesma máfia católica e outras forças ocultas do Vaticano que levaram Bento XVI à renúncia…

Chama a atenção o fechamento em copas de católicos praticantes. Bem diferente da eleição de Bento XVI, quando havia esperança de um papa brasileiro, dom Cláudio Hummes. Parecia que a Seleção Brasileira estava em campo, pois o Vaticano e a Santa Sé ainda não haviam chegado ao fundo do poço da amoralidade, como hoje. A dita esquerda católica brasileira, completamente iludida, via possibilidades de mudanças no Estado teocrático e de banimento do fundamentalismo católico.

Sob o manto da pedofilia clerical e da lavagem de dinheiro no Banco do Vaticano, difícil defender tal mangue pútrido. Mesmo com possibilidades reais de um papa brasileiro, há um silêncio sepulcral. Falo de dom Odilo Pedro Scherer, cardeal brasileiro descendente de alemães, um dos três papáveis ungidos pelos cardeais alemães, inegavelmente fazedores de papas, no conclave que definirá o sucessor de Bento XVI. Cantei tal pedra e tuitei @DomOdiloScherer: “estão falando pelos becos que o cardeal dom Odilo Pedro…” (10h34, de 11.2) e “Dos cinco cardeais brasileiros para o conclave da Capela Sistina, só dom Odilo Pedro Scherer atende ao quesito idade ideal” (10h38, de 11.2). É esperar a fumaça branca, sem sonhos bons…

 

 

Fonte: O Tempo

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