Luiza Trajano começou a trabalhar na loja da tia aos 12 anos e transformou o Magazine Luiza em uma potência do varejo brasileiro/ Foto: Divulgação
O Caixeiro-viajante Pelegrino José Donato conheceu a balconista Luiza Trajano nos anos 1950. Os dois se casaram e compraram uma loja de móveis e eletrodomésticos chamada A Cristaleira na cidade de Franca, no interior de São Paulo. Com tino comercial apurado, dona Luiza promoveu um concurso de rádio para escolher um nome para rebatizar o estabelecimento. O escolhido foi: Magazine Luiza.
A loja se diferenciava das demais pelo atendimento e sua proprietária, Luiza, supervisionava as vendas e cuidava pessoalmente da pesquisa de mercado. Sua sobrinha, Luiza Helena Trajano, herdou não só o nome, mas também a visão de negócios da tia. Aos 12 anos, a menina começou a trabalhar como balconista na loja da família durante as férias e hoje é considerada uma das pessoas mais poderosas do país. A lista de prêmios tanto para a executiva, quanto para a rede é extensa.
Arrojada sem perder a simplicidade, Luiza Helena Trajano cuida da empresa como uma pequena empresária: conhece seus funcionários e conversa com seus clientes no dia a dia. Democrática, descentralizou o poder e transformou seus gerentes de loja em empreendedores. O respeito aos empregados e as decisões inovadoras são suas marcas registradas. Graças à sua ousadia, o Magazine Luiza foi uma das primeiras redes de varejo a abrir lojas virtuais no Brasil. A primeira Loja Eletrônica Luiza foi lançada em 1992, em uma época em que o acesso à internet ainda era bastante limitado no país.
De lá para cá, Luiza continuou a realizar ações ousadas e de impacto, como o lançamento simultâneo de 44 lojas na Grande São Paulo, em 2008. A empresária, aliás, não se contentou só com o mercado paulista e hoje o Magazine Luiza tem filiais espalhadas por Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Precisa e didática, Luiza compartilha sua visão de gestão e dá conselhos para quem quer “sair do seu quadrado” e inovar nos negócios.
A senhora trabalha na empresa desde os 12 anos e passou por várias funções. O empresário deve buscar conhecer seu negócio a fundo e desempenhar diversas funções para melhor administrá-lo?
É essencial conhecer bem o seu negócio. Não precisa necessariamente vivenciar todos os setores como ocorreu comigo, mas sim saber como eles funcionam. Escolher bem os líderes de cada setor e manter o diálogo sempre aberto, de forma que todos os colaboradores, independente de sua função, se sintam à vontade para dar sugestões.
Como é possível fazer a comunicação olho no olho de maneira eficaz?
Essa é uma das características do “Jeito Luiza de Ser”, que é como chamamos nossas diretrizes dentro da empresa. Nossos colaboradores são incentivados pelas lideranças a comunicar-se pessoalmente com seus pares e líderes, promovendo, assim, maior integração entre as equipes. Para que isso funcione, é preciso realmente colocar na prática o que incentivamos. Para se ter uma ideia, desde 1991, quando este conceito de “política de portas abertas” era novidade, nós derrubamos todas as paredes do escritório central e integramos todos os departamentos em um único espaço.
Como incentivar o empreendedorismo do funcionário para que ele se sinta parte da empresa?
Nossos gerentes de loja são verdadeiros empreendedores e respondem por praticamente tudo na loja. É como se fosse dele. Para isso, além de darmos todo o suporte, treinamento e assessoria necessária, possuímos diversas formas de remuneração e benefícios que incentivem o gerente e sua equipe a inovar e sentir a importância de sua contribuição para o sucesso da sua unidade.
O Magazine Luiza sempre está na lista das melhores empresas para trabalhar. Qual é a receita?
Novamente afirmo que é colocar em prática aquilo que a nos propusemos. Está no DNA do Magazine Luiza a valorização do ser humano e a empresa sempre busca dar suporte para a melhoria da qualidade de vida de seus colaboradores, capacitação técnica e meios para evolução pessoal para que todos tenham uma visão de mundo mais ampliada. Esse é o nosso principal diferencial e acredito que é justamente por isso que estamos há 16 anos consecutivos na lista das melhores empresas para se trabalhar do Instituto Great Place to Work.
Qual é o segredo para cativar os clientes das classes C e D?
Nós sempre atuamos junto às classes C e D por meio de lojas tradicionais, de rua. Em primeiro lugar, para cativar o cliente, seja ele de qualquer classe, é primordial atentar para o atendimento, daí o nosso slogan “vem ser feliz”. Queremos que, independente da classe social, nossos clientes tenham experiências memoráveis em nossas lojas. É preciso ser honesto com o cliente, passar credibilidade e, é claro, oferecer produtos de qualidade, bom preço e opções de crédito.
Quais conselhos a senhora daria para um empresário que está começando?
Eu diria que é importante buscar novos conhecimentos, tentar se aprimorar sempre, buscar inovação, enfim, que cada um saia de seu “quadrado” e nunca se acomode. Também é preciso estar sempre atento ao fluxo de caixa. Falta de lucro não quebra uma empresa, mas erro no fluxo de caixa pode derrubar qualquer companhia.