Manifestações de intolerância crescem no mundo, e aqui não é diferente

Mônica Francisco*

Esta semana continua fervendo com o calor típico do nosso Rio de Janeiro, mas notícias que chegam são mais quentes ainda. A capital da liberdade e da vanguarda, o símbolo do que há de mais agudo na civilização ocidental, no que se refere à democracia e à liberdade, está abalada pelo terror.

Penso que a liberdade de se dizer o que se pensa é um bem maravilhoso mas, não à toa, o livro dos provérbios de Salomão nos avisa de que a palavra dita a seu tempo, ou seja, de maneira oportuna, é como maçãs de ouro em salvas de prata.

Nossa liberdade de dizer o que pensamos deve vir aliada a pelo menos um pouco de bom senso. É claro que não se pode diminuir a terrível consequência dos atos em Paris, não.

Manifestações de intolerância no mundo inteiro vêm em um crescendo assustador. Aqui não é diferente, não achem isso. O ódio aos negros aqui é demonstrado de uma maneira mais refinada e eficaz na sua prática cotidiana, mas invisibilizada pela naturalização e a negativa do fato.

Ou será que é normal arrastar uma mulher negra por ruas da cidade, após assassiná-la, simplesmente por estar em um lugar onde se matar é tolerado, porque a geografia humana do local é composta por um grupo cujo fenótipo é socialmente atrelado a situações de crime e violência?

A intolerância aos mais pobres é trazida á tona quando eles saem dos seus lugares habituais e tentam acessar locais que “não” são para eles, como vimos no episódio dos rolezinhos ou em recentes comentários sobre a presença de pessoas da classe trabalhadora, ou nordestinos em aeroportos, por exemplo.

A vida é o maior bem, e deve ser respeitada. Mas sabemos que, há muito, as pessoas não têm tido ou mantido a devida medida de respeito pelo próximo, ou o não tão próximo.

As declarações de um famoso humorista, dando conta de que negros e gays estão muito exigentes no que se refere ao respeito às suas especificidades dão o tom.

Não é exigência por nada. Estamos caminhando para uma escalada perigosa em muitos os sentidos. Penso que, ou estamos chegando em um nível de desrespeito ao humano de uma maneira geral, que vai nos levar a ter de maneira dolorosa, ter que nos reciclarmos como seres humanos, ou então, a barbárie será a regra.

Estaria nosso contrato social expirando? Será que a guerra de todos contra todos será necessária para que algo melhor venha a emergir?

Não quero pagar para ver, o custo é muito alto.

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”–

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)

 

Fonte: Jornal do Brasil

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