Mateus Aleluia recebe título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Enviado por / FonteiBahia

Nascido e criado em Cachoeira, 'Sr. Mateus', como é conhecido, foi protagonista no grupo Tincoãs, considerado um dos primeiros a expressar a herança cultural dos povos africanos

O cantor, compositor e pesquisador da ancestralidade baiana musical pan-africana, Mateus Aleluia, recebeu na última quarta-feira (11) o título de Doutor Honoris Causa, concedido pelo Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Com transmissão ao vivo pela TV UFRB, o evento, que aconteceu no Auditório da PPGCI, Campus Cruz das Almas, reconheceu o artista pela atuação em prol das ciências, artes, filosofia, cultura e do desenvolvimento e entendimento dos povos.

Na justificativa dada ao CONSUNI para o reconhecimento dado a Mateus Aleluia como Doutor Honoris Causa, foi citado o trabalho feito pelo artista há anos para propagar a cultura pan-africana.

“O Título de Doutor Honoris Causa ao artista e pesquisador Mateus Aleluia se justifica pela sua contribuição aos estudos e divulgação da cultura pan-africana na Bahia, no Brasil e, também, em países africanos e no mundo. Ao compilar os elementos ancestrais das culturas e religiões das nações africanas trazidas para a Bahia e o Brasil, Mateus Aleluia mergulha de modo profundo no processo de construção da identidade do povo baiano, brasileiro e de nações africanas”.

Ao agradecer o título, Mateus Aleluia afirmou que ao descobrir que seria transformado em Doutor, nasceu de novo. O artista pediu licença para quebrar o protocolo e conversar com o público presente na solenidade.

“É possível a gente fazer a história, por mais controversa que ela seja. A situação que nós estamos hoje, estamos, mas nós vamos passar essa fase. Porque nós viemos para vencer. Nós trazemos conosco um peso, e uma responsabilidade de uma ancestralidade. Ancestralidade essa que nos move, que nos faz falar quando a gente quer ficar calado. As vezes não somos nós que queremos falar, mas nós somos cutucados. Os calundus se apossam de nós, passamos a ser outros. (…) Essa é a nossa realidade, de ver dentro de calundu. Esse é o mergulho que a gente dá quando se vai para o consultório da psicanálise. Fazer retorno de vidas? Não fazemos. Nós como oriundos da África fazemos sempre esse retorno. Advogamos o princípio de que todo culto vem dele próprio, agora a cultura vem do culto”.

YouTube video

Na conversa, Sr. Mateus ainda falou sobre como o culto às religiões transformaram a cultura baiana.

“Se não houvesse o culto, não haveria uma cultura. É através de um culto que nós nos disciplinamos para um comportamento de vida, para depois chamar de cultura. Se na Bahia nós temos toda essa cultura baiana, se tornamos a Bahia a terra da soberania e do dendê, isso porquê foi o culto que realmente deu a Bahia essa condição. Se não fosse o culto, que aqui nós chamamos de Candomblé, com suas comidas de santo, não teríamos uma gastronomia como essa que nós temos. Se não fosse o culto da igreja católica, não teríamos um culto tão Barroco como nós temos aqui na Bahia”, pontuou.

Sobre Mateus Aleluia

Nascido e criado em Cachoeira, ‘Sr. Mateus’, como é conhecido, foi protagonista no grupo Tincoãs, considerado um dos primeiros a expressar a herança cultural dos povos africanos.

O artista, que viveu por duas décadas em Angola, foi contratado pela Secretaria de Cultura me 1983 para fazer pesquisas antropológicas e culturais e trabalhou em álbuns de grande importância para a música, cultura e ancestralidade dos brasileiros, como “Cinco Sentidos”, “Fogueira Doce” e “Olorum”.

Entre as canções mais conhecidas de Mateus Aleluia estão ‘Cordeiro de Nanã’, que já foi regravada por diversos artistas e chegou a fazer parte da trilha sonora da novela Senhora do Destino, ‘Deixa a gira girar’ com Tincoãs, ‘Fogueira Doce’ e ‘Homem! O Animal Que Fala’.

Leia também:

Sueli Carneiro é primeira negra a ter título de honoris causa da UnB

+ sobre o tema

Unilab abre seleção para professor; remuneração é de R$ 8,6 mil

A vaga deste concurso é para o Setor de...

Lázaro Ramos fala sobre representatividade de negrxs e jovens na política

Lázaro Ramos fala sobre representatividade de negrxs e jovens...

90% dos analfabetos estão fora de cursos

Parelheiros, Campo Limpo e Capela do Socorro, bairros da...

A cor do preconceito – Resenha do Livro

A cor do preconceito reúne ficção baseada em fatos...

para lembrar

“Você não sabe nada sobre minha história” – Dois Africanos

Racismo faz africanos que moram na Paraiba ter vontade...

Gilberto Gil recebe Grand Prix Sacem 2013 em Paris

Artista na categoria Musiques du Monde (Músicas do...

Veja Andre 3000, do OutKast, interpretando Jimi Hendrix no primeiro vídeo de All Is By My Side

Rapper interpreta lendário guitarrista em cinebiografia dirigida por roteirista...

Leci Brandão: a sambista que comprou a briga da merenda em SP

História de vida levou deputada a construir seu mandato...
spot_imgspot_img

Em ‘Submundo’, Abdias Nascimento nos faz enxergar o Brasil atual

Quem acompanha a trajetória de Abdias Nascimento (1914-2011) pouco tem ideia dos percalços de sua vida antes de ele se tornar a grande liderança negra de...

Beyoncé canta Tina Turner em espetáculo futurista da nova turnê ‘Renaissance’

Numa performance brilhante, Beyoncé fez o primeiro de seus cinco shows em Londres nesta segunda-feira no estádio Tottenham Spurs, como parte de sua aguardada turnê "Renaissance", a...

Quem é o quilombola bailarino que inspirou filme com passos que vão do clássico ao contemporâneo

O preconceito é um dos principais males sociais com os quais os quilombolas de todo o Brasil têm convivido. Por isso, a trajetória de Kunta Leonardo,...
-+=