Figura relevante da cena cultural periférica, o poeta Daniel Marques da Silva morreu na segunda-feira (31), aos 28 anos. Ele foi fundador e integrante do sarau O Que Dizem os Umbigos”, do Itaim Paulista, bairro onde morava no extremo leste de São Paulo.
Daniel era músico jongueiro e percussionista de maracatu. Na área acadêmica, pesquisou a cultura da periferia. Ainda não há confirmação médica sobre a causa da morte. O enterro foi realizado no Cemitério da Saudade, em São Miguel Paulista, na manhã desta quarta-feira (2).
A morte provocou comoção entre os artistas e coletivos culturais de toda a cidade. “Não temos palavras para expressar a dor da perda de nosso amigo e companheiro Daniel Marques. São muitas lembranças, trampos realizados juntos, momentos e energias trocadas. Que os amigos e familiares possam encontrar conforto nesse momento tão doído”, publicou em nota o Coletivo Periferia Invisível, em sua página numa rede social.
O Coletivo Cultural Ermelino Matarazzo também divulgou nota. “Hoje não iremos levantar nossa voz pra lutar pelos diretos que nos são negados por gestores e gestões (…) vá em paz, Daniel Marques”.
A Secretaria de Cultura também manifestou “solidariedade aos familiares e amigos neste momento tão difícil”, e ressaltou o papel do artista na ampliação das políticas culturais na zona leste.
A questão política sempre estava presente em suas obras; temas como acesso à moradia, violência e racismo eram frequentemente mencionados. O artista chegou a participar dos debates pela aprovação da Lei de Fomento às Periferias, e da ocupação da Funarte (Fundação Nacional das Artes) em 2010. Neste ano, esteve envolvido ativamente nas manifestações contra o congelamento de verbas municipais para a área da cultura.
Vários amigos de Daniel deixaram recados em sua página pessoal. A maioria relembrou poemas de sua autoria e vídeos de suas apresentações.
A correspondente da Agência Mural, Lívia Lima, de Artur Alvim, relembrou a reação ao vê-lo no programa “Manos e Minas”, da TV Cultura. “Como fiquei feliz. Como me senti representada em sua fala, em sua imagem na TV, em sua mensagem sempre combativa. Seu sorriso e brilho no olhar eram inspiradores, suas palavras nos fortaleciam. Surpresa feliz ver na TV aquele que encontrei tantas vezes em saraus e ‘slams’ em toda a cidade.”
Ela se lembra de situações cotidianas, como a saída apressada de apresentações para garantir que não perdessem o último metrô para a zona leste. “São lembranças que guardarei desse poeta luz, que agora brilha lá no alto.”
“Quebrador de paradigmas, em voz alta, ele dizia que cada um poderia viver como quiser. Lutou contra injustiças, discriminações e preconceitos. A dor de perder um irmão da luta já bateu em nossa maloca algumas vezes e hoje não é diferente, nossa casa está mais triste, o artista de olhar brilhante nos deixa para fazer do céu teu palco”, disse Sheyla Melo, do coletivo Arte Maloqueira.
Raphael Preto, 22, é correspondente da Vila Guilherme
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