Foram 54 homicídios de jovens negros e 11 de brancos, em 2013.
Dados constam de pesquisa sobre violência contra crianças e adolescentes.
O número de adolescentes negros e pardos, entre 16 e 17 anos, assassinados em Mato Grosso no ano de 2013 foi quatro vezes maior do que em relação à quantidade de adolescentes brancos mortos no mesmo período. No período em questão foram registrados 54 homicídios de negros e pardos e 11 de brancos. Os dados constam do relatório Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil, elaborado pelo sociólogo e coordenador do Mapa da Violência, Julio Jacobo Waiselfisz.
Esse número de assassinatos representa 63,3 casos de mortes de negros a cada 100 mil habitantes. Entre os brancos, são 29,7 casos a cada 100 mil habitantes. O chamado índice de vitimização, ou seja, a proporcionalidade dos assassinatos em relação às respectivas populações étnicas, relata que morreram 113% a mais de negros do que brancos.
Levando em consideração crianças e adolescentes até 17 anos, o número de negros assassinados também é maior. São 21 mortes de brancos e 77 de negros. Esse número representa 7,4 casos de brancos mortos a cada 100 mil habitantes e 12,4 de negros também na mesma proporção. Neste caso geral o índice de vitimização representa 67,5%.
Apesar dos números de assassinatos de crianças e adolescentes negros serem maiores, o estado tem a quarta maior taxa de homicídios de jovens brancos do Brasil. A proporção de 7,4 mortes de brancos a cada 100 mil habitantes deixa Mato Grosso atrás somente do Paraná (10,7), Espírito Santo (9,4) e Amapá (9,1).
Levando-se em consideração a taxa de negros mortos, até 17 anos, que é de 12,4 mortes a cada 100 mil habitantes, o estado está na 14º colocação no país. Quando analisada a vitimização, Mato Grosso é o sexto estado com a menor taxa.
Racismo
De acordo com Jamil Amorim de Queiróz, policial militar aposentado e pesquisador da área de educação, os números da pesquisa que mostram a discrepância da morte de negros são espelhados em várias áreas da sociedade brasileira.
“Se a gente olhar a questão carcerária também veremos números parecidos com esse. Tudo isso, na verdade, é uma das faces ideológicas do racismo. E como esse problema está em todas as partes, ele aparece na segurança pública também. É uma questão enraizada, infelizmente”, comentou.
O pesquisador, que teve como tema de sua dissertação “Práticas de abordagens operacionais no contexto das relações etnicorraciais: desafios para a formação policial militar”, diz que não é difícil identificar situações em que o preconceito é evidenciado na área policial.
“Se o suspeito for negro e estiver usando um chinelo, por exemplo, ele já é tratado de forma diferente. E essa, aliás, é a principal imagem do suspeito aos olhos dos policiais e da sociedade”, disse.
Jamil, que trabalhou durante 30 anos como policial militar, argumentou que acredita que a melhora desse panorama começa na identificação e na discussão dessas situações. Justamente pelo tempo em que contribuiu com a segurança pública, ele defende mudanças na polícia.
“Precisamos discutir a integração das discussões dos direitos humanos, do racismo e do preconceito de gênero na formação do policial. São todas questões que não podemos negligenciar. A nossa vivência nos mostra que existem problemas que precisam ser sanados”, explicou.
Brasil
Segundo o relatório, uma das preocupações em nível nacional é que os assassinatos de jovens brancos caíram e os de negros aumentaram durante os anos de 2003 e 2013. A pesquisa mostra que em 2003 o índice de vitimização negra era de cerca de 70% e que em 2013 esse número subiu para 178%, ou seja, mais que duplicou.
O ano de 2013 registrou, em todos os estados brasileiros, 1.127 assassinatos de crianças e jovens brancos e 4.064 de negros. Setecentos e três (62,4%) dos brancos e 2.737 (67,3%) dos negros tinham entre 16 e 17 anos quando foram mortos. A taxa de vitimização nessa faixa etária foi de 173,6%.
O levantamento aponta ainda que em 2013 foram assassinadas em todo o país 10.520 crianças e adolescentes. Esse número representa aproximadamente 29 vítimas por dia. Nesse conjunto total de mortes estão incluídas as categorias indígena, amarelo e ainda os registros de homicídios de jovens e crianças sem identificação de raça/cor.