Esta crônica é dedicada preferencialmente aos nascidos na era digital. Aqueles que quase nunca – ou nunca mesmo – manusearam folhas de um jornal. De tão distantes, talvez nem os percebam nas bancas de jornal. Estas, aliás, também estão se transformando em varejo de balas, energéticos, chaveiros e mil quinquilharias coloridas.
Outro dia uma amiga, nascida na era analógica, pediu que eu prestasse atenção nas mãos da garotada. Ela disse: “Repare como os dedos são frágeis, finos, compridos. Deve ser de tanto tocar e teclar. Polegares mutantes.” Descontando a ironia da amiga, alguma verdade ronda aí.
Eu sei que a garotada, como seus antepassados, continua vidrada em informações. O verbo goolgar, em breve, constará do indispensável VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado sob responsabilidade de acadêmicos que tomam chá vestidos em fardões com detalhes dourados.
Mas um jornal não é mero suporte – feito de papel e tinta. Nasceu e cresceu coroando uma tremenda conquista: a popularização da escrita e mais tarde da fotografia. Também importantes na fiscalização de governos e na luta ideológica. Sempre houve jornais de esquerda, de direita, de centro. Alguns honestos, outros safadinhos.
No Rio de Janeiro da minha infância e adolescência, Jornal do Brasil (morto em 2010) e O Globo (dos mesmos donos da Rede Globo) eram lidos por leitores bem delineados. Gente mais à esquerda lia o JB e nem tocava no Globo. Já o pessoal mais satisfeito com os governos militares, lia O Globo e desprezava o rival.
Historinha hoje inimaginável. O pessoal da idade digital parece estar nem aí com os crivos ideológicos. Não vejo ninguém defendendo um Portal em detrimento de outro. Talvez isso seja muito bom! Pois a experiência mostra que nada de útil veio das polarizações políticas. Mas perdeu-se em paixão.
Uma memória de meu pai ecoa em mim. Em 1964, morando em Aquidauana, no pantanal mato-grossense, os jornais do Rio e São Paulo vinham de trem toda manhã. Para garantir seu exemplar, ele acordava junto com o sol e corria disparado para a estação. Ávido para tocar no papel e ler as manchetes. Qual internet consegue isso?
Fonte: Yahoo