Mulher só ganha mais que homem quando ela é branca e ele é negro

Brasileiras recebem 27% a menos do que eles; e negros ganham 73,88% abaixo dos brancos

Por Queila Ariadne, Do O Tempo

Imagem de uma mão mexendo em um notebook
No mercado de trabalho brasileiro, mulher branca ganha, em média, 35% a mais que homem negro (Foto: Pixabay)

A brasileira ganha, em média, 27% a menos do que o homem. A diferença é histórica, mas não é uma unanimidade. A partir de recortes da base de dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE), existe uma única situação em que ela recebe mais do que ele: a mulher branca tem um rendimento médio 35% maior do que o do homem negro. Quando essa comparação é invertida, a mulher negra recebe menos da metade (R$ 1.394) do que um homem branco (R$ 3.138).

No contexto racial, os brancos, em geral, ganham 73,88% a mais do que os pretos e pardos. Isoladas, as estatísticas poderiam indicar que o peso do racismo na desigualdade salarial é o dobro em relação ao machismo. Entretanto, existem muitos outros fatores por trás dos números que impedem uma conclusão simplificada. “Não podemos hierarquizar essas opressões, pois é muito difícil falar que uma discriminação é maior do que outra. Você vai encontrar alguns homens negros ganhando mais do que mulheres brancas, e, quando a gente olha a questão da diferença de renda, a escolaridade tem um peso muito importante”, explica a pesquisadora da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Luana Simões.

Na avaliação dela, de modo geral, tanto o preconceito de gênero como o de raça no mercado de trabalho são fortes. “O que acontece é que, ao longo dos anos, as mulheres, de uma forma geral, conseguiram avançar mais nos estudos do que os homens. É uma das explicações para a mulher branca ganhar mais do que o homem negro”, ressalta Luana.

Pelos dados da Pnad, as brancas estudam, em média, 11,3 anos, contra 10,1 anos dos brancos. Entre os pretos e pardos, o índice cai para 9,7 entre as mulheres e 8,3 entre os homens.

De acordo com a pesquisadora da Fundação João Pinheiro (FJP) Nícia Raies, não é possível dizer que o racismo é maior do que o machismo. “Na verdade, os dois estão interconectados e, juntos, geram resultados muito negativos. O que acontece é que as mulheres avançaram mais no sistema de ensino, e, por vários motivos, inclusive culturais, aconteceu o contrário com o homem negro”, avalia.

Nícia destaca ainda que, mesmo estudando mais, as mulheres ainda sofrem discriminação na hora de promoções e, como têm mais dificuldade de ocupar cargos de chefia, acabam ganhando salários menores, apesar de serem mais escolarizadas do que eles.

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